A.C.Camargo Cancer Center desenvolve estudo para ampliar tratamento imunoterápico de câncer de pâncreas
Pesquisadores
identificaram estrutura celular capaz de aumentar a resposta do organismo a
tumores de pâncreas
São
Paulo, junho de 2023 – Em maio, o grupo de
imuno-oncologia translacional do
Centro Internacional de Pesquisa (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center, Dr. Tiago Medina, Dra. Gabriela
Kinker e equipe, publicaram um artigo científico que pretende de
ampliar as opções terapêuticas para pacientes com câncer de pâncreas. O
objetivo do estudo é dar uma nova perspectiva sobre o papel do sistema imune
durante o tratamento de tumores de pâncreas.
O
estudo, denominado “Mature tertiary
lymphoid structures are key niches of tumour-specific immune responses in
pancreatic ductal adenocarcinomas”, é do tipo básico-translacional —
pesquisas realizadas em laboratório para entender em detalhes o comportamento
de cada tumor por meio de análises de dados experimentais.
Os
resultados revelam que as estruturas linfoides terciárias maduras (mTLS) agem
como compartimentos fundamentais para ampliar a resposta imune voltada para
adenocarcinomas ductais pancreáticos (tumores de alta agressividade no
pâncreas). “Essas estruturas são muitas vezes formadas em regiões contíguas ao
tumor, o que favorece a organização do sistema imunológico e propicia a
eliminação das células tumorais”, explica Medina.
Vale
ressaltar que o câncer de pâncreas é considerado extremamente agressivo e
possui poucas opções de tratamento. Além disso, possui uma taxa de
sobrevivência notoriamente baixa. Por isso, a compreensão da relação entre
esses tumores e o sistema imunológico é crucial para desenvolver novas terapias
eficazes.
Como a
estrutura descoberta funciona?
A
publicação demonstra que em adenocarcinomas ductais pancreáticos a organização
de células do sistema imunológico em estágio maduro são “estruturas-chave” para
o desencadeamento de respostas imunes contra o tumor. Elas abrigam um rico
emaranhado de células imunes – linfócitos B e T – que colaboram para
identificar e atacar os tumores.
“Quando
estes linfócitos atuam de maneira organizada, a comunicação entre eles é mais
eficiente. O linfócito B tem como principal função a secreção de anticorpos que
vão combater melhor o tumor. Já o linfócito T, da mesma maneira, se beneficia
dessa estrutura gerando uma resposta capaz de eliminar direta e adequadamente o
tumor”, acrescenta o Dr. Tiago Medina.
Nessa
organização espacial foi identificada na área central uma maior concentração de
linfócitos B, enquanto na área externa, ficam localizados somente linfócitos T.
Ao atingir um estágio de organização mais maduro, foi identificado pelos
pesquisadores o ponto alto da estrutura no combate à célula tumoral, onde há
maior resposta imune contra o tumor e maior eficácia do organismo do paciente
em resposta à imunoterapia.
A
estrutura possui diferentes etapas de desenvolvimento e maturação. Dedicados ao
projeto conduzido no laboratório de Imuno-oncologia Translacional do CIPE, os
pesquisadores notaram que as respostas imunes contra o tumor são desenvolvidas
somente quando as estruturas estão completamente maduras. O processo de
amadurecimento é gradual, complexo e envolve diferentes etapas que culminam na
formação do centro germinativo, uma região necessária para a formação de
anticorpos contra o tumor.
Este
entendimento pode abrir um precedente histórico para o desenvolvimento de novas
estratégias de tratamento que visam aprimorar a formação e função das mTLS, com
o objetivo de amplificar a resposta imunológica contra o tumor. Ele pode
ensinar a combinar eficientemente diferentes tipos de imunoterapias que
poderiam ser administradas simultaneamente. Deste modo, é possível transformar
um diagnóstico normalmente preocupante em uma condição mais controlável e,
eventualmente, curável para mais de 20% dos pacientes diagnosticados.
Próximos
passos
“Sobre
os desdobramentos clínicos deste estudo, notamos que os pacientes que formam
espontaneamente essas estruturas respondem melhor às quimioterapias e
imunoterapias”, acrescenta Medina. Após essa descoberta, os próximos passos são
evoluir a pesquisa e desenvolver medicamentos imunobiológicos que induzam o
organismo dos pacientes a gerar esse tipo de estrutura de maneira artificial
para os pacientes que não conseguem criar as estruturas naturalmente.
“Essa
seria uma alternativa para os pacientes refratários – que não respondem à
imunoterapia – passarem a responder ao tratamento. A grande descoberta do
trabalho é: a resposta do sistema imunológico é muito mais potente e vantajosa
quando as células se organizam nessas estruturas”, conclui Medina.
Para
Gabriela Kinker, o maior objetivo agora é desenvolver algum fármaco que faça
com que essas estruturas apareçam em pacientes incapazes de desenvolvê-las
naturalmente. “A ideia é induzir, de alguma maneira, a formação dessas
estruturas para beneficiar uma parcela significativamente maior de pacientes. A
partir daí, terapias combinatórias podem ser uma solução para aumentar a taxa
de pacientes que responderão eficientemente ao tratamento.”
Sobre
o A.C.Camargo Cancer Center
Inaugurado
em 1953, o A.C. Camargo Cancer Center tem uma trajetória grandiosa no combate
ao câncer, por ser um centro integrado de diagnóstico, tratamento, ensino e
pesquisa do câncer, referência internacional e modelo sustentável de atuação
social.
Os
pacientes recebem assistência integrada e humanizada, desde o diagnóstico até a
reabilitação. Na área da pesquisa, atua para ampliar o conhecimento e gerar
descobertas que representem avanços no tratamento, diagnóstico e prevenção da
doença. Na área de Ensino é a principal instituição formadora em oncologia do
país.
Ao todo, são mais de 5 mil profissionais engajados com o propósito de combater o câncer paciente a paciente.
Nenhum comentário