Cobre como elemento chave da reciclagem consciente
Por: Márcio Rodrigues da Silva
O uso do Cobre
tem sido ampliado significativamente nos últimos anos, impulsionado
principalmente pelas tecnologias emergentes voltadas a geração de energia por
fontes renováveis, telecomunicações, refrigeração e mobilidade. Além disso, as
várias combinações de ligas de Cobre conferem versatilidade ímpar, sendo opção
viável em várias novas aplicações e segmentos de mercado.
O advento
destas novidades resulta em um aumento contínuo das taxas de consumo per capita
de Cobre, o qual aumentou 2,5 vezes nos últimos 70 anos e atualmente se
encontra em 3,2 kg/pessoa (ICSG, 2021). Este fato, combinado com o contínuo
crescimento populacional, apontam para um cenário promissor para o mercado de
produtos de Cobre, sem indícios aparentes de estagnação a médio e longo prazo.
Inevitavelmente,
é percebida a necessidade de monitorar constantemente as reservas disponíveis
de Cobre Primário, tanto do ponto de vista econômico, quanto geopolítico. E,
embora se reconheça um contínuo crescimento da descoberta de novas minas, em um
aumento de 240 para 870 milhões de toneladas nos últimos 10 anos (ICSG, 2021),
é fundamental observar as potencialidades do uso do Cobre secundário (sucatas
de Cobre), obtido a partir dos processos de reciclagem, por uma série de
motivos, os quais serão descritos a seguir.
O Cobre é um material perene, principalmente por
sua característica de elevada resistência a corrosão e estabilidade frente a
uma significativa gama de agentes químicos. Um estudo apresentado por Glöser
(2013) estima que 2/3 dos 550 milhões de toneladas de Cobre produzidos desde o
ano 1900 ainda estejam em uso produtivo. Do ponto de vista prático, temos uma
“reserva urbana” de Cobre prontamente disponível para atender as demandas
produtivas.
O Cobre é
infinitamente reciclável, sendo um dos poucos materiais que podem ser
remanufaturados repetidamente sem alteração de desempenho. Desta forma, a
fabricação de semielaborados a partir de Cobre secundário possuem as mesmas
propriedades de um similar oriundo de fontes primárias. Neste mesmo princípio,
a fabricação do Cobre pode ser feita sem prejuízos a partir de fontes mistas,
permitindo uma gestão mais eficiente de recursos.
O efeito
combinado de sua perenidade e reciclabilidade infinita permite constatar que o
processo de reciclagem do Cobre é aliado do Meio Ambiente, pois um produto
feito com ligas de Cobre, quando atinge o fim de vida, gera uma sucata íntegra,
de elevado índice de aproveitamento de massa, e resultando em menor aporte de
energia elétrica para a sua transformação. Este aspecto pode ser o fiel da
balança na composição de estudos de viabilidade de projetos e novas
instalações.
As vantagens
até agora citadas permitem vislumbrar grande potencial para o crescimento do
consumo de sucatas, uma vez que atualmente os novos semielaborados de Cobre
fabricados utilizam cerca de 35% de matérias primas secundárias. Porém, para
este crescimento acontecer de forma saudável e sustentável, faz-se necessário
manter agenda com ações coordenadas pela sociedade civil, apoiadas pelo
aprimoramento e fiscalização das políticas públicas.
O Brasil teve
avanços significativos desde a aprovação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) - Lei nº 12.305/2010. Porém, está clara a necessidade de
contínuo incentivo para a profissionalização e transferência de conhecimento
para os receptores e intermediadores de sucatas, principalmente sob o ponto de
vista técnico, tributário e ambiental. Dentre as ações, podemos destacar os
impactos positivos do trabalho da ABCobre em conjunto com o Ministério do Meio
Ambiente e Governo Federal nos últimos anos, com a emissão da cartilha
“Reciclagem Consciente”, fomentando a adoção de melhores práticas para o manejo
de sucatas de cabos elétricos, com o intuito de reduzir possíveis impactos
ambientais resultantes da incineração incorreta das capas poliméricas para
refino do Cobre.
Outra
iniciativa a ser incentivada é a adoção de metodologias de projeto baseadas nos
princípios da Economia Circular, tais como o Design for Environment, no intuito
de assegurar as melhores práticas para reduzir os impactos ambientais em todo o
ciclo de produção dos produtos. Neste sentido, o Cobre reúne todas as
características necessárias para ser o elemento chave da reciclagem consciente,
e sem dúvida exercerá cada vez mais um importante papel no estímulo da
fabricação de bens de consumo pautados em responsabilidade ambiental e sustentabilidade.
Márcio Rodrigues da Silva é coordenador do CPDE – Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensaios, da Termomecanica, empresa líder na transformação de cobre e suas ligas.
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