Construção do futuro: alguns subsídios para o próximo mandato presidencial
Durante o processo eleitoral de 2022, deverá haver intensos debates e controvérsias em torno dos programas de governo dos candidatos à Presidência da República. Participei desses debates nas últimas eleições, elaborando análises e propondo alternativas de soluções para os problemas socioeconômicos e socioambientais do País.
Neste documento, busquei dar uma
contribuição para as equipes dos candidatos que estarão, ao longo de 2022,
organizando as ideias e as diretrizes das políticas, programas e projetos que
esses candidatos apresentarão aos eleitores de todo o País e de suas regiões.
Mais do que ideias de ajustes na atual política econômica, proponho mudanças de
rumo nesta política. As sugestões incluem o período entre a eleição e a posse
do candidato e não apenas as ações programáticas durante todo o mandato.
O futuro Presidente da República deverá
enfrentar a boa luta para reconstruir um Brasil interrompido. Uma luta que será
permeada de tensões e conflitos políticos que parecem ser incontroláveis ao
longo de todo o seu mandato. Diante dos gigantescos desafios de reconstrução
das políticas públicas visando a erradicar a miséria da população, a reduzir as
desigualdades sociais da renda e da riqueza nacional, a atenuar os
desequilíbrios regionais de desenvolvimento e a promover a conservação, a
preservação e a reabilitação dos ecossistemas, o Presidente precisará resistir
para não assumir uma postura negacionista do estilo neomalthusiano.
O negacionismo serve para explicar o
comportamento de um grupo de pessoas que opta, voluntariamente ou sob a forte
influência de alguma liderança política ou comunitária, por não acreditar em
uma informação, apesar da informação conter um consenso consolidado nos meios
acadêmicos e científicos.
Esse comportamento negacionista pode se
incrustar em todos os setores da gestão de um governo, nas mais diferentes
políticas públicas. A ideia predominante na atual política econômica, a do modelo
de austeridade fiscal expansionista, como a trajetória única e dominante para
resgatar o Brasil da crise de baixo crescimento, é negacionista no sentido de
acreditar que não há alternativas a serem concebidas e implementadas para o
mesmo objetivo.
No entanto, é possível destacar algumas
controvérsias sobre a retomada do crescimento dentro do atual modelo de
equilíbrio fiscal expansionista. A partir desse modelo, imagina-se que o ajuste
é uma condição necessária e suficiente para restabelecer a confiança dos
agentes econômicos, mobilizando as energias e as expectativas de consumidores e
empreendedores numa trajetória de crescimento.
Na verdade, o escopo central das ações
programáticas do novo mandato presidencial deverá superar as mazelas e os
dramas da crise social e da crise ambiental que assolam o bem-estar social
sustentável da população brasileira.
Complementarmente à crise social,
escancarada no ciclo da pandemia, emerge a crise ambiental do uso predatório
dos nossos ecossistemas, que vem desde o ciclo do pau-brasil e da mineração de
ouro e de diamante no Período Colonial, até os processos atuais de intensos
desmatamentos na Amazônia e no Pantanal, sem contar os desastres ambientais
localizados.
Feitas as análises dos impactos
econômicos, sociais e ambientais dos desastres ecológicos, não é possível
comparar a sua importância relativa em termos econômicos e financeiros quando é
preciso atribuir valor a ativos ambientais únicos e, principalmente, valor às
vidas dos que foram atingidos pelos desastres, uma vez que, como dizia Blaise
Pascal, quase sempre o que tem preço pode não ter valor e o que tem valor pode
não ter preço.
*Paulo Haddad é Membro do conselho consultivo no Instituto Fórum do Futuro. Economista, com especialização em Planejamento Econômico no Instituto de Estudos Sociais de Haia – Holanda, Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, ex-Ministro da Fazenda e do Planejamento. Presidente da PHORUM Consultoria e Pesquisas em Economia e Diretor da AERI – Análise Econômica Regional e Internacional.
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