Twitter x Musk: uma batalha que pode impactar o futuro de como nos comunicamos
*Por Fernando Moulin, partner da Sponsorb,
professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do
cliente
Após o homem mais rico do mundo desistir
de comprar o Twitter, o caso vem gerando especulações em diversos segmentos do
mercado e pode ter impactos decisivos na estrutura do consumo de informações –
permeada pela tecnologia – e na vida dos usuários das redes sociais. Isso
porque Elon Musk alegou que a
quantidade de contas falsas (que incluem robôs) na rede social
é de quase 20% do total de usuários ativos, embora a empresa afirme
que o percentual é de 5%.
O acontecimento foi parar na justiça
americana e a “bomba” jogada pelo bilionário impactou diretamente o valor de
mercado do Twitter. O preço das ações caiu mais de 40% em apenas três dias. A
oferta de Musk condicionava a compra a um valor por ação de US$ 54,20, e hoje o
papel se encontra a aproximadamente US$ 32,50. A ver como serão os desdobramentos
dessa questão e o que virá até o julgamento acelerado entre as partes, marcado
para outubro.
Mas as consequências do retrocesso no deal
vão além: o Twitter precisa acelerar seus esforços na reversão dessa imagem e
focar no controle das fake news
– um dos principais males da sociedade virtual, para melhorar sua proposição de
valor como um todo. Essas notícias falsas deterioram o valor de mercado das
plataformas, porque afetam a experiência dos usuários e “inflam”
artificialmente os dados de uso utilizados pelos anunciantes em seus planos de
mídia junto a esse formato.
Essa questão é relevante para o
mercado há algum tempo, mas seus desdobramentos podem impactar ainda mais
diretamente a vida dos usuários e a forma como consomem informação. A União Europeia
vem exigindo maior transparência de todas as plataformas digitais em seus
termos de uso, códigos-fonte e regras de privacidade; com o constante aumento
dos investimentos publicitários nos meios digitais, os anunciantes demandam
acurácia e assertividade na alocação de seu dinheiro; e,com
esse tema em alta, outras plataformas também tendem a multiplicar esforços de
remoção de notícias e contas falsas para viabilizarem a qualificação do
conteúdo publicado.
O aumento desse controle não mudará
apenas o tipo de informação veiculada, mas espera-se que traga maior
transparência para a população acerca de como seus dados são tratados, usados e
manuseados pelas redes –pois, como já se viu, a difusão de fake news
impacta até mesmo o entendimento sobre as guerras e coloca riscos sobre
resultados de eleições pelo mundo, incluindo o Brasil.
Outra consequência, uma das mais
temidas (ou celebradas) do acordo com Elon
Musk, consiste na mudança radical das políticas e dos termos de uso atuais do
Twitter, que vêm sofrendo enormes modificações e ajustes desde 2020, rumo à
moderação e ao controle da publicação de fake news
na plataforma. O movimento de banimento do ex-presidente Donald Trump até hoje
é comentado, e Elon
Musk acenou diversas vezes a favor de mais flexibilidade nos critérios
editoriais para publicações na rede social.
Outro desafio do Twitter em médio e
longo prazo após a perda do negócio que tinha condições bastante vantajosas
para os acionistas é que a drástica
redução do valor de mercado deixa a organização mais vulnerável ao recebimento
de novas ofertas “hostis” de aquisição. Logo após o fim do quase casamento com
Musk, por exemplo,as
ações da plataforma deram um salto de 8% após a Hindenburg Research,
mais conhecida por fazer vendas a descoberto, ter dito que construiu uma
participação significativa na empresa. A marca, conhecida por apostar contra
outras empresas, liquidou em maio sua posição vendida na plataforma, alegando,
na época, haver risco considerável de que o acordo entre o Twitter e Musk seria
reprecificado
a um patamar mais baixo em relação ao valor originalmente pactuado.
Agora o processo do Twitter, que busca
manter a compra, foi protocolado junto à Corte de Delaware e deve dar início a
uma longa disputa judicial entre a companhia e o homem de bilhões. Muitas
coisas ainda podem mudar e o destino do Twitter é incerto, mas vale aproveitar
a ventilação de dados para aprimorar a experiência pública e aplicar novas
estratégias contra as fake news
e seus impactos na sociedade. Não podemos nos esquecer de que o Twitter ainda é
uma das maiores e mais abertas fontes de informação e conhecimento do mundo, e
seu fortalecimento e reconstrução futuras certamente poderão ser extremamente
benéficas para todos os que acreditam e apoiam uma sociedade mais digital e
justa.
*Fernando
Moulin é partner da Sponsorb, consultoria boutique de business performance, professor e
especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente.
E-mail: fernando.moulin@sponsorb.com.br
Sobre Fernando Moulin
Natural de Volta Redonda (RJ), Fernando Moulin é um dos principais especialistas brasileiros em transformação digital, inovação e gestão da experiência do cliente, além de ser um dos pioneiros do marketing digital/CRM no país. Graduado em engenharia química pela Unicamp, possui MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e realizou cursos de marketing e negócios em diversas instituições internacionais, como Kellogg/NorthWestern (Estados Unidos), INSEAD (França), Cambridge (Reino Unido) e Lingnan University (China). Tem mais de 20 anos de experiência na função de executivo em grandes organizações, como Telefônica/Vivo, Cyrela, Nokia, Pão de Açúcar, Claro, Citibank, entre outros. Cofundador da Malbec Angels, mentor de startups e advisor estratégico, também é palestrante profissional e professor de disciplinas ligadas às áreas de expertise em instituições como a ESPM, o INSPER e a Live University, além de colunista de diversos veículos importantes de mídia e jurado de diversas premiações de mercado. Atualmente, é partner da Sponsorb, consultoria boutique de business performance. Para mais informações, acesse: www.linkedin.com/in/fernandomoulin/, ou veja a palestra no TEDxSP: https://www.youtube.com/watch?v=6tUJuZopcsA
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