O mundial de futebol no berço do preconceito
Francisco Gomes Júnior, advogado
constitucionalista, faz reflexão sobre o Catar, país sede da competição
Estamos a menos de um mês para o início
da Copa do Mundo no Catar. E na França e parte da Europa começaram a surgir
manifestações de desconforto com a realização do mundial em um país de
tradições que, do ponto de vista ocidental, são preconceituosas.
Atualmente, nossa sociedade dá muita
importância a temas como discriminação contra mulheres, intolerância sexual e
liberdades individuais. E o Catar é um dos países onde esses temas são
colocados à prova.
No Catar, ser LGBTQIA + é crime. De
acordo com o Código Penal deles, manter relações sexuais com pessoas do mesmo
sexo sujeita os envolvidos a uma pena que varia entre 3 e 5 anos de prisão e,
em casos mais graves, a punição pode ser até a pena de morte.
Por realizar o mundial de futebol em um
país que criminaliza o homossexual e as demais identidades de gênero que não
seja o heterossexual, a direção da competição afirmou não ter condições de
propiciar segurança plena a essas pessoas.
Diante de tal fato, questiona-se: por
que tantas marcas mundiais e, especialmente, as que operam no Brasil,
patrocinam o Mundial ou sequer se manifestam sobre o tema? Afinal, essas marcas
dizem respeitar a diversidade, as diferenças e realizam grandes campanhas
publicitárias para serem vistas como marcas inclusivas. Como explicar essa
contradição?
Além da discriminação com a liberdade
sexual e de gênero, há a discriminação contra a mulher, colocada sob tutela de
um homem (marido ou familiar). Uma mulher com menos de 25 anos não pode viajar
desacompanhada necessitando de autorização do homem responsável. Também é
necessária a autorização para que ela possa ir ao ginecologista, isso sem falar
em casamentos abusivos e sem direito a divórcio. A condição da mulher no Catar
viola os direitos humanos, mas é uma tradição que eles dizem respeitar.
O que temos são marcas inclusivas patrocinando eventos em um país discriminatório. Pouco adiantam as publicidades pela diversidade, as campanhas (sobretudo no Dia Internacional das Mulheres) de respeito às mulheres que falam em igualdade se, na prática, a empresa age de forma contrária, demonstrando que o discurso pode ser um, mas o que prevalece é a busca pelo lucro.
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