Crise dos insumos agrícolas já afeta safra 2022/23 e pode ser agravada devido aos impactos dos conflitos na Europa
Especialistas em informações do mercado
agrícola avaliam o cenário de insumos nos últimos meses e apontam
desdobramentos futuros
Valinhos (SP), março de 2022 - A crise dos insumos agrícolas já
afeta a safra 2022/23 e uma possível intensificação dos problemas é motivo de
preocupação para o agronegócio brasileiro. Isso se deve ao fato de que boa
parte das matérias-primas que compõem fertilizantes e defensivos agrícolas
utilizados em território nacional são importadas da China, Rússia e Índia. Por
sua vez, esses países vêm enfrentando obstáculos para manter o ritmo de
produção, além de estarem limitando os embarques pela necessidade de priorizar
o abastecimento local. Além disso, as rupturas na cadeia de suprimentos, a
inflação e os custos de produção da atividade, em patamares cada vez mais
elevados, devem aumentar ainda mais em consequência do conflito entre Rússia e
Ucrânia no Leste Europeu.
Dr. Bob Fairclough, Especialista em
Tendências Globais da Kynetec, empresa de pesquisa de mercado especializada em
saúde animal e agricultura, destaca que os produtores de todo o mundo estão
percebendo que há um desafio na cadeia de suprimentos e que nem sempre poderão
contar com insumos que desejam e na época mais adequada. “O problema é mais
agudo nas Américas, mas o novo cenário internacional pode trazer reflexos mais
intensos também em outras localidades”, alerta.
Fairclough pontua que atualmente nos EUA
os estoques podem ser considerados baixos, especialmente para herbicidas à base
de glifosato, glufosinato, dicamba, 2,4-D e atrazina; e para os inseticidas
bifentrina e lambda-cialotrina. Já no Canadá, há registros da falta de
glifosato. No Brasil, por sua vez, os produtores relatam o desabastecimento de
atrazina, diquat e cada vez mais de glifosato. Fora das Américas, embora os
níveis de estoque estejam mais baixos que o usual, ainda não há uma situação de
desabastecimento que acarretaria em uma crise de insumos.
No entanto, Camila Guimarães que lidera
a área de negócios Crop Subscription da Kynetec Brasil, afirma que o cenário
internacional é desafiador para o agronegócio brasileiro, considerando não
somente o desabastecimento, mas também a alta dos preços. Isso porque os
insumos agrícolas, a depender do cultivo, podem representar até 60% do custo de
produção atualmente e, sendo o país tão dependente das importações, é
fortemente impactado pela oferta restrita e elevação de preços. Este cenário
reflete mudanças no comportamento de adoção dos agricultores no ciclo 2022/23,
além de desafiar as margens da atividade no campo. “Mais do que nunca a palavra
eficiência operacional deverá fazer parte do agronegócio brasileiro. Todos que
atuam na cadeia agro, passando por indústrias de insumos, canais de
distribuição, produção agrícola e tradings, devem buscar melhoria de
processos”, diz Camila Guimarães.
Desta forma, para se manter como
importante mercado produtor de alimentos e gerador de riqueza, o agronegócio
brasileiro deverá se reinventar, buscando aumentar a capacidade local de
produção de fertilizantes, além de um uso mais inteligente dos insumos
agrícolas.
Alguns dados sobre o momento - Dados levantados pela Kynetec revelam
diferentes nuances sobre a situação. No caso dos fertilizantes de solo, a
oferta está limitada globalmente, na atual safra, devido às crises energéticas
tanto na Ásia quanto Europa, reduzindo as cotas de exportação. Outro agravante
é a falta de containers que ainda repercute nos preços dos fretes marítimos.
Entre o janeiro de 2021 e janeiro de 2022, os preços em reais por tonelada de
alguns desses insumos, como MAP, KCl e Ureia, aumentaram acima de 140%, como
mostram dados de levantamento no MT da CONAB, com risco de crescimento futuro.
No caso dos defensivos, o preço de importação de diversas moléculas como
glifosato, acefato, atrazina, malathion está mais caro pela falta de
suprimentos, com um acréscimo em reais que foi de 13,0 a 77,1%, entre janeiro e
outubro de 2021, para acefato e glifosato, respectivamente (de acordo com
estudo e consolidação da Kynetec, com base em informações de ComexStat, Cogo e
desk research). Assim, com o aumento nos custos desses insumos, espera-se um
maior custo de produção para as indústrias sementeiras, o que deve ser
repassado ao agricultor. Com a alta da inflação neste cenário, espera-se uma
evolução de preços das sementes ao redor de 20,0 a 25,0%.
O custo de produção dos itens de
nutrição vegetal também sofreu um reajuste intenso, considerando a limitação de
oferta e preços de algumas de suas matérias-primas. No entanto, apenas parte
desse valor deve ser repassado para a ponta durante a temporada 2022/23,
sinalizando um aumento de preços na ordem de 20%.
Já os biodefensivos devem sofrer menor
impacto. Com a produção concentrada na indústria nacional e local, e domínio
dos players sobre o suprimento de micro e macro-organismos, espera-se um menor
aumento de preços frente a outros mercados. A variação deverá ser fruto do
aumento de inflação e da demanda mais aquecida pelos bioprodutos,
principalmente aqueles com potencial de substituição parcial dos químicos.
A Líder de Crop Subscription da Kynetec
Brasil enfatiza ainda que as turbulências no cenário internacional, em especial
relacionadas ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, podem agravar a crise
global de insumos agrícola e elevar ainda mais esses números. “O acesso ao
petróleo e ao gás natural da região da Ucrânia certamente será afetado por uma
indisponibilidade temporária ou permanente. E além do petróleo, trigo e milho
já registram forte alta em suas cotações, uma vez que a região é importante
produtora e exportadora dessas commodities e uma possível redução de oferta reajusta
os preços para cima. Há também importantes plantas de fertilizantes na região,
que provavelmente terão sua produção afetada. Rússia e Belarus respondem por
aproximadamente um quarto dos fertilizantes importados pelo Brasil, o que traz
um risco direto e imediato para o Agro nacional”, completa.
Possíveis soluções – A longo prazo, não há dúvidas de que o
agronegócio brasileiro tem tecnologia para implementar técnicas que
possibilitem substituir, ao menos parcialmente, insumos químicos por orgânicos
e organominerais, diminuindo a dependência das importações. No entanto, a curto
prazo, a solução não é tão simples.
Camila Guimarães explica que em algumas
classes de insumos, como biodefensivos, fertilizantes foliares e
biofertilizantes, a indústria nacional tem condições de se adaptar e suprir
mais fortemente a demanda. Isso porque são produtos que contam com participação
maior de matérias-primas de origem nacional, alguns até com matriz de produção
100% local. “Mas é preciso ter em mente que quanto mais complexo é o produto,
mais complexa é sua cadeia de suprimentos, envolvendo matérias-primas de
diferentes regiões do mundo. Neste cenário, a maioria dos insumos agrícolas
está em cadeias globais, por conta da disponibilidade de minérios e gás
natural, por exemplo”, detalha. “Isso reforça nossa visão sobre o possível
redirecionamento de produtores rurais brasileiros em busca de fontes locais de
nutrição ou de técnicas de manejo que visem o uso mais inteligente de insumos”,
finaliza.
Sobre a Kynetec – A Kynetec é líder global em pesquisas
dos mercados agrícola e saúde animal. Atua com os segmentos de saúde e nutrição
animal, proteção de cultivos, máquinas e implementos agrícolas,
sementes/biotecnologia e nutrição de plantas. Em sua longa trajetória, se
dedica a ouvir a voz do campo e, assim, trazer respostas que ajudem a melhorar
os manejos, desenvolver novos produtos e, por fim, aumentar a produção agrícola
brasileira.
A Kynetec está presente em todo o mundo,
com unidades localizadas em 30 dos mais importantes mercados em agricultura e
saúde animal, sendo que a cobertura de mercado se estende a mais de 80 países
onde são realizados regularmente projetos de pesquisa. No Brasil, a Kynetec
conta com a longa expertise no Agro nacional pelo legado Kleffmann, oriunda da
fusão realizada entre as empresas em 2019.
Informações: https://www.kynetec.com/pt
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