A decisão do IPI, um acerto!!
José Velloso*
A decisão do governo federal de reduzir em 25% a alíquota do IPI foi corajosa
pois mexeu com problemas antigos. O IPI, imposto que nunca deveria ter
existido, só existe no Brasil e é muito injusto. Injusto com os mais pobres
pois é regressivo (tributa mais os pobres), injusto com a indústria pois é o
único setor que é tributado e injusto com o Brasil pois trabalha contra a
agregação de valor em nosso país.
O IPI inibe o empreendedorismo e desestimula quem quer gerar
empregos e renda de maior valor. Muito injusto com o consumidor brasileiro de
baixa renda pois encarece bens manufaturados incluindo bens de primeira
necessidade.
O ministro Paulo Guedes foi corajoso pois nunca ninguém teve
coragem de mexer neste “vespeiro”.
Por que vespeiro?
Porque mexe na arrecadação de estados e municípios que levam 60%
da arrecadação e vespeiro porque diminui vantagem de diferencial de tributação
da Zona França de Manaus (ZFM). Desde 1988 que quando alguém fala em mexer no
IPI muitos se levantam dizendo vários motivos do porquê ser “politicamente
impossível” reduzir sua alíquota ou acabar com esse tributo.
Nem de longe somos contra a existência da ZFM. No entanto seus
incentivos deveriam ser explícitos e fazer parte do orçamento da União de forma
transparente e pública. Sua obrigatoriedade e regras deveriam estar na
Constituição. É equivocada a forma como acontece hoje. O IPI elevado prejudica
o desenvolvimento da indústria dos demais estados da União.
É pública a rotina do Ministro Paulo Guedes em dialogar com os
setores produtivos. O ministro tem conversado muito com vários setores. Nesta
rotina, mensalmente o ministro, desde novembro de 2018, tem se reunido com um
pequeno grupo de entidades setoriais, a “Coalizão Indústria” (a Abimaq faz
parte desde sua criação), sem prejuízo de sua interlocução com outros setores,
inclusive da própria indústria. Ele é muito aberto ao diálogo.
A Reforma Tributária sempre teve espaço em nossas pautas.
Defendemos a simplificação tributária com o fim dos impostos sobre consumo
atuais (IPI, Pis, Cofins, ICMS e ISS) sendo substituídos pelo IVA (Imposto
sobre Valor Agregado). Não é objetivo detalhar este tema (do “IVA”) neste
texto. Defendemos a PEC 110 como uma solução muito melhor do que a realidade
que temos hoje.
É uma realidade e de conhecimento da sociedade a dificuldade em se
evoluir com esta reforma. Existem conflitos, e o tema, que é prioritário para
todos, não evolui no Poder Legislativo. “Está empacado” desde 2019. Na verdade,
poderíamos dizer que empacou desde 1999 quando a Comissão Especial de Reforma
Tributária da época apresentou seu relatório na Câmara Federal que nunca foi
votado.
Voltando aos dias atuais, a arrecadação tributária cresceu
bastante no Brasil em todos os níveis. Federal, estadual e municipal desde
2020! Em nossas reuniões com o ministro ele externou sua preocupação com o
aumento “real” da arrecadação. Nestas reuniões outro tema que convergimos com o
ministro é nossa vontade de “reindustrializar” o país.
Elegemos algumas prioridades para 2022. O IPI foi colocado no topo
da lista por ser um de imposto de competência da União e possuir como função
principal o caráter de “extra fiscalidade”, devendo ser seletivo e ponderado em
função da “essencialidade” do produto, ou seja, de sua necessidade à população.
Não deveria ser um imposto arrecadatório. Deveria ser um tributo seletivo para
inibir o consumo de bens com externalidades negativas como fumo e bebidas
alcoólicas. No entanto, com o passar dos anos a “sanha” arrecadatória dos entes
da federação o transformou em tributo vital nos orçamentos.
Como é de competência da União, ele pode ser reduzido por decisão
isolada do poder executivo federal e assim foi feito.
Em nossa última reunião o ministro afirmou... “Vamos transformar o
aumento de arrecadação em redução do IPI”... O ministro foi apoiado!
A redução da alíquota do IPI é muito importante pois é o “ponta pé
inicial” da correção de um grande erro. Como já mencionado, além dos tributos
sobre consumo como PIS, Cofins, ICMS e ISS, o Brasil onera a agregação de valor
de manufaturados quando aplica o IPI penalizando quem quer empreender no país.
Também penaliza quem quer consumir. É injusto pois é cobrado igualmente de
pobres e ricos (regressivo). Tira competitividade do setor produtivo e encarece
manufaturados.
A indústria apoia a medida!! Parabéns, Ministro Paulo Guedes!!!
No entanto temos que reconhecer que por si só a redução deste
tributo perverso não soluciona nossos graves problemas de assimetria
competitiva com as empresas que produzem nos países da OCDE. Diminui, mas não
elimina o Custo Brasil. O que solucionaria o problema definitivamente, em
termos de tributos sobre consumo, seria a aprovação e promulgação da PEC 110.
Está correta a afirmação de que a medida faz parte da
reindustrialização do Brasil.
Portanto, além de apoiar ações como esta, vamos continuar a
trabalhar pela PEC 110 e pela redução de todas as outras assimetrias que temos
com nossos concorrentes do exterior. São muitos os temas, mas podemos destacar
o Crédito, demais tributos além do consumo, custos trabalhistas, insegurança
jurídica etc.
Vamos em frente. Um degrau de cada vez!!…
*José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da ABIMAQ
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