Dia do Economista: a falta de reconhecimento de classe e o resultado para o Brasil
*Daniel Schnaider
Uma das
coisas que chamam muita atenção pra alguém como eu, que morou 20 anos em outro
país, é o quanto é poderosa a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Apenas a
unidade de São Paulo arrecada quase 400 milhões de reais, e considerando que a
terra da garoa é um terço da economia brasileira, a gente pode pressupor que no
país arrecada por volta de um bilhão por ano.
Agora, você deve estar se perguntando:
mas por que isso é relevante no Dia do Economista? Pela falta de um órgão que
tenha essa força para nós, os gestores do sistema financeiro.
Meu pai era presidente do clube de
engenharia, que nos anos 80 no Rio de Janeiro, era uma instituição com muita
influência. Mas não há nada parecido para os economistas e então a pergunta que
vem à cabeça é: mas o que isso mudaria?
A falta de um órgão desse porte causa
uma distorção social terrível para o Brasil. Eu mesmo participei de várias
convenções da OAB, e na minha posição, conversei com vários advogados – os
melhores em diferentes áreas – e vejo que eles participam de debates onde seria
primordial ter economistas presentes. Mas pela falta de organização, poder e
influência da classe no país, não se encontram esses profissionais nestes
lugares de fala.
Vou dar um exemplo, a LGPD, é um
discurso que deveria ser embasado em teorias da economia. Planos de negócios
para testar a viabilidade deveriam ser incluídos, mas não, é muito marginal. Ou
mesmo um processo de falência, que antes era necessário um economista para
avaliar, hoje basta um advogado assinar. Que conhecimento uma pessoa do
jurídico tem com números, ou mesmo na possibilidade da recuperação daquela
empresa?
A questão é: quando implementamos uma
lei, ela terá um impacto social e, sendo assim, um efeito econômico. E
percebemos que nossa legislação é impressionante, no ponto de vista jurídico.
Mas nas contas elas nem sempre trazem os benefícios necessários à população.
Inclusive, eu defendo considerar que no
Supremo Tribunal Federal (STF), não só deveria ter juízes, que vem do direito,
mas também pessoas da sociedade civil, que são renomadas, que tenham o
conhecimento equivalente à envergadura dos que já estão por lá. As indicações
políticas tomam conta e os assessores fazem todo o trabalho, um mérito que não
é bem direcionado.
Precisamos como brasileiros, do
envolvimento de microeconomistas, que poderão dar o apoio às pessoas físicas,
microempreendedores e empresas; e macroeconomistas que possam focar em redução
de desempregos, alinhar juros e inflação, quantidade de investimentos, entre
outros pontos importantes para fazer a engrenagem econômica funcionar. Sem
falar na necessidade dos econometristas para alinhar estatísticas e âmbitos
econômicos.
O que precisamos ter em mente é que,
principalmente, os economistas lidam com decisões dentro de um cenário escasso,
ou seja, é determinante alguém que consiga avaliar o que tem, as melhores
alternativas e o que é importante fazer naquele momento. Se esses profissionais
estivessem mais envolvidos em processos sociais de construção de leis e
políticas públicas, com certeza seriam bem melhor avaliadas e com propriedade
de onde seriam reduzidos valores.
Os advogados não foram preparados para
avaliar o significado econômico social de um artigo de lei, pois esse não é o
ponto de vista jurídico, eles têm a própria função. Não foram ensinados a
responder demandas de custos, utilidade e nem retorno sobre investimento.
Então, qualquer passo em falso, pode causar um transtorno social enorme.
Todas as vezes que me deparei com um
projeto de algum estado e cidade, ou mesmo federal, dificilmente podemos
encontrar um bom plano econômico que sustenta a decisão. As decisões,
geralmente, são tomadas com base política e não como deveria ser: ter
diferentes soluções, validar a utilidade pública, apresentar os critérios e
forma de calculo à população e deixar o ponto de vista técnico mostrar qual é a
melhor decisão. Neste lugar, um bom economista tem a capacidade de apresentar
aos executivos, os critérios, pesos e alternativas, bem como um modelo que
permite avaliar qual a melhor decisão com as informações obtidas até então.
Nessa polarização vivenciada atualmente,
não há outro momento melhor do que apresentar a inteligência econômica para a
população, e mostrar um processo de tomada de decisão baseado na economia, ou
seja, onde se maximiza o bem estar social relacionado às esferas como cultura,
empregabilidade, religião, entre outras. Enquanto isso não for efetivo, a
criação destes lados da história política no Brasil irá continuar abastecida
pela emoção, sem raciocínio lógico, que gera diferentes resultados.
O que movimenta a paixão é a falta do
conhecimento do impacto econômico na sociedade de cada decisão política,
afinal, a hora que os números entram, ou seja, quando usamos o pensamento
econômico, conseguimos manter um debate com críticas baseadas em probabilidades
reais e experiências.
Agora é a hora dos economistas se unirem
para criar uma organização e galgar a influência nas políticas públicas e
privadas necessárias em todas as esferas do país, porque a ciência que estuda a
maximização do bem estar social e a melhor decisão a ser tomada é a economia.
*Daniel Schnaider é economista, administrador e engenheiro de software. Também é autor da obra "Pense com calma, aja rápido".
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