Dívidas, parente indesejado em 80% dos lares brasileiros
Lidar com as dívidas continua sendo um dos grandes desafios do brasileiro. O mais recente levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em conjunto com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), escancara o problema: quatro em cada dez brasileiros adultos (39,71%) estavam negativados em setembro de 2022, o equivalente a 64,25 milhões de pessoas. Destaque para as dívidas com bancos que cresceram quase 38%.
Os dados mostram ainda que em setembro,
o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 11,17% em relação ao
mesmo período do ano anterior. Um verdadeiro raio x da dificuldade mensal
enfrentada pelos consumidores para manter as contas em dia.
O número de brasileiros endividados é
recorde da série histórica do estudo, realizado há oito anos. Com renda menor
em um cenário de juros altos e inflação que corrói o poder de compra, os
brasileiros, em especial os mais pobres, não conseguem manter o orçamento
equilibrado. A inflação dos alimentos, por exemplo, é a maior desde o Plano
Real.
Para ajudar os brasileiros endividados,
no ano passado foi criada a Lei do Superendividamento, com vários mecanismos
para tirar os consumidores da inadimplência. O principal objetivo é ajudar os
endividados e também oferecer ferramentas para evitar que os consumidores façam
dívidas que não possam pagar.
Uma das principais ferramentas,
regulamentada recentemente, é a possibilidade de negociação, uma espécie de
recuperação judicial para as pessoas físicas endividadas. Decreto publicado em
julho regulamenta as normas relativas ao “superendividamento” e estabelece que
ao negociar esse tipo de dívida, deve ser garantido ao cidadão ao menos 25% do
salário mínimo, R$ 303,00 nos valores de hoje, para suas necessidades básicas.
Como muitas pessoas acabam se endividando porque entram em um ciclo vicioso ao
fazer uma dívida para pagar outra, o objetivo é criar condições para o
superendividado sair do sufoco sem comprometer o básico para sua existência.
Sem dúvida, a negociação justa é um dos
principais caminhos para quem precisa sair do superendividamento. Mas
considerando os recentes recordes de dívidas entre os brasileiros, parece que a
Lei do Superendividamento ainda não surtiu o efeito desejado.
Faltam políticas concretas para acabar
com o problema. E enquanto o socorro não vem, brasileiros seguem secando gelo.
Não por acaso, o empréstimo consignado vinculado ao Auxílio Brasil tem sido
alvo de tantas críticas. O auxílio foi criado para os ajudar os mais
necessitados, mas pode se transformar em uma emboscada já que as parcelas serão
descontadas diretamente do benefício, independentemente do que vai acontecer
com os programas assistenciais a partir de 2023.
Em 80% dos lares brasileiros, onde estão
as famílias endividadas, a prioridade é vencer o mês. Para essas famílias,
pedir para pensar no futuro é exigir demais. A solução precisa vir de cima e
ser mais que promessas vazias, capengas e espalhafatosas.
Rogério Araújo é gestor e consultor financeiro, especialista em investimentos, fundador da Roar Educacional Consultoria e líder educacional na Empiricus Investimentos
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