Mundo BANI vs. Mundo VUCA
Estevão Seccatto*
A conceito VUCA
(Volatility – volatilidade, Uncertainty – incerteza, Complexity – complexidade
e Ambiguity – ambiguidade), desenvolvido pelo exército americano nos anos 90,
descreve um mundo cercado por incertezas, em constante mudanças, com questões
complexas a serem resolvidas. Neste contexto, a tomada de decisão e o
planejamento estratégico das empresas tornou-se bastante mais complexo,
exigindo capacidade de adaptabilidade muito mais apurada dos gestores
empresariais.
A pandemia do Covid19
acelerou a evolução do mundo VUCA para o mundo BANI (Brittle – frágil, Anxious
– ansioso, Nonlinear – não linear e Incomprehensible – Incompreensível). O
conceito passou a ser usado para descrever o mundo pós-pandemia, desenvolvido
pelo antropólogo, autor e futurista norte-americano Jamais Cascio. Enquanto
VUCA foi utilizado para nortear empresas em cenários de volatilidade,
incerteza, complexidade e ambiguidade, atuando como uma estrutura dar sentido às
incertezas, a pandemia descortinou temas ainda mais complexos e com
contingências mais dramáticas, demonstrando a fragilidade da estratégia VUCA.
Um percentual muito pequeno das empresas estava preparado para enfrentar o que
aconteceu, no mundo todo.
BANI busca endereçar
contextos em que as condições são instáveis, mas também caóticas, em que os
resultados são completamente imprevisíveis, situações em que o desfecho não é
simplesmente ambíguo, mas totalmente é incompreensível.
Frágil – mundo sujeito
a catástrofes a qualquer momento, mas com a maioria das empresas ainda
construída sobre bases quebradiças, que podem desmoronar repentinamente. A
volatilidade do VUCA chega ao seu extremo no BANI. Nada tem solidez, e a
impermanência é marcante. Gestores precisam compreender que seus negócios podem
ruir a qualquer momento, pessoas podem perder o emprego de súbito. Exige-se a
migração de planejamentos robustos de longo prazo planos de contenção de rápida
implementação.
Ansioso – incerteza e
fragilidade causam ansiedade nas pessoas. Esse sentimento ocasiona senso de
urgência, e acaba influenciando no processo de tomada de decisões. As
incertezas VUCA, no pós-pandemia, se exponencializaram, gerando insegurança e
sensação de impotência. O desconhecido passou a predominar para a maior parte
dos empresários, que estão se sentindo perdidos. Isso acarreta receio em
tomadas de decisão, barreiras psicológicas à nova iniciativas e impactando
negativo na busca por novas soluções.
Não Linear – no BANI
planejamentos detalhados de longo prazo não fazem mais sentido, a complexidade
do VUCA virou a não linearidade, com a desconexão entre causas e efeitos,
evidenciados pela crise do Covid19 e mudanças climáticas. Estamos num momento
em que pequenas decisões podem trazer grandes resultados, enquanto um admirável
número de recursos alocados em variáveis importantes pode gerar zero resultado.
Incompreensível – no
BANI, são tantas informações, tão frequentes e rápidas, que o desafio é saber
como agir frente a elas. O excesso de informação gera incompreensão. As
“fakenews” contribuem negativamente para isso. Empresários buscam respostas,
mas elas não fazem sentido. O mito de que mais dados são necessários pode ser
contraproducente, sobrecarregando a capacidade de processamento intelectual.
Como sobreviver no
mundo BANI?
Enfrentar a fragilidade
com resiliência, colaboração (cooperação entre concorrentes), diversidade de
capacidades (time, portfólio de serviços e produtos ou modelos de negócios), e
estruturas menos rígidas (gestão do tempo, liderança remota e autonomia).
Enfrentar a ansiedade
com empatia (dos gestores empresários e demais stakeholders), passando
segurança dentro das organizações, escutando os anseios dos colaboradores, com
inteligência emocional, pensando em conjunto sobre cenários mais positivos.
Enfrentar a não
linearidade precisa ser combatida com flexibilidade e capacidades adaptativas.
Estar preparado para cenários totalmente desconhecidos e ter agilidade para
realizar mudanças rápidas e profundas, com tomada de decisão just in time. No
contexto atual, não há mais começo, meio e fim. Você deve estar preparado para
avançar e recuar, a qualquer momento.
Enfrentar a
incompreensibilidade com transparência e intuição, ética, experimentação e
facilidade de aprender a aprender.Portanto, se a única opção é seguir em
frente, cabe a cada um de nós estudar e ganhar força, como uma preparação para
a imprevisibilidade que está por vir.
*Estevão Secatto Rocha é professor de Turnaround na FIA Business School. Engenheiro naval (Poli/USP), extensão em economia (Harvard), finanças e marketing (FEA/USP), tecnologia (Singularty University), mestrando (University of Liverpool). Foi head global de M&A da Atento (NYSE), reestruturador de empresas pela KPMG e IVIX , diretor da G4S (LSE) e associado no private equity Artesia. Assessorou mais de uma centena de empresas
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