Fintechs e bancos como aliados em meio à crise
*Por Hamilton Ribas, CEO da Limite na Hora
É muito comum o
pensamento de que bancos e fintechs são os novos inimigos mortais do mercado
financeiro, e há razões contundentes para se pensar assim. Os bancos são
instituições financeiras que existem há muito tempo, seguindo o mesmo formato
tradicional. Além disso, têm grandes prédios e estruturas físicas que
contribuem para uma imagem de solidez e estabilidade. Quem não se lembra de
seus pais ou avós falando o quanto uma pessoa se deu bem na vida porque era
“bancária”?
As fintechs,
entretanto, são estruturas financeiras recentes, que nasceram na efervescência
do mundo digitalizado. Elas têm a tecnologia como pilar fundamental de todos os
seus produtos e serviços, não costumam ter grandes estruturas físicas (o que
reduz o seu custo de manutenção) e provavelmente seus avós não entendem como
funcionam.
Mas eu acredito que,
ao invés de criar um abismo irreconciliável, as diferenças entre um tipo de
negócio e outro podem transformar-se em pontos de complementaridade. Os bancos,
por exemplo, justamente porque têm uma estrutura tão grande, existe a
dificuldade em implementar soluções. Cada mínima alteração de planejamento
exige a formação de conselhos, demanda a aprovação de cotistas e a adequação é
lenta.
As fintechs, no
entanto, são menores e mais dinâmicas, não dependem de tanta burocracia. Por
isso, as soluções podem ser propostas, testadas e implementadas muito mais
rapidamente, porque existe agilidade para a tomada de decisão. Isso também
permite antever os problemas e preveni-los.
Pensando nesses
exemplos, faz sentido que os bancos implementem soluções já validadas por
fintechs, ou que utilizem os fluxos de fintechs como exemplos para dinamizar
seus processos burocráticos.
Outra coisa muito
dispendiosa às fintechs é a utilização da tecnologia como princípio
fundamental. A maioria delas permite que o cliente acesse todos os serviços
financeiros e as vantagens disponíveis pelo smartphone, sem nunca precisar
pisar os pés em uma agência, por exemplo. Essa, é claro, uma tendência global,
os próprios bancos tradicionais já dispõem dessas funcionalidades. Mas acredito
que se trata de uma questão cultural e até mesmo que envolva gerações.
As fintechs estão
cheias de jovens, nativos digitais, com uma mentalidade mais fresca para pensar
na resolução de problemas a partir de tecnologias inovadoras. Os grandes
bancos, entretanto, estão cheios de profissionais experientes, com vasto
conhecimento no gerenciamento de crises e aptos a lidar com as intempéries da economia.
Não é preciso muito esforço para imaginar como um grupo pode auxiliar o outro.
Costumo dizer que os
bancos são como grandes transatlânticos e as fintechs como jet skis. Se deseja
alterar sua rota logo à frente, o navio precisa muito antes já começar a fazer
a curva, enquanto o jet ski faz essa correção de trajeto em poucos segundos. Os
“navios” podem encarar os “jet skis” como ameaças ou como aliados, é tudo uma
questão de mentalidade. E isso parece que está ficando claro no mercado
financeiro, em que muitos bancos têm incorporado as fintechs ou criado as suas
próprias.
O fato é que, quando o
mar está agitado, toda colaboração é mais que bem-vinda.
* Por Hamilton Ribas, CEO da Limite na Hora, startup de empréstimos pessoais facilitados – e-mail: limitenahora@nbpress.com
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