Busca por cirurgias estéticas faciais cresce 300%, coloca Brasil no ranking mundial e prevê movimentar US$ 35,7 bilhões até o ano de 2023
A área da odontologia estética cresceu 300% nos
últimos 5 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Odontologia e Estética
(SBOE). Além da harmonização facial, as cirurgias na pálpebra, bichectomia e
rinoplastia foram as mais realizadas por dentistas, que apresentaram uma
redução de preço de 80% em comparação com cirurgiões plásticos. O Brasil lidera
o ranking mundial de pacientes que buscam estética facial. Foram realizados
483,8 mil procedimentos durante o período de um ano e com o aumento da demanda
nos consultórios odontológicos, estima-se que Odontologia Estética deverá movimentar
US$ 35,7 bilhões até o ano de 2023
Brasil, abril de 2022: A alta na oferta de intervenções
estéticas em consultórios de Odontologia vem intensificando ao longo dos
últimos anos o embate entre as profissões. Como o valor cobrado por odontólogos
pode ser até 80% inferior, o público tem aumentado. Ao mesmo tempo, um
levantamento divulgado no último ano pela Sociedade Internacional de Cirurgia
Plástica Estética (ISAPS, na sigla em inglês) aponta que, em 2020, o Brasil foi
o país em que mais procedimentos cirúrgicos foram realizados na face e na
cabeça. Foram 483,8 mil durante o período de um ano. Com 143 mil registros, a
cirurgia de pálpebra (blefaroplastia) foi a mais realizada, seguida pela
rinoplastia, com 87,9 mil.
Com isso, um grupo de 120 dentistas solicitou
em uma série de ações na Justiça autorização para realizar determinados
procedimentos cirúrgicos no rosto com fins estéticos, como a rinoplastia.
Grande parte ainda aguarda uma sentença, mas para ao menos 15 foram concedidas
liminares favoráveis.
O Conselho Federal de Odontologia (CFO)
publicou um documento em 2020 para estabelecer limites específicos para a
atuação de odontólogos. A decisão passou a ser motivo de insatisfação. Para
Thiago Marra, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde
(Abrapros), entidade da qual parte dos 120 profissionais que ingressaram na
Justiça é integrante, odontólogos deveriam ter a possibilidade de realizar não
só a harmonização, mas outros procedimentos estéticos na superfície da face.
Isso porque, argumenta, o CFO não teria competência para legislar sobre a
profissão, já que essa seria uma atribuição do Congresso. Marra reforça que a
lei que regulamenta a profissão de dentista, criada nos anos 1960, garante aos
profissionais da área o direito de realizar procedimentos estéticos na cabeça e
no pescoço. “Cirurgiões-dentistas pós-graduados em bucomaxilofacial realizam
procedimentos complexos, como fraturas de maxila, mandíbula e outras cirurgias
com o uso da anestesia geral”, argumenta.
Apesar de a resolução ainda continuar em
vigor, o presidente do CFO, Juliano do Vale, não se opõe às decisões tomadas na
Justiça a favor dos dentistas. Segundo ele, as liminares concedidas “não
comprometem a evolução da Odontologia e da especialidade”. “Estão antecipando a
ampliação das áreas de atuação, a exemplo de outros países”, afirma. “Há, sem
nenhuma dúvida, um interesse latente de algumas entidades médicas em reserva de
mercado.”
Para Rafael Ratto de Moraes, professor
de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), o cenário de embate
“pode ser atribuído a questões comerciais, de influência, disputa de espaço e
poder”. “Ambos os conselhos (CFO e CFM) são fortes e consolidados, envolvem
milhares de profissionais e interesses”, contextualiza. Ele acredita ainda que
o imbróglio seria impulsionado por dois outros motivos principais: leis antigas
e áreas de atuação com sobreposição. Como possível solução, o professor reforça
que seria importante que as discussões se baseassem em pesquisas acadêmicas e
focassem na saúde dos pacientes. “Infelizmente é um problema de difícil
resolução, mas vejo uma atuação do CFO e CFM no MEC (responsável por regular os
cursos) como primordial.”
Professor Associado do Departamento de
Cirurgia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP),
Fernando Melhem Elias entende que o CFO tem o poder outorgado por lei para
definir o escopo de atuação dos profissionais e das especialidades da
Odontologia, e reforça a necessidade de haver maior diálogo entre as entidades.
“A harmonização orofacial evoluiu muito nos últimos anos às custas de
publicações e cursos realizados por cirurgiões-dentistas. O CFO também se
baseou nesse fato para constituí-la uma especialidade odontológica. Talvez uma
discussão mais profunda, envolvendo inclusive as lideranças da cirurgia e
traumatologia bucomaxilofacial, tão acostumadas com problemática semelhante,
pudesse ter evitado o encaminhamento da discussão para a esfera jurídica”,
explica.
A dona de casa Yohanna Richelly, de 24
anos, conta que fez em novembro um procedimento com uma dentista chamado
rinomodelação, que consiste na aplicação de ácido hialurônico no nariz. “Meu
nariz me incomodava muito, e eu tinha muita vontade de mudar. Só que morria de
medo de fazer a rinoplastia em si, por causa de anestesia, de tudo”, explica
ela, que mora em Patos, interior da Paraíba.
“No mesmo dia, fui para casa, a
recuperação foi bem tranquila”, relembra a dona de casa, que removeu os pontos
do nariz com 15 dias. Por ser, em teoria, mais simples que a rinoplastia, a
rinomodelação não foi vedada aos dentistas pelo CFO, um dos motivos que a fez
se popularizar nos últimos anos. “Faz quatro meses que fiz e hoje estou super
satisfeita com o resultado”, conta. Ela pagou R$ 3,5 mil no procedimento, fora
medicações, e diz que o preço não estava abaixo de outros procedimentos do tipo
ofertados no mercado.
Sobre a ABRAPROS (Associação Brasileira
dos Profissionais de Saúde):
Associação civil sem fins lucrativos, que oferece suporte e auxílio jurídico a
todos profissionais de saúde que lutam contra a reserva de mercado.
Cirurgião Plástico Dr. Thiago Marra
Membro da Associação Brasileira de Médicos Pós-Graduados - ABRAMEPO, e membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica. Além de ser especialista em rinoplastia, realiza vários procedimentos como prótese de mama, mastopexia, lipoaspiração, harmonização facial e cirurgias estéticas pós redesignação sexual. Fora do centro cirúrgico, fundou a Associação de Dentistas Especialistas em cirurgias faciais, que visa combater a reserva de mercado e apoiar a classe da Odontologia, para a realização de procedimentos estéticos, como a harmonização orofacial.
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