Novo indicador de reserva financeira mostra que 62% dos brasileiros não guardam dinheiro, diz SPC Brasil e CNDL
Entre os poupadores, média reservada foi de R$ 481. Maior parte busca proteger-se contra doenças e desemprego. Poupança é o principal destino da reserva, mas 20% ainda guardam dinheiro em casa
O indicador mostra que há diferenças entre classes sociais, como esperado: nas classes A e B, os poupadores habituais, independentemente de o valor ser fixo ou não, somaram 58% dos entrevistados; já nas classes C, D e E somaram 30%. Segundo o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro, o brasileiro não tem o hábito de poupar e, quando poupa, na maioria das vezes a poupança é o que sobra do orçamento, e não algo planejado. “A formação de uma reserva de dinheiro é um tópico fundamental para o equilíbrio das finanças pessoais, mas tende a ser negligenciada por boa parte dos consumidores. A consequência disso é que, se deparados com um acontecimento imprevisto, muitos acabam inadimplentes”, afirma Pellizzaro.
46% precisaram usar sua reserva financeira em dezembro
Os entrevistados também foram questionados sobre a poupança que fizeram no mês anterior à pesquisa. O indicador mostra que, em dezembro, expressivos 75% não conseguiram reservar nada de sua renda, contra 23% que conseguiram. A diferença entre as classes também aparece aqui: nas classes A e B, o percentual de poupadores foi de 36%, enquanto nas classes C, D e E foi de 19%. Entre os poupadores, guardou-se, em média, a quantia de R$ 480,85 no mês.
“É notável que a maioria dos brasileiros não reservou parte de seu dinheiro em dezembro, inclusive quem pertence a classes de alta renda. A crise econômica certamente tem seu papel no resultado da baixa poupança. Com o crescimento do desemprego, o orçamento familiar tornou-se mais apertado e, em alguns casos, insuficiente até para honrar compromissos já assumidos”, explica Pellizzaro. “Também pesa o fato de a renda média do brasileiro que mantiveram seus empregos ainda ser baixa, independentemente da crise.”
Segundo o presidente, as menções ao pagamento de contas são claro sintoma do aperto orçamentário das famílias. De acordo com os dados, mesmo entre os poupadores habituais, 46% precisaram dispor de sua reserva financeira em dezembro. Os principais motivos foram o pagamento de dívidas (13%), despesas extras (11%), de contas da casa (12%), imprevistos (4%) e também o consumo (8%).
O levantamento ainda mostra que a maior parte dos poupadores busca, ao fazer uma reserva, proteger-se contra imprevistos como doenças, morte de entes (43%) ou mesmo o desemprego (31%). Há também 27% que poupam pensando em garantir um futuro melhor para a família e 24% que poupam com vistas à realização de um sonho de consumo - 23% citam os planos de viajar e 18% mencionam a compra ou quitação da casa.
A reserva financeira com foco na aposentadoria foi citada apenas por 17% dos entrevistados. “É um percentual bastante baixo, já que estamos considerando apenas a realidade dos poupadores”, indica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “A longo prazo, a falta de preparo cobra seu preço. Sem constituir uma reserva ao longo da vida, muitos idosos são obrigados a rever seu padrão de consumo ou acabam na dependência de terceiros. Em tempos de discussão sobre a reforma das regras de aposentadoria, o tema torna-se ainda mais urgente.”
Poupança é o principal destino da reserva, mas 20% ainda guardam dinheiro em casa
O indicador revela que o principal destino do dinheiro reservado ainda é a caderneta de poupança, citada por 62% dos entrevistados que fazem reserva. Também chama a atenção o fato de que 20% dos poupadores guardam dinheiro em casa. Os fundos de investimento foram mencionados por 10% e a Previdência Privada por 6%. A lista segue com outras opções de investimento em renda fixa e com a Bolsa de Valores, mas todos citados por menos de 5% desses entrevistados.
“Como se nota, a carteira de investimento do poupador brasileiro é bastante conservadora. Cultivar o hábito de reservar dinheiro é um passo importante, mas o consumidor deve considerar o retorno financeiro”, aconselha Kawauti. “Se o investidor opta por uma aplicação de menor rendimento quando há outros que oferecem retornos maiores, é como se ele estivesse perdendo dinheiro. Nos últimos anos, quem optou pela poupança, teve parte de seu dinheiro corroído pela inflação ou, no máximo, alcançou um rendimento real muito baixo”, segundo a economista. “No caso de quem manteve o dinheiro em casa, as perdas foram ainda maiores”, conclui.
Metodologia
A pesquisa abrangeu 12 capitais das cinco regiões brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 801 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.
Baixe a análise do Indicador de Reserva Financeira no link:
https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/indices-economicos
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