Crianças em lares com dificuldades financeiras podem ter interação verbal comprometida
*João Victorino
Estudos recentes publicados na revista
britânica Nature
alertam para o fato de que crianças de famílias com dificuldades
econômicas podem ter um vocabulário mais limitado, quando comparado ao
repertório de crianças de famílias que não enfrentam esse problema.
Vários estudos conduzidos nos Estados
Unidos, como os indicados no PubMed
demonstraram uma forte evidência de conexão entre o nível socioeconômico da
família e o ambiente onde são produzidas tanto a linguagem como também o
desenvolvimento da fala nas crianças.
As razões para este fenômeno estão
correlacionadas às preocupações ocasionadas pela situação de vulnerabilidade
gerada por dificuldades econômicas vividas pelos chefes da família.
Dessa forma, pais e mães que não têm
segurança sobre a capacidade de terem recursos financeiros à disposição para
pagar suas contas, têm uma menor interação verbal com seus filhos do que as
famílias que vivem situações menos desconfortáveis.
O comportamento de um pai ou uma mãe que
chega em casa com preocupações (estresse e dúvidas sobre o futuro) tende a ser
de expressar menos palavras. Certamente, em casos assim, passa a existir um
desconforto pessoal e até certa vergonha. O estímulo para a interação verbal é
reduzido e, portanto, a interação com os filhos, comprometida.
Outros estudos apontam não só para
redução da quantidade de palavras faladas diretamente para as crianças, mas
também na diminuição da qualidade das palavras e das frases. Tudo isso está
diretamente conectado à existência de uma situação de vulnerabilidade
financeira dessas famílias, definida pelo seu nível socioeconômico.
Como explicar esses fenômenos? As
preocupações pelo estado financeiro da família disputam a energia que os pais
teriam para dar atenção a brincadeiras, conversas ou outras atividades que
deveriam aumentar o entendimento das crianças e de suas capacidades de
expressão e fala.
Tem sido campo de estudos o fato de que
pessoas com baixa capacidade de honrar seus compromissos têm um impacto na sua
capacidade cognitiva. Suas habilidades para refletir sobre os problemas fica
comprometida, o que pode atrapalhar a execução de inúmeras atividades e tarefas
corriqueiras, até mesmo a capacidade da pessoa se organizar para buscar sair
dessa situação.
A interação limitada com os filhos,
nesse caso, também passa a ser reflexo desse impacto severo na vida das
pessoas. Essa redução na interação verbal com os filhos não se dá na mesma
intensidade ao longo do tempo. Dentro de um mesmo mês, o comportamento pode se
alterar. Por exemplo: quando o pagamento (o salário ou até as ajudas de
governo) chega, temos um aumento das falas dirigidas aos filhos e da capacidade
deles de aquisição de linguagem. Em contrapartida, as interações voltam a se
reduzir ao longo do próximo ciclo, em caso de manutenção da situação
financeiramente instável, o que, infelizmente, parece ser o que mais acontece.
O tema é especialmente importante para
os pais de crianças em idade de 1 a 3 anos, na primeira infância, onde o
desenvolvimento da fala parece atingir seu auge, mas impacta as outras idades
também.
Muitos estudos têm trazido mais luz a
esses temas e nos levam a refletir sobre o imenso problema que as dificuldades
financeiras podem causar às nossas famílias e às nossas crianças.
E a educação financeira com isso? A
Educação Financeira parece não ajudar as famílias com maiores dificuldades de
ter a garantia de sustento diário. Para esses casos, é preciso urgentemente
focar em políticas públicas eficazes que ataquem esse problema em diversas
formas.
Mas, para alguns grupos de maior renda,
onde a desorganização financeira, o excesso de dívidas e até a falta de
controle levam a comportamentos semelhantes em casa. Portanto, podemos defender
que investir tempo em aprender sobre o tema ajudaria muito.
Sobre João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas pela Universidade Ibirapuera e MBA pela FIA-USP. Hoje como uma carreira bem-sucedida, busca ajudar as pessoas a melhorarem suas finanças e a prosperarem em seus projetos ou carreiras.
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