Trump e o aquecimento global
Reinaldo Dias
A ameaça que emergiu da recente eleição norte-americana pairou sobre a Conferência do Clima (COP22) realizada em Marrakech, encerrada no último dia 18 de novembro. Isto ocorreu devido às polêmicas declarações sobre o aquecimento global do presidente eleito Donald Trump, que afirmou que o conceito “foi criado por e para os chineses, para que a indústria manufatureira não seja competitiva” e completou dizendo que “Nova York está congelante, está nevando. Nós precisamos do aquecimento global”.
Durante a campanha eleitoral Trump afirmou que retiraria os Estados Unidos do Acordo de Paris, que já foi ratificado por mais de 100 países e entrou em vigor no último dia 04 de novembro. A ratificação do acordo em prazo recorde constitui um dos maiores avanços da humanidade no combate às mudanças climáticas.
A escolha de integrantes de sua equipe de transição parece confirmar as promessas de campanha e contribui para aumentar a preocupação quanto aos desdobramentos para o acordo climático. Para tratar as questões energéticas e ambientais, Trump indicou o lobista da indústria de combustíveis fósseis, Myron Ebell, reconhecido cético da teoria predominante sobre o aquecimento global.
O senhor Ebell faz parte de um grupo de intelectuais denominado Cooler Heads Coalition (Coalizão de cabeças frias, em tradução literal), financiado pela indústria de petróleo para combater o que qualificam de exageros acerca das mudanças climáticas. Além disso Ebell é diretor da organização conservadora Competitive Enterprise Institute formada também por céticos em relação ao aquecimento do planeta.
No mesmo momento em que estes fatos decorrentes da eleição norte-americana ocorriam, a COP22, no dia 8 de novembro divulgou dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) demonstrando que os últimos cinco anos foram os mais quentes dos registrados. Isto implica num aumento do nível do mar devido à inesperada rapidez no derretimento da camada de gelo polar. Atualmente o gelo do oceano ártico dos últimos cinco anos está 28% menor que a média dos 29 anos anteriores. Segundo a OMM as temperaturas se aproximam perigosamente da meta estabelecida na COP21.
São esses dados irrefutáveis e comprovados por várias agências internacionais e mesmo norte-americanas, como a Agencia Espacial (NASA) e a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), que os seguidores de Trump não aceitam e pretendem combater.
Mesmo a hipótese de não retirada imediata dos Estados Unidos da discussão sobre mudanças climáticas pode ser problemática, pois a tendência é que os representantes do futuro governo dos Estados Unidos emperrem a continuidade das pesquisas e do debate, bloqueando as iniciativas que até agora propiciaram avanços importantes e ajudaram a construir uma unanimidade internacional nunca antes observada.
Por outro lado, há um aspecto que pode ser considerado. As posições radicais do grupo liderado por Trump poderão fazer com que aumente a coesão dos demais países, fortalecendo posições contrárias aos céticos do aquecimento global. Esse movimento já começou e fez sua primeira aparição na COP22, que se encerrou em meados de novembro. Houve uma forte e unanime reação dos países contra as ameaças de retrocesso no acordo e repudio às ameaças vindas do presidente eleito.
O documento final da 22ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP22) constitui uma resposta aos céticos. Foi definido um plano de ação para implantar e monitorar o Acordo de Paris até dezembro de 2018, e de forma enfática se reiterou que o “clima global está esquentando em um nível alarmante e sem precedentes e a comunidade internacional tem o dever urgente de responder".
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