Controle de nematoides fitoparasitos: rotação de culturas é uma das indicações
“Nematoides fitoparasitos em soja” foi o tema da palestra do pesquisador Guilherme Lafourcade Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste, no dia 8 de julho. O tema fez parte do evento “Manejo Integrado de Pragas de Soja e Milho”, realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Milho e Sorgo e Jotabasso.
Segundo Asmus, nematoides podem ser
bacteriófagos, com a cavidade bucal adaptada para ingerir bactérias; micófagos,
que se alimentam de fungos, e existem os onívoros e predadores que se alimentam
de vários pequenos organismos do solo.
Os mais importantes são os nematoides
fitoparasitos, que alimentam-se das raízes das plantas. Nematoides
fitoparasitos são vermes microscópicos que habitam a água do solo, sendo poucos
os casos de nematoides aéreos. Todo nematoide fitoparasito, tem a cavidade
bucal transformada em estilite. É com ele que o fitoparasito se alimenta nas
raízes das plantas.
“Todos os nematoides fitoparasitos são
parasitos obrigatórios, que precisam de plantas hospedeiras para se
multiplicarem”, declarou o pesquisador. Para que os danos ocorram, existe a
necessidade de três fatores atuarem em conjunto: presença dos nematoides,
plantas suscetíveis, hospedeiras e ambiente favorável.
Principais espécies da soja: Meloydogine
javanica e M. incognita, ambos incitam a formação de galhas nas
raízes. Heterodera glycines, chamado comumente de nematoide de cisto,
visto que, ao morrerem, as fêmeas dão origem aos cistos, cheio de ovos. Rotylenchulus
reniforme (reniforme) e Pratylenchus brachyurus (provoca lesões escuras
nas raízes resultando no apodrecimento das raízes) – é o único que fica interno
nas raízes, por isso as necrosa.
Em condições normais de lavoura, na
presença de uma cultura suscetível, a densidade populacional do nematoide
aumenta, vindo a decair com o final do ciclo da cultura e entressafra. No
entanto com o plantio continuado, sequencial, de culturas suscetíveis a
densidade populacional dos nematoides mantém-se em crescimento podendo causar
danos às plantas. “Importante saber que plantas tolerantes podem não expressar
sintomas ou danos, porém permitem a multiplicação do nematoide”, explica Asmus.
Devido a uma demanda dos técnicos da
Jotabasso, o pesquisador Asmus detalhou dois nematoides: nematoide-de-cisto e
nematoide das lesões radiculares.
Nematoide-de-cisto – Heterodera
glycines
As plantas ficas amarelecidas e
enfezadas. É comum o crescimento de plantas daninhas devido à exposição do solo
à luz solar. As reboleiras são muito grandes. A doença causada é chamada de
nanismo amarelo da soja.
Nas raízes observam-se pequenos pontos
branco brilhante ou amarelados, que são as fêmeas do nematoide. Findo o período
de vida do nematoide, as fêmeas se transformam em cistos, muito resistentes,
cheios de ovos. Em regiões de clima frio, podem sobreviver por até 11 anos no
solo.
Asmus contou que, quando surgiu no
Brasil, o nematoide-de-cisto causou muitos problemas, principalmente no Brasil
Central, “mas a Ciência encontrou soluções”. Porém, atualmente, estão
acontecendo ressurgências e esse nematoide está roubando a produtividade da
soja. em locais como MT e Nordeste de MS. “Por que ele voltou? Um dos motivos é
a cultura do milho ter migrado de cultura de verão para cultura de outono. Logo
que apareceu, a recomendação era rotacionar a soja com o milho, que é uma
planta resistente. As populações diminuíram no solo. Mas, com o tempo, o milho
passou a ser plantado em sucessão à soja; perdeu-se a rotação.
Para mostrar como a rotação é
importante, pesquisas foram realizadas com rotação de culturas com milho, cana,
brachiaria e algodão. Após 1 ano de rotação, em média, houve redução de cerca
70% do número de cistos viáveis no solo.
Cistos se degradam devido ao ataque de
fungos no solo. E a presença de matéria orgânica no solo aumenta a quantidade
de fungos.
Outra causa da alta densidade
populacional é a pouca rotação de variedades com resistência.
As raças prevalentes no mundo inteiro
são a 1 e 3. Mas no Brasil temos um número enorme de raças. Logo depois da
ocorrência do nematoide de cisto, a pesquisa se mobilizou. A grande maioria de
variedades lançadas tinham resistência a raça 3. Com isso, acabou-se exercendo
no tempo a seleção às demais raças que começaram a aumentar progressivamente.
2,4 e 14 são as mais frequentes. Temos 25% das variedades de soja com resistência
a nematoide de cisto, porém a grande maioria resistentes apenas às raças 1 e 3.
Poucas variedades no mercado têm resistência a 2, 4 e 14.
Para diminuir a pressão de seleção sobre
raças é preciso voltar com a soja suscetível a cada dois anos e manter a rotação
para que a população do nematoide permaneça baixa.
Manejo inadequado do solo: pH alto do
solo aumenta a multiplicação de nematoide de cisto, além de diminuir a
disponibilidade de micronutrientes, acentuando os sintomas.
Adicionalmente, em condições de altos valores de pH haverá menor atividade de
fungos do solo, que são os principais inimigos naturais do nematoide de cisto.
Valores de saturação de base por volta de 50% são os mais adequados para
minimizar os problemas com o nematoide.
A presença do cisto, entre 1 e 3 por 100
cm3 de solo, já pode ser suficiente para causar danos. Mesmo com o esse
aparentemente baixo nível populacional baixa, o nematoide já estará “roubando”
produtividade da soja.
Nematoide das lesões radiculares – Pratylenchus
brachyurus
Taxa de multiplicação inicial mais
lenta. Sintomas em parte área ocorre mais comumente a partir da floração. As
raízes ficam necrosadas. Quando a infestação é muito alta, o sistema radicular
fica extremamente empobrecido.
Penetra e permanece na raiz em toda sua
fase da vida.
Até 2003, tinha importância secundária.
Até que em 2003, houve o primeiro registro de perdas, com altas populações, em
MT. E hoje voltou a chamar a atenção no campo.
Passou a ser um problema na sucessão
soja – milho safrinha. O milho é altamente suscetível e a soja também. Já a Crotalaria
spectabilis é altamente resistente.
Inexistência de variedades resistentes
de soja. Temos mais tolerantes, que aguentam, mas ainda permitem a
multiplicação de nematoides.
Manejo inadequado do solo: solos
arenosos são mais suscetíveis, compactação do solo, déficit hídrico,
deficiência nutricional, excesso ou falta de calcário.
Mais frequente no Cerrado, Solos
médio-arenosos, muitos hospedeiros, altas populações em raízes da soja.
As braquiárias multiplicam nematoides,
umas mais outras menos, em quantidadeds diferenciadas, dependendo da espécie.
Mas seu benefício é grande, ela aporta matéria orgânica, aumenta a
macroporosidade, entre outros aspectos que devem ser levados em consideração.
O milheto é uma estratégia para controle
de Pratylenchus na primavera, antes do plantio da soja. “Se a população
for muito alta, entra com a crotalária no verão, em rotação. No outono, quando
a população é baixa”, indica o pesquisador.
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