Polêmica sobre mistura similar a leite condensado pode configurar propaganda parcialmente enganosa
Advogado
explica porque venda de produto que parece uma coisa, mas é outra, pode gerar
questionamento na justiça contra fabricante. Consumidor deve se policiar a ler
mais os rótulos das embalagens para evitar ser ludibriado
Uma recente polêmica
envolvendo uma das mais tradicionais e famosas marcas de leite condensado do
Brasil tem feito com que muita gente fique mais atenta às informações
constantes nos rótulos de produtos que se leva para casa. O fabricante em
questão passou a comercializar um produto, que apesar da grande semelhança da
embalagem, não é de fato leite condensado, mas sim uma mistura láctea
condensada, que leva em sua composição amido de milho e soro de leite.
O fato acabou gerando uma forte repercussão negativa nas redes sociais, com
muita gente criticando o uso de um recipiente praticamente igual ao do produto
legítimo, o que teria induzido muitos consumidores a levar um produto, pensando
que era outro. De acordo com advogado Eduardo Rodrigues, especialista em
Direito do Consumidor e sócio do escritório Byron Seabra advocacia e
Consultoria, por uma interpretação do parágrafo 1º, do artigo 37, do
Código de Defesa do Consumidor (CDC), o fabricante envolvido na polêmica, pode
sim estar incorrendo na prática de propaganda parcialmente enganosa.
“O parágrafo 1º, do artigo 37, do Código de Defesa do Consumidor diz que é é
enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,
inteira ou parcialmente falsa, capaz de induzir a erro do consumidor a respeito
da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem,
preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço. Neste episódio em
específico trata-se de comunicação parcialmente falsa”, esclarece o advogado.
O especialista no Direito do Consumidor afirma que mesmo que a marca tenha
escrito na embalagem do produto que se trata de uma mistura láctea condensada,
o fabricante responsável deveria, antes de mais nada, usar outra configuração
visual do produto que desvinculasse do verdadeiro leite condensado. “Eles
usaram no rótulo uma imagem que é praticamente igual à que é usada no leite
condensado de verdade. Entendo que aí já há uma questão que pode levar
facilmente o consumidor a um erro de escolha”, frisa. Eduardo lembra,
inclusive, que infelizmente não é costume do brasileiro em geral ler as
informações constantes nas embalagens dos produtos. “Nós, no geral, escolhemos
os itens no supermercado muito pela publicidade visual. Nossa cultura é muito
visual e não de ler”, destaca.
Preço abusivo
Outro aspecto levantado pelo advogado Eduardo Rodrigues, na polêmica
envolvendo a famosa marca de leite condensado, é sobre o preço praticado pelo
fabricante para o item similar, que sabidamente tem um custo de produção bem
mais baixo. “Você tem um produto em que se usa amido e soro de leite para
render mais, então o que se entende é que o custo desse produto ficou muito
abaixo do que de fato é o leite condensado real. Portanto, deveria ser
comercializado a um valor também bem mais barato. Neste caso em questão, o
preço praticado pela marca no produto similar é praticamente o mesmo do
leite condensado”, alerta o advogado.
Segundo o advogado, ao não ter tomado os cuidados para que as pessoas não
fossem induzidas a um erro de escolha do produto, o fabricante em questão está
sim passível de ser acionado judicialmente por possíveis danos e prejuízos ao
consumidor. “Uma providência nestes tipos de caso deve ser tomada pelo Procon,
como órgão público responsável pela defesa do consumidor, que é quem irá
acionar as empresas através de um procedimento administrativo e notificá-las
para prestarem esclarecimentos e, sendo necessário, fazer as correções
necessárias no produto”, explica.
Ler, sempre!
A orientação do advogado para se evitar prejuízos causados por essas
estratégias de má fé, praticada por algumas poucas empresas, é sempre ficar
atento e ler as informações constantes nos rótulos e embalagens. “É preciso
escolher um produto não apenas por seu visual externo. Temos que criar esse
hábito de ler o que está escrito e detalhado nas embalagens dos produtos, e
escolher as marcas que de fato entregam o que divulgam em imagem”, frisa.
Outro aspecto importante lembrado pelo advogado sobre o hábito de ler as
informações nas embalagens tem a ver com a saúde. "Às vezes, por falta de
atenção a essas informações importantes, a pessoa pode levar para casa um
produto que tem algum ingrediente do qual ela é alérgica, ou então ela pode estar
com alguma dieta restritiva e consumir alguma coisa que pode agravar sua saúde
ou atrapalhar algum tipo de tratamento”, lembra o especialista.
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