JANEIRO BRANCO | A saúde da mente é uma questão coletiva, não individual!
Precisamos falar e ouvir mais, até que a saúde
da mente vire parte do dia a dia das pessoas. Esse é um dos nossos lemas, aqui
do Bem do Estar! E nada melhor que iniciar o ano com o Janeiro Branco 2022 - um
mês dedicado à conscientização sobre saúde da mente. A organização preparou um
conteúdo especial, com artigos, vídeos, podcasts, entrevistas e reflexões,
desenvolvido pelos colunistas voluntários: especialistas de diversas áreas e
pessoas que passaram ou passam por questões de saúde da mente. O tema deste ano
será A saúde da mente é uma questão coletiva e não apenas individual. Por
Isabel Marçal
Chegamos
em 2022, dois anos de pandemia – mais de 700 dias de incertezas, mudanças
constantes, fortes questões políticas e socioeconômicas. Na prática, uma grande
avalanche de emoções em um período que nos fez perceber na pele o quanto
negligenciamos a saúde da mente há muito tempo. Mais do que a constatação, uma
pergunta persiste: a saúde da mente é uma questão coletiva ou somente
individual? Essa é uma reflexão social muito importante; anos antes da pandemia
da Covid-19, já era possível enxergar os reflexos da vida moderna na saúde mental
da humanidade, em especial de nós brasileiros.
Um relatório da Organização Mundial da
Saúde de 2017 apontava que 322 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com
depressão, a maioria mulheres. E que um a cada três seres humanos convive com
distúrbios relacionados à ansiedade. Este mesmo relatório alertava para o fato
de o Brasil ser o campeão mundial em casos de ansiedade e o primeiro em
ocorrências de depressão da América Latina. Na prática, ocupamos postos em um ranking muito preocupante!
Há aproximadamente 40 anos, os
manicômios ainda eram estabelecidos no Brasil, onde pacientes eram internados
por tempo indeterminado e submetidos a práticas desumanas. Por incrível que
pareça, as práticas terapêuticas manicomiais voltaram a ser utilizadas e, desde
2019, são frequentes, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS), e respaldadas
por movimentos políticos, mostrando que ainda estamos longe de torná-las
inexistentes; por isso, ressalto a importância de movimentos como a luta
antimanicomial.
O
reconhecimento da relevância da saúde da mente para a vida da humanidade é
evidenciado pela sua inclusão como parte da agenda dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). A agenda promovida pela Organização das
Nações Unidas em 2015 apresenta explicitamente em seu Objetivo 3.4 os
compromissos de reduzir a mortalidade por doenças não transmissíveis através da
prevenção e tratamento e promover a saúde mental e o bem-estar. Em 2018, foi
lançado o Movimento de Saúde Mental Global, no qual as ações têm contribuído
para qualificar a dimensão da negligência global dos efeitos sociais dos
transtornos mentais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), diversos fatores podem colocar em risco a saúde da mente dos indivíduos;
entre eles, rápidas mudanças sociais, condições de trabalho estressantes,
discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável,
violência e violação dos direitos humanos. A promoção da saúde da mente envolve
ações que permitam às pessoas adotar e manter estilos de vida saudáveis, tendo
em vista os principais fatos citados abaixo:
- A saúde da mente é mais do que
a ausência de transtornos mentais.
- A saúde da mente é uma parte
integrante da saúde; na verdade, não há saúde sem saúde mental.
- A saúde da mente é determinada
por uma série de fatores socioeconômicos, biológicos e ambientais.
- Estratégias e intervenções de
saúde pública e intersetoriais são de extrema importância para promover,
proteger e restaurar a saúde mental.
Nesta base, a promoção, proteção e
restauração da saúde mental podem ser consideradas como uma preocupação vital
dos indivíduos, das comunidades e sociedades em todo o mundo. A cada ano, os
baixos níveis de informação e a falta de acesso a tratamentos para depressão e
ansiedade levam a uma perda econômica global estimada em mais de um trilhão de
dólares, segundo a OMS. O estigma associado a esses transtornos da mente também
permanece elevado.
Nós, do Instituto Bem do Estar,
acreditamos que a saúde da mente é algo que deve ser falado, compartilhado e
debatido por todas as pessoas – até que vire parte do cotidiano. Com este
objetivo, nossas ações englobam conscientizar, conectar e mobilizar as pessoas
sobre a saúde da mente. Afinal, a saúde da mente é uma questão coletiva e não
apenas individual e que deve ser vista por um olhar sistêmico. Seja bem-vindo
ao Janeiro Branco de 2022,
mês da conscientização à saúde da mente! Acesse: www.bemdoestar.org/janeiro-branco-2022.
Isabel Marçal é especialista em gestão de projetos
sociais, com 15 anos de experiência no setor de Impacto Social e está cursando
psicanálise. Apaixonada pela vida, pelos seres humanos e suas relações, ela
sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o
primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano.
Atualmente é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar.
Sobre o Instituto Bem do Estar | Fundado em 2018 por Isabel Marçal e Milena Fanucchi, o Instituto Bem do Estar é um negócio social sem fins lucrativos voltado à promoção da saúde da mente. Com o propósito de desafiar as pessoas a mudar o próprio comportamento em relação à saúde da mente, a organização colabora com a prevenção de doenças psicológicas e contribui para uma sociedade mais consciente e saudável. Para tal, possui três frentes de atuação, que visam à transformação social necessária a uma sociedade que está em falência emocional. No pilar CONSCIENTIZAR, informa a população sobre os cuidados para uma saúde da mente de qualidade, estimulando a busca pelo autoconhecimento e o despertar da empatia por meio de conteúdo digital, campanhas de conscientização e mostras e exposições culturais. Em CONECTAR, promove experiências do cuidado com a mente, proporcionando ferramentas que contribuem com o desenvolvimento socioemocional individual e coletivo por meio de atividades práticas, como vivências, workshops e palestras, além da divulgação de locais de atendimento terapêutico gratuitos ou por contribuição consciente. Em MOBILIZAR, entende o contexto sobre saúde da mente e o impacto na sociedade, gerando estatísticas e articulando agentes públicos e privados, visando ao acesso a políticas públicas via pesquisas e práticas de advocacy. www.bemdoestar.org
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