Pressão por vaga no Enem e vestibulares pode prejudicar saúde mental e física dos estudantes, alerta especialista
Psicóloga aponta caminhos para que estudantes
cuidem do bem-estar físico e mental na hora de conquistar uma vaga no ensino
superior
Estudantes se preparam para ingressar no ensino
superior
Divulgação/Istockphoto
São Paulo, novembro de 2021 - Uma das fases mais
complexas da vida ocorre entre o fim da adolescência e a o início da fase
adulta. Esse período é de escolhas importantes que poderão definir os rumos de
uma vida toda. Tudo começa pela escolha da profissão, e para chegar
lá é preciso estudar e muito. Os períodos que antecedem o vestibular e o Enem
são cruciais para dar início ao tão sonhado diploma. Mas a pressão interna,
familiar e social para essa vitória, associada à pandemia da Covid-19, podem
desencadear transtornos mentais como ansiedade, angústia e até a Síndrome de
Burnout.
Para Eliziane Jacqueline dos
Santos, doutora em Saúde Coletiva, psicóloga, pesquisadora com ênfase em
Políticas Públicas e Direitos Sociais e coordenadora do curso de Tecnologia em
Gestão Hospitalar da Faculdade Santa Marcelina, essa transição exige muita
conversa e uma rede de apoio com familiares e amigos, organização em relação ao
tempo dedicado aos estudos, sem deixar de lado cuidados com a
alimentação, sono e atividades culturais e esportivas: “Esse
entendimento é importante para lidar com a ansiedade e a autocobrança, e a
sensação de amparo é crucial nessa fase de preparação”.
A busca pela aprovação nos vestibulares
pode se tornar um problema quando passa a ser exagerada como destaca a psicóloga: "A
cobrança vem no sentido de dar satisfação aos demais atores sociais. E é nessa
pressão que acabam por adoecer. Além disso, temos os pesos das provas por
áreas, que indicam o quanto esses jovens precisam se dedicar para uma aprovação
imediata entre outras rotinas que não gerenciadas consomem o tempo e levam
o indivíduo ao esgotamento mental”.
Geralmente, as provas exigem solução de
problemas e diálogo com a realidade, cálculos, capacidade de organização das
ideias e síntese, boa escrita, interpretação de textos, leitura cuidadosa, que
de certa forma, envolvem o bom uso das funções mentais superiores, que são
atenção, sensação, percepção, memória, pensamento, linguagem, emoção e
orientação: “Organizar todas essas funções para atender num espaço de
tempo é um grande desafio e o jovem, na maioria dos casos, sentirá ansiedade,
reações psicossomáticas, alterações de sono e humor, além do receio voltado ao
desempenho abaixo do esperado, uma vez que ele precisa dar essa satisfação
social”, exemplifica a especialista.
Além de enfrentar horas de estudo,
ansiedade e organização para a conquista de uma vaga numa renomada
universidade, os estudantes precisam agora lidar com as consequências da
pandemia da Covid-19. “Ela tirou o contato do jovem com o seu
grupo social e a interação por plataformas virtuais em excesso contribui para o
confinamento e quebra dos laços sociais. Em alguns casos, os jovens não veem
outras alternativas do que ficarem 24 horas dentro da sua casa, somado aos
demais fatores que precisa se adaptar para se concentrar, como barulhos,
convivência com demais pessoas, falta de espaço para estudar, e conseguir o
desempenho esperado nos exames”, ressalta.
Lazer e cultura
antes das provas
Primeiro, pelo
menos, dois dias antes da prova pode ser importante parar e
dar um tempo. Aquilo que se aprendeu e assimilou em longos períodos
de estudo não deverá mudar com uma memória temporária, no sentido de
decorar. Então, ir ao cinema, realizar um esporte, participar de eventos sociais
para “desligar” contribuem para amenizar a ansiedade e o cansaço: “As atividades
de lazer são essenciais para oxigenar essa pressão e ajudam a preparar o corpo
para atender às exigências das provas. Dormir e se alimentar adequadamente
também faz parte do controle do corpo e da mente, para que se sinta
psicologicamente e fisicamente preparado”.
Pressão mental
x estresse mental
A profissional de saúde explica que a
pressão mental é um alerta que envolve os aspectos relacionados aos excessos de
exigência externos e a forma como os indivíduos lidam com tais exigências,
ocasionando a chamada fadiga psicológica e que alteram as funções cognitivas
importantes, bem como o estado emocional dos indivíduos, de modo que passa a
sentir cansaço e dificuldades na realização de tarefas cotidianas: “A pressão
mental é também confundida com o estresse mental, quese relaciona a
estados emocionais provenientes da reação pessoal dos indivíduos frente a
mudanças significativas em suas vidas. Como estamos falando dos jovens, tal
mudança é o vestibular e a escolha da profissão”.
Eliziane aponta
que o esgotamento mental é decorrente da sobrecarga de funções e pela
dificuldade em executá-las por conta da pressão em atingir
metas em curto prazo, falta de autonomia e de reconhecimento dos esforços,
excesso de competição, desconfiança, insatisfação, infelicidade, relacionamento
com pessoas exigentes e controladoras, somadas às características do acúmulo de
tarefas que o indivíduo não consegue gerenciar.
No caso dos estudantes, ele se associa
ao excesso de tempo que se dedica aos estudos e a cobrança interna, os quais,
se não administrados, podem desencadear a Síndrome de Burnout. “De acordo com
dados da American Psychiatric Association (2018) os transtornos
mentais são caracterizados como condições de saúde que envolvem mudanças na
emoção, pensamento e comportamento (ou a combinação destes), sendo associados
ao sofrimento e/ou problemas na realização de atividades sociais, familiares e
no trabalho”.
Quando procurar
ajuda médica
Para o jovem estudante, a vida social e
familiar fica comprometida quando tem que conciliar extensos períodos de
estímulo intelectual, como estudo e pesquisas escolares/universitárias, falta
de exercícios, problemas no sono e alimentação e ausência de lazer e outras
atividades que o façam desligar desses fatores.
Na ocorrência de sintomas como
ansiedade, humor deprimido, tristeza, irritabilidade, cansaço excessivo,
problemas com sono, dificuldade de concentração e memória, pressão no peito, o
correto é procurar ajuda médica e psicológica, a fim de tratar o mais rápido
possível esses sintomas. A observação das mudanças de comportamento dos filhos
é um auxílio muito importante por parte dos pais, pois contribui para a
manutenção da qualidade de vida e da saúde mental do adolescente e jovem.
Dar tempo ao tempo é uma forma de
compreender quando o resultado não foi o esperado, ou seja, a tal vaga não foi
conquistada afirma a especialista: “O jovem precisa entender que nem sempre
será 100% em tudo e que tal reconhecimento faz parte da natureza humana.
Entender que o resultado esperado não era satisfatório e aprender com os
erros. Uma nova retomada é um processo que envolve também o apoio
familiar. Procurar ajuda psicoterápica para analisar suas questões pessoais e
as exigências do meio é o caminho que permite essa revisão de valores e
ressignificação das experiências”, finaliza
a doutora.
Sobre a Faculdade Santa
Marcelina
A Faculdade Santa Marcelina é uma instituição mantida pela Associação Santa Marcelina – ASM, fundada em 1º de janeiro de 1915 como entidade filantrópica. Desde o início, os princípios de orientação, formação e educação da juventude foram os alicerces do trabalho das Irmãs Marcelinas. Em São Paulo, as unidades de ensino superior iniciaram seus trabalhos nos bairros de Perdizes, em 1929, e Itaquera, em 1999. Para os estudantes é oferecida toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento intelectual e social, formando profissionais em cursos de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu). Na unidade Perdizes os cursos oferecidos são: Música, Licenciatura em Música, Artes Visuais, Licenciatura em Artes Plásticas e Moda. Já na unidade Itaquera são oferecidas graduações em Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Estética e Cosmética.
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