Reflexões sobre a construção de uma capability habilitadora de dados
Por JM Benedetto
Qualquer atividade empresarial deve
começar com o fim em mente. Isso inclui aquelas relacionadas aos dados. Dados
são meio, não fim. São ferramentas para atingirmos os objetivos do negócio.
Muitas vezes, esse princípio básico acaba esquecido ou atropelado pelo dia a
dia frenético das empresas. Nossas equipes acabam tão focadas no que fazem que
perdem de vista o motivo que as levou até a ação.
Muitos dos modelos conceituais que
usamos para operacionalizar nossas ideias no mundo comprovativo também tendem a
olhar atividades e fluxos do início ao fim. A cadeia de valor do dado é um
exemplo, com pipelines começando no dado bruto e terminando no valor criado
para o negócio. No entanto, ao montarmos um produto de dados, devemos seguir o
caminho contrário, discutindo qual efeito queremos causar, qual comportamento
humano precisamos mudar. Todo o resto é consequência dessa primeira análise.
Uma estratégia de dados deve combinar
processos, conhecimento e ativos em uma capability habilitadora de dados capaz
de criar valor nas diversas áreas de negócio da empresa. Ao menos três
componentes são essenciais para uma estratégia de sucesso:
- Aplicações: os problemas de
negócio que estamos tentando resolver com dados (ex.: recomendação de
produtos);
- Tech & Data: a base
tecnológica para suportar as aplicações. Aqui entram os dados, sua
governança, os softwares e hardwares utilizados (ex.: data lake, data viz,
data science, integração, ...);
- Pessoas: cultura data
influenced, data literacy, organização, perfil (ex.: treinamentos,
mentorias, requisitos de cargo, avaliação de desempenho, cerimônias da
liderança, incentivos).
O caminho para construção de uma
capability de dados é tortuoso, com muitos percalços. Como ex-CDO (Chief Data
Officer) de um grande varejista de material de construção, tive a oportunidade
de aprender em primeira mão algumas lições sobre a introdução dos dados em uma
organização centenária. Compartilho a seguir alguns desses aprendizados.
Democratização de dados
A democratização do dado pede mais
governança, não menos. Não foi o carro quem transformou a mobilidade urbana; o
ecossistema que construímos no entorno do carro, sim (Detran, habilitação,
autoescola, estradas, legislação de trânsito, guardas de trânsito). Darmos
acesso às bases de dados ao negócio esperando que as equipes criem valor é tão
eficaz quanto acabar com a polícia e armar toda a população, esperando que as
pessoas se defendam.
Se quisermos dar mais liberdade ao
negócio, devemos estruturar, preparar, suportar, habilitar e controlar a
plataforma de dados. Uma das principais missões das equipes de dados é
construir quartos montessorianos para nossas equipes de negócio pensados para
suportar autonomia e experimentação. Isso nada mais é do que uma aplicação dos
preceitos de UX aos dados.
Ao mesmo tempo, não podemos cair no erro
de tentar governar tudo. Governar é uma atividade de gestão de risco e tem um
custo, seja em dinheiro, seja em velocidade. Governe o que é essencial. Não
temos um guarda de trânsito em cada carro, e ainda assim temos níveis
aceitáveis de riscos no trânsito.
Code para resolver o complicado,
no-code/low-code para todo o resto
Estamos ainda jovens na jornada de dados
nas empresas, e muita coisa está em construção. Quando a jornada começou o uso
de código era a única opção. Nossas equipes técnicas trabalhavam como artesãos,
construindo cada pipeline como um artista faz sua escultura. Com o tempo, o
conhecimento acumulado e a fatia de custos associada aos dados abriram a porta
para uma miríade de soluções técnicas, com foco na simplificação, robustez e
automação do trabalho das equipes de dados.
Já está na hora, portanto, de sairmos do
mindset de artesãos e abraçarmos a automação como novo paradigma de
desenvolvimento. Claro que ainda teremos partes do pipeline em Python, mas
apenas aquelas que não puderem ser resolvidas pelo caminho do no-code/low-code
(ferramentas para construção de aplicações sem necessidade de escrever código).
Essa mudança fará pelos produtos de dados o que a industrialização fez pelos
produtos físicos: uma queda drástica do custo, levando a uma explosão de
consumo.
Somos todos diferentes (ainda bem!)
Uma parte grande do desafio de uso dos
dados em processos de negócio não está na tecnologia. Muitas vezes, uma simples
regressão linear poderia mudar drasticamente a performance de um processo, se
fosse utilizada. A barreira está na cultura da organização, embrenhada no que é
considerado certo e justo, o que é reforçado pelos incentivos que damos para
nossas equipes.
Não há pílula mágica para a
transformação cultural. No entanto, sabemos que ela passa por empoderar as
equipes com conhecimento, apoio e direção, além, é claro, de incentivar os
comportamentos desejados. Aumentar o nível de data literacy das equipes se
inclui na categoria empoderamento, e é crítico na transformação
data-influenced.
Como dados tocam toda a empresa, por vezes
pensamos em iniciativas corporativas e padronizadas. No entanto, pessoas
diferentes precisam de níveis distintos de data literacy e, por vezes, de
abordagens de aprendizado adaptadas. A necessidade de cada um está ligada ao
papel que desempenha na organização, e também à sua personalidade. Assim,
qualquer programa de data literacy deve começar por identificar as equipes
responsáveis pelos casos de uso prioritários, agrupando as pessoas em
populações com perfis e necessidades semelhantes. Só então podemos pensar em
ações para aumentar o nível de data literacy de cada população.
As ferramentas de DataViz (visualização
de dados) podem ser um grande aliado na introdução dos dados ao cotidiano das
pessoas. Essas ferramentas são o primeiro contato das equipes com a aplicação
de dados a problemas de negócio (depois do Excel!) e estão por toda parte nas
empresas. Uma boa ferramenta de DataViz pode ser a garota propaganda do dado.
O DataViz, por definição, busca
simplificar o insight e tornar intuitiva a interação com o dado. A evolução das
ferramentas de DataViz são as plataformas de Analytics e, em especial, as que
suportam Augmented Analytics. Essas ferramentas oferecem uma combinação de
assistentes virtuais, linguagem natural e AutoML, entre outros facilitadores.
Quando combinadas, essas funcionalidades reduzem drasticamente o nível de
conhecimento necessário para o bom uso da ferramenta pelas equipes de negócio e
permitem que leigos realizem análises complexas.
Conclusão
Nós, profissionais de dados, temos a
missão de democratizar o acesso ao dado em nossas organizações. Como em
qualquer transformação organizacional, esse processo exigirá muito esforço, e
nem todos conseguirão terminar a jornada. Para aumentar a chance de sucesso,
podemos aproveitar o conhecimento coletivo que estamos acumulando como
comunidade. Alguns pontos importantes:
- Dados são meio, não fim. O fim
é o objetivo do negócio;
- Sem governança, não há
democratização de dados;
- Automação é essencial para
reduzir o custo das soluções de dados;
- Simplicidade primeiro, data
literacy sob medida depois.
A Qlik Cloud toca todos os pontos acima mencionados. Temos uma plataforma aberta que cobre da integração ao analytics. Do lado da gestão de dados, somos capazes de automatizar a construção de data lakes e data warehouses, bem como governar seu patrimônio de dados, independentemente dos seus fornecedores de storage, compute e analytics. Do lado do analytics, levamos suas equipes do insight à ação, lançando mão de automações e AutoML.
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