O metaverso é realmente um ambiente mais seguro?
*Por Adriano da Silva Santos
À medida
que o metaverso dá o salto para a realidade, os
profissionais estão ansiosos para descobrir onde essa nova fronteira se
encaixa em suas estratégias. Algumas das pressas para aderir
ao metaverso podem ser o resultado de marcas que
não querem repetir erros passados de ficar de fora por muito tempo, quando
surgiram tecnologias digitais em movimento rápido. O McDonald 's, por
exemplo, entrou no Twitter em 2009 - três anos após o lançamento da
plataforma. A Apple foi ainda mais tarde, não aderindo até 2011.
Para
muitos, o metaverso é o próximo passo natural para a
internet. O Facebook mudou seu nome para Meta, sinalizando um
maior foco nisso, em um momento no qual as mídias sociais estão mostrando
sinais de amadurecimento. Uma plataforma conectada onde as pessoas podem se
reunir e se envolver no comércio digital pode ser o próximo passo
para as mídias sociais. As marcas não se limitam mais a espaços físicos —
ou produtos físicos — à medida que esse universo cresce em valor.
Por outro lado, há evidências de
que, como em outras plataformas digitais, à medida que a popularidade aumente,
chame a atenção de maus elementos, assim como grupos extremistas ou de
ódio, que por sua vez, podem usá-la de maneira a disseminar suas
ideologias.
Em um primeiro
momento, o metaverso foi saudado como uma maneira de
potencialmente restringir esses discursos on-line, ao mesmo tempo em que
protegeria a privacidade do usuário. A ideia inicial era de que plataformas
como a Decentraland poderiam ajudar a eliminar as narrativas desse tipo através
de contratos inteligentes e monitoramento comunitário. A maioria dos espaços
metaversos são administrados pelo usuário, o que significa que
eles têm a capacidade de banir infratores.
Em teoria, isso é ótimo. Se alguém
entra em uma barra virtual com uma calúnia para o nome de usuário,
essa pessoa pode ser facilmente eliminada e ejetada. No entanto, na prática,
isso provou ser menos eficaz do que se poderia esperar. Por exemplo, a
comunidade que governa a Decentraland não conseguiu reunir votos
suficientes para proibir o uso de "Hitler" como parte de um
nome de usuário.
Portanto, é imprescindível que as
empresas pensem em maneiras de impedir que seu espaço metaverso seja
invadido por usuários que tenham esses vieses. Em contrapartida, de acordo com
a maioria dos especialistas no assunto, a Web 3.0, assim
como o ambiente meta pode e deve ser menos arriscado do que
outras plataformas, visto que as comunidades que estão envolvidas com ela
são muito mais fechadas.
Entretanto, é importante ressaltar
que a auto regulação pode ser evasiva e autoritária. Permanecem dúvidas
sobre como as coisas devem ser reguladas e quem deve fazer a regulação. Há
preocupações de que plataformas como a própria Decentraland e outras,
possam depender demais dos usuários para administrá-las e moderar as
discussões. Em última análise, cabe às marcas garantir que sua pegada digital
permaneça segura, especialmente por conta das questões sobre a escalabilidade
desses métodos.
Contratos inteligentes
Uma maneira de aumentar a segurança
da marca é através do uso de "contratos inteligentes". Estes
programas são armazenados no blockchain que só são ativados sob
certas condições. Se as condições do contrato inteligente forem
violadas, o programa não será executado. Se as marcas
construíram certas regras em torno do decoro e comportamento em um contrato
inteligente obrigatório, elas podem ser capazes de se manter seguras.
Contratos inteligentes podem ser uma
forma de mitigar alguns riscos para as empresas. Não obstante, elas jamais
devem realizar esses contratos sem uma boa gestão e com profissionais que
entendam bastante sobre o segmento. Antes de montar um contrato
inteligente, é preciso ter uma equipe que entenda bem sobre os dilemas e
percalços da implantação dessa tecnologia.
Embora muitas marcas insistam em
fazer parte do metaverso e produzir NFTs, algumas não querem ser
pagas em criptomoedas. Isso pode complicar ainda mais as coisas se elas
não quiserem criar uma carteira digital. Sem uma carteira digital,
qualquer pessoa pode ser roubada no metaverso, já que sua criptomoeda é
deixada desprotegida. Esse fenômeno se dá pelo fato de que alguns especialistas
acreditam na tese de que o mercado atual de NFT é uma bolha pronta
para estourar. Outros enxergam como a espinha dorsal desse novo mundo
digital. Em suma, nem todos estão confortáveis em investir.
Embora carteiras e contratos
inteligentes tenham o potencial de manter marcas e consumidores
seguros no metaverso, educar as pessoas sobre como elas trabalham
provavelmente será um desafio, já que muitos não entendem o que
isso implica. Atualmente, apenas 38% dos americanos estão familiarizados
com o metaverso, e 42% dos familiarizados com a plataforma podem
descrever corretamente o que ela é, segundo pesquisa da Ipsos. Tal
realidade deve ser ainda mais profunda no Brasil, dado ao fato de que essas
inovações são ainda mais recentes em nosso mercado.
Não estamos prontos para
isso
Apesar do
hype, o metaverso é uma tecnologia ainda em um processo de
maturação e sua capacidade de obter uma adoção mais ampla pode ser
prejudicada à medida que um acerto de contas mais amplo em torno da privacidade
digital ocorra. Surgiram, por exemplo, preocupações em relação a grande
quantidade de dados que o metaverso criará em seus usuários,
como a biometria.
Com a tecnologia sendo
tão nova, alguns experts do assunto estão se perguntando, que talvez
as marcas estão se movendo muito rápido, dada a forma como a
adesão do consumidor permanece baixa. Uma parcela deste problema é que se leva muito tempo
para configurar um avatar. Para muitas marcas, a novidade
do metaverso por si só pode não ser suficiente para obrigar os
usuários a se juntarem a esse universo.
Todavia, existe uma
conexão estabelecida com a cultura juvenil, os consumidores podem estar
dispostos a ignorar os problemas do metaverso. Por exemplo, a base de fãs
da Nike pode aparecer disposta a usar a tecnologia para se envolver com
sua marca favorita. Porém, uma empresa mais nova tentando
usar o metaverso para se estabelecer, pode obter uma resposta
sem tanto êxito assim.
Por fim, outra desvantagem para os profissionais é que neste instante não há um metaverso unido, o que existe é várias plataformas, sem uma interconectividade. Marcas que se concentram demais no onboarding podem perder todo o ponto de conexão virtual e interação. Em seu núcleo, o metaverso é um jogo. Então, embora seja uma maneira de as pessoas passarem o tempo online e se conectarem com amigos, ele não deve ser tratado como outras plataformas de mídia social. Em vez disso, as empresas devem pensar em termos de videogames e projetar sua estratégia para se adequar ao que torna o jogo atraente.
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