Cremesp promove encontro sobre publicidade médica
Fotos de antes e depois e divulgação de títulos
acadêmicos foram alguns dos assuntos discutidos
Temas envolvendo os limites éticos da
publicidade médica e os riscos de infração a que residentes e graduandos em
Medicina estão expostos ao utilizar as redes sociais, foram debatidos, durante
o Meeting Publicidade Médica na Residência e Graduação, realizado pelo Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), no dia 4 de junho, com
transmissão online pelo canal do YouTube da autarquia.
Organizado pela Comissão de Defesa do Ato Médico do Conselho, a primeira mesa
do encontro contou com a participação da presidente do Cremesp, Irene
Abramovich, da diretora 2ª secretária, Maria Camila Lunardi, e da
conselheira Mirna Yae Yassuda Tamura, integrante da Câmara Técnica de
Oftalmologia; e teve como convidados Diego Adão Fanti, membro da Comissão de
Carreira do Médico do Cremesp, e o professor Luiz Fernando Amaral, do Centro
Universitário Armando Álvares Penteado (FAAP).
“Os jovens estão se comunicando principalmente pelas redes sociais, mas
desconhecem as regras e os riscos na divulgação de informações sigilosas por
meio delas, daí a importância desse encontro promovido pela Comissão ”,
destacou a presidente durante a abertura.
Maria Camila abriu os trabalhos ressaltando que, dado o grande volume de e
participação dos graduandos e jovens médicos nas redes sociais, o foco do
encontro é orientar esses jovens para que tenham cuidado em sua utilização,
visando sempre à preservação da ética médica e, principalmente, dos pacientes.
Em sua apresentação, ela traçou uma linha do tempo buscando explicar o
envolvimento dos jovens e futuros médicos com as mídias sociais, cuja origem se
deu concomitantemente. “Esse desenvolvimento conjunto faz com que, muitas
vezes, os jovens não percebam o quanto as novas mídias podem trazer
complicações e malefícios, já que expor a vida o tempo todo passou a ser algo
comum”, disse.
Também observou que as redes sociais trouxeram um modo diferente de se
comunicar e fazer networks, propiciando a promoção social, o sentimento de
inclusão, proteção e aceitação pelo grupo, além de autoestima. “Quando se
trata de estudantes e jovens médicos, o que mais se posta nas redes é a vida
deles dentro do hospital ou da faculdade”, comentou. Segundo ela, o mundo das
redes é muito facilitador para que a exposição aconteça. “Vemos isso com
preocupação, pois sabemos que os jovens que nasceram e cresceram com as redes
sociais vão publicar e se expor, mas queremos alertar que isso tem de ser feito
com consciência, responsabilidade e ética”, completou.
Em sua palestra online, Amaral abordou os aspectos da publicidade e propaganda
no campo da Medicina, destacando os riscos das publicações pelos formandos e
profissionais da área, nas redes sociais. Segundo ele, uma das principais
características dessas mídias é replicar esses conteúdos, fazendo com que não
se tenha mais o controle sobre o que foi publicado. “O grande problema é que
muitas dessas publicações violam direitos de pacientes”, alertou. Ele
destacou também as características que deve ter o anúncio médico, o que se espera
da publicação e do comportamento do profissional de medicina. “Na publicidade
médica não pode haver simplesmente a promoção do profissional, mas sim do
tratamento, do que foi encontrado pela ciência” afirmou.
Fanti observou a relevância da pauta, apontando para o prejuízo que
determinados comportamentos nas redes sociais podem causar aos residentes e
estudantes. “De acordo com um levantamento feito pela comissão, percebemos que
cerca de 90% dos residentes violam, de alguma forma, o sigilo e o decoro, com publicações
proibidas de serem veiculadas nas redes sociais e comportamentos que não são
esperados para aquele grupo”, pontuou. Segundo ele, o que dava lastro a
esses comportamentos era o fato de que muitos desses jovens desconheciam as
regras do sigilo e do decoro.
Regulamentação e
diretrizes
No segundo bloco, o debate, mediado pelo diretor 1º secretário do Cremesp,
Angelo Vattimo, contou com a participação da conselheira Juliana Takiguti
Toma, membro da Câmara Técnica de Dermatologia do Conselho, do jurista Fernando
Capez, procurador de Justiça e ex-presidente do Procon-SP, do cirurgião
plástico Alexandre Kataoka, e do palestrante Adriano Sérgio Freire Meira,
conselheiro do Conselho Federal de Medicina pela Paraíba.
Partindo do questionamento se a publicidade médica pode levar à cassação do
médico, Meira contestou a visão errônea de que os Conselhos querem impedir a
publicidade médica. “Isso não é verdade, o que queremos é que a propaganda
médica seja ética, informe e não omita”, explicou. Ele destacou a atuação dos
Conselhos na orientação dos profissionais e a importância da Resolução CFM
1.974/11, que traz as diretrizes de como a propaganda deve ser feita, de acordo
com o Manual de Publicidade Médica.
“Parabenizo o Cremesp por este evento porque a principal função dos Conselhos é
educar, é trazer a informação para que determinado ato não ocorra de maneira
ilícita”, disse. Segundo ele, o médico quase não entende das leis e
regulamentações que regem sua profissão, e existem propagandas que podem colocar
em risco a boa prática médica. “Pelo Art. 3º da lei de introdução ao Código
Civil, o médico não pode, em sua defesa, alegar que desconhece aquilo que
regulamenta a profissão”, alertou.
Respondendo a dúvidas dos residentes e alunos de Medicina, a conselheira
Juliana orientou sobre a proibição de postagens de fotos de pacientes, com base
nos princípios do Código de Ética Médica. Ela ressaltou o Art. 75, que veda ao
médico exibir pacientes ou imagens que os tornem reconhecíveis em anúncios
profissionais, mesmo com autorização do paciente.
Também comentou sobre fotos do tipo ‘antes e depois’, que também são vedadas,
de acordo com o Art. 13, do Manual de Publicidade Médica. Ela explicou que
“todas essas proibições estão relacionadas ao fato de que a Medicina não é uma
ciência exata, nem tampouco uma atividade fim, mas sim, de meio”. Em
outras palavras, o médico não pode prometer resultado, pois o seu objetivo, em
qualquer tratamento, é utilizar de todos os meios ao seu alcance em busca da
cura ou resultado, e não este em si mesmo.
Para assistir à íntegra das palestras e do debate, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=m0GfXf9mjro
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