Museu do Holocausto de Curitiba lança material sobre circo e resistência ao nazismo
Quem nunca ouviu a famosa expressão “respeitável público”? “Desrespeitável público: o circo como possibilidade de resistência durante o Holocausto” é um material educativo transdisciplinar desenvolvido pelo Museu do Holocausto de Curitiba com apoio do Circonteúdo, o portal da diversidade circense. Concretizado após três longos anos de pesquisa interna, buscou, em diversas fontes, atingir respostas satisfatórias e criar possíveis conexões entre o circo e a resistência ao nazismo.
Neste
projeto, estão reunidas histórias extraordinárias, algumas de emaranhados
familiares como os Lorch, os Strassburger e os Blumenfeld. Destacam-se
trajetórias de artistas, trupes mambembes e donos de circo que lidaram com os
altos escalões nazistas e que inclusive salvaram a vida de judeus – estes
receberam, posteriormente, o título de “Justos entre as Nações”. Além de imenso
material iconográfico, a iniciativa aborda o contexto do circo na Alemanha do
entreguerras, as relações com o nazismo e aspectos da reconstrução e da resiliência.
Há ainda sugestões de filmes e atividades pedagógicas para estudantes de
diferentes idades.
O material é gratuito e está disponível para download no link: https://bit.ly/3c1ANUR
Circo e Holocausto
Durante séculos, os circos europeus foram dirigidos por grupos minoritários,
com artistas de todo o mundo e de inúmeras origens: ciganos de vários grupos,
judeus, yeniches e pessoas com deficiências, por exemplo. Como tal, a essência
transnacional dos circos funcionava como uma porta estreita para a aceitação da
alteridade, ou seja, perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva. Por
outro lado, o nazismo via a redenção da Alemanha por meio da regeneração
completa e purificação racial do que chamavam de “raça ariana”, cuja missão
seria comandar a futura marcha da humanidade. Por isso, seria preciso estar
livre da influência do que chamavam de “raças inferiores” e de grupos
considerados inimigos ou degenerados.
A premissa desse material pedagógico é que haveria, em tese, um profundo choque
de valores entre o circo tradicional e o regime nazista. Desde o início da
pesquisa, fugindo de uma noção simplista de que a relação entre circo e
resistência seja óbvia, destacamos a palavra possibilidade. A ideia central era
mostrar como o circo e seu modo de vida (e não somente pessoas que por acaso
fossem artistas circenses) abriram um potencial (que se concretizou em alguns
casos) para promover uma contestação e resistência ao regime nazista.
Hipóteses a serem confirmadas sugeriam uma resposta à uniformidade étnica e
cultural a partir do cosmopolitismo do circo, o papel social marginalizado dos
artistas e o caráter itinerante como forma de estabelecer contatos. Tudo isso
com o objetivo de expor não apenas a relação dúbia do nazismo com o circo, mas
de compreender possíveis atos de resistência e estratégias de segurança
conectados aos princípios e virtudes universais que a atividade circense
carrega há gerações.
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