Conheça as 8 ações da agenda positiva dos Conselheiros e líderes empresariais para desenvolver as empresas em 2022
Por Leandro Herculano*
Estudo da KPMG, em
parceria com a ACI Institute Brasil, aponta que as empresas têm o desafio de se
reestruturar e reposicionar com maior resiliência nas estratégias, ações
operacionais mais rápidas e ousadas em período de crise e incertezas como o
atual. Dentre as ações propostas para atingir esse objetivo, os Conselhos devem
seguir uma agenda positiva que permeia por oito ações temas:
1 - Necessidade de
tornar o envolvimento do Conselho na estratégia do negócio e na visão de longo
prazo mais profundo:
Vivemos um ambiente de
negócios bastante incerto, com enormes desafios para os executivos. O
gerenciamento remoto, pós-covid, ainda não se tornou algo natural para muitos
C-levels. Soma-se a isso a volatilidade enorme dos mercados, redes sociais,
tornando o ativismo de colaboradores presente no dia a dia das organizações; um
ano com eleições presidenciais no Brasil e os impactos em função da guerra
entre Ucrânia x Rússia. Isso significa que o ano mostra já neste primeiro
trimestre que devemos aceitar a realidade do mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear,
Incomprehensible), com baixíssima previsibilidade.
Assim, mais do que
apenas participar das reuniões, os Conselheiros são permanentemente convidados
a se envolver cada vez mais em conversas realmente construtivas com as
lideranças das organizações. Isso significa que os conselhos devem ir além das
apresentações formais de diretoria para se ter discussões reais e o apoio aos
executivos sobre questões operacionais de alta relevância, especialmente em
momentos de crise, para garantir a manutenção do negócio no longo prazo.
O que proponho aqui é
que os Conselheiros precisam continuar com o olhar para o médio e longo prazos,
trazendo um visão de tendências que deverão ser incorporadas no planejamento e
assumir o papel de trabalhar formas de oportunizar e apoiar os diretores, se
tornando uma vantagem competitiva importante em momentos complexos. Sabe-se que
os diretores executivos são tomados pela rotina do dia a dia do negócio e uma
vez que os conselhos constroem uma relação de confiança e proximidade com os
executivos, incentivando-os a revisitar planos estratégicos com maior
frequência e propor soluções mais rápidas e ousadas, de forma colaborativa,
tornam-se fundamentais para o sucesso das organizações.
2 – Incorporar o ESG
nas discussões relacionadas a riscos e estratégia
ESG não é modismo. O
mercado já mostrou a sua importância. Conselhos devem incorporar as discussões
sobre a responsabilidade ambiental e trazer a sua atenção com seriedade sobre
as questões de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) de forma permanente.
As questões
relacionadas ao ESG passaram a ser foco de atenção de muitos grupos em nossa
sociedade, além dos ativistas (muitos inclusive dentro da própria organização)
temos investidores e analistas de mercado, além do sistema regulatório pronto
para críticas que podem afetar a sustentabilidade.
Falando sobre os riscos
ambientais, o crescimento do desmatamento da Amazônia e a falta de fiscalização
por falta do governo federal trará a discussão ambientalista como um dos temas
quentes da disputa presidencial este ano, sendo interessante a criação de um
processo de monitoramento próximo de mudanças regulatórias que devem ocorrer
também em âmbitos estaduais e municipais, de acordo com maior ou menor pressão
social. Em dezembro de 2021, a CVM publicou a resolução 59, onde estabelece a
divulgação de dados relacionados aos riscos climáticos a partir de 2023.
A DE&I também
merece uma atenção permanente, com a necessidade de revisitar os KPIs (e,
muitas vezes, criar novos) que apoiem o gerenciamento do processo de inclusão e
geração de oportunidades dentro das companhias. Alguns estudos mostram que
quanto mais diversa as empresas, melhores os seus resultados, facilitando a
criatividade e agilidade, sem afetar a cultura.
3 - Necessidade de
envolver pró-ativamente acionistas, ativistas e outros stakeholders
Vivemos um momento de
muita exposição, com a aceleração do papel das redes sociais e seus usuários
como embaixadores ou detratores de marcas e serviços.
Investidores
institucionais, analistas financeiros, entre outros, estão muito atentos aos
movimentos destes usuários, fazendo pressão sobre os Conselhos de Administração
e diretores sobre o desempenho dos negócios e exigindo transparência não apenas
dos indicadores financeiros, mas também com relação a planos e posicionamentos
institucionais.
Isso ficou evidente nas
últimas semanas, com o anúncio de encerramento das atividades de várias
empresas multinacionais na Rússia após o anúncio da guerra, evitando riscos
sobre suas marcas.
Passa a ser papel do
conselho questionar periodicamente como estão sendo medidas e acompanhadas as
ações de engajamento da organização, não apenas com seus clientes e
consumidores, mas com todos os stakeholders, avaliando como está o
relacionamento com seus principais acionistas e o papel e desempenho da área de
RI e CEO neste processo, se colocando também à disposição para reuniões com os
principais investidores e até mesmo direcionando como será o papel dos
conselheiros independentes.
Em resumo, passa a ser
um papel importante do Conselho de Administração garantir a imagem
institucional, com transparência em relação ao seu desempenho, propósitos e
visão de longo prazo para seus principais acionistas, investidores e
stakeholders.
4 - Plano de sucessão
de CEOs e gestão de talentos devem ser priorizadas
Se teve uma coisa que a
pandemia nos mostrou é que emergências podem ocorrer e planos de contingência
devem estar prontos, principalmente no que diz respeito à sucessão.
O correto mapeamento de
talentos e planos de sucessão devem ser discutidos de forma clara e aberta,
principalmente por entender a importância do CEO em momentos de crise e seu
papel no direcionamento da cultura organizacional e execução da estratégia.
Assim, o Conselho deve estar pronto para uma substituição do CEO, seja
planejada ou não, e de forma temporária ou permanente.
Outro aspecto
interessante é que aqui podemos voltar a comentar sobre a Resolução 59 da CVM,
que alterou o formulário de referência, aumentando as informações sobre a
diversidade de seus administradores e empregados, além indicarem a abertura destes
dados por nível hierárquico no caso dos colaboradores.
Isso trará para os
Conselhos uma atuação diferente, com um olhar mais próximo aos resultados dos
programas de formação e desenvolvimento de talentos, além de novos desafios
para a contratação, uma vez que vivemos uma realidade de “caça-talentos” de
profissionais que representem a diversidade de gênero, raça e idade, com as
qualidades necessárias para ocupar cargos chave nas organizações.
5 - Privacidade de
Dados, Cibersegurança e governança de dados
Neste ponto, os
Conselhos não devem ficar presos apenas nas considerações vinculadas ao LGPD
(que por si só já é um enorme desafio), mas sim realizar o acompanhamento dos
riscos do gerenciamento de dados de forma mais abrangente.
Durante a pandemia,
muitas organizações, para manter seus negócios em funcionamento, renunciaram a
protocolos mais rígidos de segurança, utilizando plataformas de trabalho
remoto, se relacionando virtualmente com toda a sua cadeia de suprimentos e
clientes, inclusive com acessos a redes e compartilhamento de arquivos sem
muita segurança. Um prato cheio para a Hackers.
Uma vez que o trabalho
remoto se tornou uma realidade, as equipes de TI precisam redefinir protocolos
e realizar um enorme pente fino para garantir a segurança. Os Conselhos
precisam então apoiar CEOs e CIOs na aprovação de investimentos e planos de
contingência, entendendo todos os riscos à imagem e confiança que as
organizações se encontram no momento.
Outro ponto que deve
ser considerado é a necessidade de se revisar papéis e responsabilidades
das lideranças com relação à gestão, divulgação e segurança dos dados. Por
exemplo, quais ações devem ser tomadas pelo RI (Relação com investidores), CIO
(Chief Information Officer), CCO (Chief Compliance Officer) em caso de crise e
quais as ações preventivas planejadas por cada área.
6 - Revisão dos planos
de prevenção e gestão de crises
Apesar do tema ser
apontado como uma das prioridades das companhias, ainda é comum participarmos
de grupos empresariais em que o assunto ainda não faz parte das reuniões e não
existam comitês de crise com protocolos prévios estruturados.
Se considerarmos os
últimos dois anos e as incertezas do curto prazo, esse ponto ganha mais relevância
nas discussões de Conselho, entendendo que a prevenção anda de mãos dadas com
sistemas mais consistentes de gerenciamento de riscos que ajudem a antecipar
problemas através de sistemas de Business Intelligence, Informações de Mercado,
indicadores e controles para mitigação de impactos.
Faça uma lista rápida
de pontos a serem considerados, pois além de riscos ligados à manutenção de
cultura corporativa, temos outros pontos relacionados diretamente com a
operação, dentre eles, cadeia de fornecedores e riscos de terceiros, TI,
segurança de dados, segurança e saúde de colaboradores e clientes, além de
riscos ambientais e os relacionados ao próprio segmento de atuação.
Revise de forma
periódica papéis e responsabilidades nas áreas, além da coordenação da estrutura
de comunicação que apoie e coordene todos os players dentro da organização. É
sempre interessante também que o Conselho articule o time de auditoria e
compliance para simular cenários de risco e assegurar que todos estejam
realmente preparados para apresentar planos de resposta consistentes.
7 - Monitoramento do tom da cultura
organizacional e sua efetividade
Durante a pandemia
pudemos observar como as organizações são sensíveis às questões relacionadas à
pressão sobre o quadro de colaboradores, e de ainda estarem sendo bombardeadas
com questionamentos sobre trabalho em home-office, bem-estar, saúde, segurança,
produtividade, além de normas legais que equilibram as relações trabalhistas no
passado e que não necessariamente conseguem ser aplicadas nos modelos atuais.
Veículos de comunicação
e as redes sociais estão cheias denúncias sobre casos de assédio sexual, moral,
preconceito racial, práticas de venda agressivas, remuneração questionável,
transparência em processos seletivos e muito mais. Todos esses temas colocam em
xeque a cultura organizacional.
Muito importante para
os Conselhos é identificar um “tom” único com relação às questões éticas, em
todos os níveis, além de acompanhar de perto e com a seriedade necessárias as
denúncias e reclamações nos canais confidenciais da empresa, onde os
conselheiros não se concentrar apenas nos resultados, mas devem
sensibilizá-los, através de uma leitura mais ampla do contexto, fazendo uma
análise sistematizada sobre que comportamentos, fatos ou líderes impulsionaram
tais relatos.
8 - Como trazer mais
diversidade e talento para os conselhos
Apesar do tema
diversidade estar ocupando espaço nas redes sociais e associações de
conselheiros, temos de considerar que, inicialmente, a discussão deve ser se
existe alinhamento entre a formação do Conselho e a estratégia da organização,
sob o risco de perder contribuições significativas sobre diversidade, entre
outros pontos.
A pesquisa apontou um
maior envolvimento dos investidores neste tema, pelo ritmo lento de mudanças em
várias empresas, partindo do pressuposto de que, quanto mais diverso for o
Conselho em termos de habilidades, experiências, pensamentos, gênero e
raça/etnia, mais proativa, criativa e ágil será a resposta da companhia frente
às disrupções de modelos de negócios além de outros riscos listados neste
artigo.
O levantamento aponta
ainda que mais de 40% têm preocupação pela falta de diferentes pontos de vista,
atrapalhando discussões mais amplas sobre temas sensíveis e questões envolvendo
o futuro dos negócios. E os números levantados pela ACI ano passado confirmam
isso, uma vez que apenas 14% dos Conselheiros de Administração são mulheres,
45% dos Conselheiros estão no terceiro mandato (considerando que estes mandatos
geralmente são de 2 anos); em relação a idade, 29% têm entre 51 e 60 anos, 25%
entre 61 e 70 e 14% acima dos 70; e que, em 2021, a S&P500
indicou ainda que apenas 21% dos conselheiros faziam parte das minorias.
Por isso, acredito que
diversidade, composição e renovação devem se manter como um dos temas centrais
dos conselhos, objetivando a melhoria do órgão, além de evitar pressão de
investidores e ativistas, e preparar as companhias para o futuro.
* Leandro Herculano
é Conselheiro TrendsInnovation; sócio Elementar Reputação Digital. Como Conselheiro
TrendsInnovation, busco oportunidades para ampliar as discussões sobre
tendências e futuro para o médio e longo prazos, sem negligenciar o fato de que
o meu papel (assim como a Conselheiros TrendsInnovation) é o de trazer a
responsabilidade para olhar a agenda presente e apoiar as empresas na resolução
de conflitos, no acompanhamento estratégico e no apoio a tomada de decisões,
dia a dia.
Sobre a Conselheiros
TrendsInnovation
É formada por mais de
80 Conselheiros generalistas e com visão de futuro, inovação e tendências. A
organização tem como objetivo apresentar Conselheiros a empresas que precisam
de Conselheiros para complementar seu quadro de Conselho ou que estejam em fase
de criação de Conselho. Ou ainda a empresas familiares que buscam implantar
governança em sua gestão e anseiam por tornar seus negócios mais sustentáveis,
inclusivos, éticos, digitais e perenes.
Os Conselheiros TrendsInnovation estão aptos a trabalhar em Conselhos Administrativos e Consultivos, comitês temáticos e têm amplo conhecimento em governança corporativa, compliance, finanças, transformação digital, ESG, entre outros temas. São Conselheiros que atuam nas áreas de indústria, varejo e serviços, em empresas de capital aberto ou fechado, PME, startups, scaleups e empresas familiares.
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