Mulheres transmitindo energia: uma reflexão sobre a presença feminina no setor elétrico
*Por Gabriela Desirê
Neste mês em que comemoramos a história
e a luta das mulheres no mundo, também reforçamos a importância de um olhar
crítico para as questões de igualdade, de equidade de direitos e das
oportunidades às mulheres, de forma justa, em todas as esferas, principalmente
no mercado de trabalho. Há séculos, batalhamos para diminuir os abismos e as
disparidades que dificultam a muitas de nós o desenvolvimento profissional.
Ainda num passado recente, em 1975, foi
“necessária” a oficialização do Dia Internacional da Mulher pela Organização
das Nações Unidas (ONU), para que a isonomia fosse defendida e para que as
pessoas fossem “educadas” sobre a luta, os direitos e as conquistas das
mulheres. Depois disso, foi instituído o mês de março como o “mês das
mulheres”, em comemoração aos marcos da luta da mulher por seus direitos em
todo o mundo.
Embora saibamos que, por muito tempo, o
acesso ao ensino superior e ao voto nos foi negado, até o presente momento
vemos os impactos que a ausência desses direitos básicos causou e os seus reflexos
em nossa sociedade. E, quando olhamos para a frente, é perceptível que ainda há
um longo caminho para percorrer e avançar.
De acordo com o relatório Perspectivas
Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2021, neste período pandêmico,
mulheres foram atingidas de forma desproporcional no que tange à contratação e
à inatividade, tendo menos oportunidades de trabalho, sem falar na violência
física, psicológica ou sexual que atingiu mais de 20% das mulheres acima de 16
anos no Brasil, em 2020, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.
Quando analisamos o setor elétrico,
ainda identificamos uma baixa representatividade e um importante caminho a
percorrer para ampliar a participação feminina, em um ambiente profissional
predominantemente masculino. A origem também está na formação: na maioria das
salas de engenharia elétrica, por exemplo, ainda somos minoria. Historicamente,
as escolas de engenharia surgem a partir das academias militares. Assim sendo,
a primeira escola de engenharia no Brasil foi a Academia Real Militar, criada
em 4 de dezembro de 1810.
Já em 1913, surgiu a primeira instituição brasileira dedicada à Engenharia
Elétrica – o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (MG) – só formou a primeira
engenheira eletricista, Maria Luiza Soares Fontes, em 1950.
Segundo dados do Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia (Confea), quase 19% dos profissionais ativos no sistema
da instituição são mulheres, em um universo de mais de 980 mil inscritos. Ou
seja, somente 184.881 são do gênero feminino. Ainda em conformidade com o
Confea, entre 2016 e 2018, houve um crescimento de 42% no número das
profissionais registradas no segmento energético. Entretanto, apenas 19% dos
cargos do setor eram exercidos por elas.
Afunilando para cargos de liderança no
setor elétrico, os números são ainda mais alarmantes e caem para 6%, de acordo
com um estudo realizado em 2021 pela Fesa Executive Search, empresa de seleção
de executivos do Grupo Fesa. A grande questão é que a falta de
representatividade em cargos de alta liderança, principalmente em um setor
majoritariamente masculino, não dá visibilidade e pode desencorajar outras
mulheres a trilharem suas próprias carreiras.
Como engenheira eletricista, com mais de
25 anos de experiência no setor elétrico, atualmente à frente da diretoria de
operações de uma transmissora de energia que possui 60% da diretoria executiva
composta por mulheres, posso afirmar que a jornada nesta profissão exige não só
encorajamento e persistência, mas também que sejamos resilientes e usemos
nossas habilidades agregadoras para apoiar e inspirar outras mulheres,
transmitindo a mensagem positiva de que podemos, sim, ser representantes e
representadas nesse setor ainda tão masculino.
Nesse sentido, é notória a necessidade
de impulsionar rapidamente as oportunidades em que as mulheres possam
desenvolver todo o seu potencial. O ponto alto da discussão é que, além da
importância de investir no recrutamento de mais mulheres, haja uma mudança
cultural no âmbito das organizações, com a criação de programas de diversidade,
equidade e inclusão. Outro ponto preponderante está no estímulo do ingresso
feminino em cursos nos quais a predominância também é masculina, para que elas
possam, cada vez mais, ocupar o setor e alcançar novas lideranças.
Em direção à igualdade de gênero, um dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para a Agenda 2030 se
refere à mobilização das esferas social, acadêmica e institucional e,
principalmente, à ação para uma sociedade mais inclusiva e oportuna para
meninas e mulheres conquistarem o que quiserem.
*Gabriela Desirê é diretora executiva de operações da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do Brasil. Tem mais de 25 anos de experiência no setor de energia, iniciando a carreira como Operadora do Sistema, em Furnas, passando à Operadora Nacional do Sistema Elétrico, no ONS. Em 2011, assumiu a Gerência de Operações na State Grid e, posteriormente, a Gerência de Relacionamento Operacional na Neoenergia. Em sua mais recente posição, atuou como Diretora de Operações na Evoltz Participações. Gabriela é graduada em Engenharia Elétrica e Sistemas Elétricos de Potência pela Universidade Federal do Ceará, possui Especialização em Sistemas de Controle pelo Instituto Militar de Engenharia e é ainda especialista em Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá.
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