Psicanalistas dizem que o filme Hypnotic, da Netflix, é uma ficção que destoa a realidade da hipnose e pode prejudicar a imagem desses profissionais
Nova série da
plataforma de streaming chama a atenção por seu conteúdo, mas traz uma versão
equivocada do assunto, alertam especialistas.
Fabiano de Abreu/Jennifer
de Paula / MF Press Global
Nova produção de
sucesso do Netflix, o filme Hypnotic chegou à plataforma no último dia 27 de
outubro, provocando muita curiosidade sobre a prática da Hipnose Clínica. É
importante lembrar que grandes nomes da Psicologia e Psicoterapia submeteram-se
à sua prática, seja para consumo próprio bem como para desenvolver suas
habilidades e colaborar no processo terapêutico de seus pacientes. Dentre eles
se destacam nomes como Freud, Jung, Erickson, Drouot, Wambach, Woolger, Assagioli,
Wilber, em meio a tantos outros.
Porém, toda hipnose
parte da auto hipnose, portanto é preciso que a pessoa deseje ser hipnotizado,
Segundo a psicóloga, neuropsicóloga, mestre em psicanálise e doutoranda em
neurociência pela Logos University International, Leninha Wagner, “se o seu paciente não deseja,
além de antiético você efetivamente não irá conseguir”. Além disso, no filme
Hypnotic, por exemplo, há “licença poética”, como toda obra de ficção. “Usa-se
fatos reais como fio condutor de uma realidade paralela”, acrescenta.
Segundo a
neuropsicóloga, “a hipnose clínica utiliza a teoria das ondas cerebrais, e há
ainda muito a ser descoberto. Porém já sabemos que a hipnose é um estado
alterado de consciência, uma forma de se sentir a si mesmo e uma outra forma de
ver e compreender os outros e o mundo. É um acesso terapêutico dos mais antigos, que
provoca mudanças físicas e psicológicas, no comportamento e na capacidade de
percepção”.
Leninha destaca o que o
uso prático da hipnose contempla: “Desejo de parar de fumar, controle da dor,
cuidados paliativos, transtornos alimentares, distúrbio do sono, entre outros.
É uma prática segura e que traz muitos benefícios. Mas que não guarda
similaridade com o filme mencionado, no sentido de controle da mente a ponto da
pessoa perder o controle de si, executando através de ‘gatilhos mentais’,
ordens que serão obedecidas cegamente, isso definitivamente é mito”. Para a
neuropsicóloga, “a produção, como atividade de lazer é super recomendado, mas
que não seja tomada como verdade, apenas como fonte recreativa”.
Complementando essa
opinião, o PhD, neurocientista, mestre em psicanálise com formações em
neuropsicologia e psicologia, Dr. Fabiano de Abreu, acredita que o filme não
está de acordo com a realidade. “Nós temos o controle de nós mesmos, a depender
da capacidade para este controle. Nosso córtex pré-frontal, que é a região da
tomada de decisões, orquestra este controle a depender do sistema límbico,
local onde se administram as emoções e a personalidade do indivíduo. São
nuances que determinam a capacidade do controle da própria mente. Mesmo assim,
não há indivíduo que esteja tão afetado a ponto de não conseguir este
autocontrole. Inclusive, algumas características são ‘impossíveis’ de serem
hipnotizadas."
Fabiano lembra também
que "o controle da própria mente está na capacidade de conseguir controlar
as emoções, mediante a inteligência emocional e esta depende de conexões entre
a área frontal e temporal do cérebro. Inúmeros fatores interferem, entre eles,
a inteligência de priori genética".
"Nem todas as pessoas têm discernimento sobre a realidade do que é mostrado no filme, até porque a maioria não tem conhecimento em hipnose, o que é normal, já que é um sistema complexo que se aprende em psicanálise. Isso pode levar a uma crença errada sobre a hipnose, assim como a imagem dos profissionais. Não sou contrário a filmes de ficção, acho-os maravilhosos pois eleva a imaginação. Mas deve-se ter uma mensagem a dizer que aquilo não é real”, completa o neurocientista.
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