Aprender a dialogar é a lição mais urgente na escola e fora dela
Márcia Azevedo*
O mundo passa por
transformações em diferentes âmbitos. No campo do trabalho, as relações e o
consumo demandam ações de pessoas que compreendam a sociedade complexa na qual
estão inseridas. A educação, importante meio para a formação desses atores
sociais, como reza o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, deve,
necessariamente, visar ao pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o
exercício da cidadania.
Dessa forma, cabe à
educação formal preparar os jovens para atuarem na sociedade em que vivem local
e globalmente. Assim, as informações trabalhadas para geração de conhecimento
devem fazer sentido para seus sujeitos, considerando seus contextos, histórias
e crenças, estabelecendo um diálogo intercultural, possibilitando a compreensão
entre de todos os envolvidos.
Sem a abertura para
esse diálogo em rede, corremos o risco de termos uma população sem conhecimento,
ainda que com muito acesso à informação, sem capacidade para construção social,
ainda que conectados virtualmente. Havemos de considerar também que, nesta
sociedade da informação, o valor está no aprender a aprender, portanto, a
pesquisa é o princípio educativo primordial, capaz de selecionar informações
fundamentadas, relevantes e passíveis de aplicabilidade, de acordo com as
necessidades específicas individuais e coletivas.
Cabe ao ensino
formal promover o diálogo entre o local e o global, entre o individual e
o coletivo, considerando as culturas sem dispensar a compreensão dos
procedimentos que produzem o conhecimento científico, fundamentado em
evidências práticas e verificáveis, baseadas na observação sistemática e
controlada.
As competências
desenvolvidas durante os 13 anos da educação básica necessitam desenvolver a
pessoa, o cidadão e o construtor social como um ser único. Por isso, ciência,
arte e cultura constituem-se como dimensões intrínsecas no processo educativo;
como partes constitutivas da pessoa que vive conforme suas informações,
conhecimentos, valores e crenças. Os processos formativos que desconsiderarem
uma dessas dimensões correrão o risco do iminente fracasso.
Aprender a dialogar
parece ser a lição mais urgente a se ensinar na escola (e fora dela). Diálogo
entre áreas do conhecimento, entre disciplinas, entre gestores, entre gestores
e docentes, entre docentes, entre todas essas esferas e estudantes. Talvez,
assim meninas e meninos tenham a oportunidade de exercitarem, não só o debate,
mas na construção de propostas que considerem todos os envolvidos, investindo,
de fato, na constituição de uma sociedade equânime em conhecimento e
oportunidades.
*Márcia Azevedo é pesquisadora e colaboradora na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Membro da Cátedra de Educação Básica Alfredo Bosi do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenadora Pedagógica no Colégio Espírito Santo (SP).
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