Como a guerra entre Rússia e Ucrânia pode prejudicar a economia brasileira?
Carlos Henrique Canesin, professor de Relações
Internacionais do UDF, explica os perigos que o Brasil pode sofrer e quais
medidas de prevenção a nação brasileira deve tomar;
Distrito Federal, 17 de março de 2022 – Os Estados Unidos e a União Europeia, já
colocaram em prática as sanções contra a Rússia, com a finalidade de frearem os
ataques na Ucrânia. As medidas de contenção são instaladas a favor da paz,
porém, uma guerra sempre deixa sequelas e as consequências não afetam apenas os
russos, e sim diversos países de todo o globo, entre eles o Brasil.
Segundo o professor do curso de Relações
Internacionais do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, Dr. Carlos
Henrique Canesin, apenas em 2021, as exportações brasileiras para a Rússia
atingiram cerca de USD 1,7 bilhões, concentrando-se em produtos agrícolas como
soja, carnes de frango e bovinas, amendoim, café e açúcar. Já nas importações,
no ano passado, o país importou USD 5,6 bilhões da Rússia, dos quais 60% (USD
3,5 bilhões), eram em fertilizantes.
Para o professor, além dos adubos, são
de extrema importância para o Brasil as importações de energia, como carvão, e
petróleo, que juntos representam 16%, e de insumos industriais, como ligas
metálicas. Portanto, o país sofrerá impactos nos setores agrícolas e energéticos,
que por serem básicos na economia, causarão impactos negativos para os
consumidores de forma potencialmente ampla.
“Os mercados de commodities globais, já
estão sofrendo os efeitos do conflito, tendo em vista que a Rússia é um dos
maiores fornecedores de petróleo, gás e fertilizantes para o mercado
internacional, dessa forma, o impacto sobre a economia brasileira não é apenas
direto e derivado da relação Brasil-Rússia, mas também indireto, em
consequência da posição russa nos mercados globais”, explica.
O especialista ressalta que a escalada
das sanções à Rússia, pode gerar recordes de preços internacionais de energia e
fertilizantes, impactando as cadeias globais de valor e não só o mercado
doméstico brasileiro, mas também a competitividade do Brasil nos mercados
internacionais.
De acordo com o professor do UDF, no
caso dos combustíveis, embora a importação de petróleo responda por apenas 6%
do volume total no país, o setor é altamente interdependente com o restante do
mundo e o Brasil exportou cerca de 48% de sua produção, principalmente para a
China, com isso, a elevação dos preços internacionais pode trazer grandes
impactos sobre os preços e o fornecimento doméstico do insumo, sem a
possibilidade de descartar problemas de suprimento do mercado interno devido à
elevação do preço e da demanda internacional.
Já na questão dos alimentos, a Rússia
responde em média por aproximadamente 23% das importações de fertilizantes no
Brasil, sendo virtualmente o único fornecedor de nitrogenados. “Considerando que
o país é dependente destas importações para um setor agrícola moderno e
altamente intensivo em insumos, seguramente teremos um impacto negativo nos
preços finais devido à elevação do custo de produção”, comenta.
O internacionalista ressalta que pode
acontecer uma pressão inflacionária sobre o setor, em razão da redução da
oferta internacional de alimentos e elevação dos preços, tendo em vista que
países europeus já começaram a impor bloqueios de exportação de grãos e
principalmente de trigo.
“Este efeito negativo deverá perdurar no
curto a médio prazo, mesmo a despeito de estratégias para acalmar o problema,
como: a diversificação dos fornecedores internacionais e fomento da produção
doméstica, já que os preços no mercado internacional foram igualmente afetados
e a produção doméstica é de maior custo, exigindo um nível elevado de
investimentos para ser viabilizada”, afirma.
Como o Brasil pode se prevenir?
Carlos Henrique ressalta que a posição
política adotada pelo Brasil no cenário internacional, aumenta os riscos de
potenciais parceiros internacionais fazerem negócios com o país, já que
empresas e até o próprio governo, estão sujeitos a enfrentarem uma deterioração
de suas credibilidades, estabilidade econômica e solvência em função dos
impactos diretos da crise, de forma a elevar o risco de fazerem negócios.
Para Carlos, existe também a chance de
que instituições privadas e o governo brasileiro, sejam alvos de sanções ou
boicotes privados internacionais em função de eventualmente manterem negócios
com a Rússia e Belarus, não aderindo às sanções impostas pela comunidade
internacional.
“A curto prazo não tem muito o que ser
feito adicionalmente às medidas que vem sendo adotadas, como a diversificação
de fornecedores de fertilizantes, incentivo a racionalização e melhor
eficiência dos sistemas produtivos agrícolas. No entanto, uma medida prudente
seria evitar elevar o risco da reputação do país e de suas empresas, atuando na
política internacional de forma mais alinhada à comunidade internacional, em
face dos potenciais impactos adversos sobre a nação”, explica.
O docente do UDF complementa que a nação
brasileira precisa aumentar o investimento em pesquisas agrícolas para elevar
ainda mais a eficiência dos sistemas produtivos e reduzir a dependência de
insumos importados.
Investimentos em infraestrutura e na
produção doméstica de insumos também são cruciais para assegurar a segurança
alimentar do país no longo prazo. “No setor de energia, é preciso modernização
e políticas públicas efetivas que auxiliem o país a dar passos mais rápidos
rumo a uma transição energética, com programas voltados não apenas para
diversificação de fontes na geração de energia, mas também em geração
distribuída, plantas fotovoltaicas residenciais e eletrificação da frota de
automóveis”, finaliza.
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