Longe de uma solução definitiva, despoluição visual continua sendo pauta nos grandes centros urbanos
Fiscalização mais rígida e frequente é vista como uma medida eficaz e de curto prazo que pode contribuir para a despoluição visual.
A poluição visual provocada pelo excesso de cabos nos postes urbanos tem se tornado um dos principais desafios de infraestrutura nos grandes centros. O emaranhado de fios, caixas e equipamentos visíveis nas ruas não apenas compromete a estética das cidades, mas também afeta diretamente a segurança, a eficiência dos serviços de telecomunicação e a mobilidade urbana. A discussão sobre despoluição visual ganha força em 2025, impulsionada por pressões regulatórias, disputas por espaço e a crescente demanda por conectividade.
De acordo com o gerente comercial da Fibracem, empresa especializada no mercado de comunicação óptica, o problema ainda está longe de ser apenas visual. “Hoje, temos postes com mais de 20 cabos, quando o ideal seria quatro ou cinco. E muitos desses cabos estão inativos, abandonados por provedores de internet (ISPs) que trocaram de rota ou encerraram contratos com clientes”, comenta. “Por outro lado, para atender à demanda por internet, que está cada dia mais forte, essa quantidade ideal de cabos não seria suficiente”, acrescenta.
Para o especialista, entre as alternativas de curto prazo que podem – de certa forma – contribuir para a despoluição visual, a fiscalização mais rígida e frequente é vista como a medida mais eficaz. Segundo ele, a exigência de regularização, com prazos definidos e cortes efetivos em caso de descumprimento, poderia forçar provedores a manterem suas redes em conformidade.
“Além disso, a adoção de projetos de rede mais estruturados, com uso racional de caixas e pontos de distribuição, pode reduzir consideravelmente o volume de equipamentos nos postes”, explica Rezende.
Hoje, o mercado já oferece Caixas de Terminação Óptica (CTO) de maior capacidade, capazes de atender até 24 assinantes e que, de acordo com Sebastião, podem ser instaladas no lugar de duas caixas menores.
Excesso de cabos prejudica o setor
Para os profissionais de campo do setor, o excesso de cabos também se torna um obstáculo gigantesco, já que dificulta a identificação de rotas, aumenta o tempo de instalação e manutenção e eleva os custos operacionais. Para o gerente comercial da Fibracem, por conta do excesso de cabos, o trabalho que levaria uma hora pode demorar o dobro só para identificar o cabo correto.
“Não só isso, ele [o excesso de cabos] também pode trazer riscos diretos para a população, pois cabos pendurados ou mal fixados podem causar acidentes com pedestres e ciclistas, por exemplo. Em casos mais graves, cordoalhas metálicas podem estar energizadas por contato indevido com redes elétricas e, com isso, oferecer risco de choque”, alerta.
Cabeamento subterrâneo não deve passar de tendência
Ainda segundo Sebastião, medidas enxergadas como ‘sonho de consumo’, como é o caso do cabeamento subterrâneo, continuam esbarrando em limitações econômicas. Embora o enterramento de cabos represente uma alternativa visualmente limpa e segura, o custo de implantação ainda é considerado inviável para a maioria das operadoras e ISPs. “É uma solução plausível do ponto de vista visual, mas a conta não fecha. No Brasil, ainda é muito mais barato lançar cabos nos postes”, afirma o especialista.
Entrave regulatório
A cobrança de aluguel pelo uso dos postes entra na história como um ponto que requer atenção. Para Sebastião, é preciso estar atento para que a discussão atual, que gira em torno da padronização de tarifas que variam entre estados e concessionárias, não seja uma espécie de ‘tiro no pé’ em relação à pauta de despoluição visual. Isso porque, para ele, enquanto alguns contratos antigos são considerados abusivos, com valores acima da média, outros seguem a chamada ‘taxa referencial’.
“Essa variação impacta a competitividade entre provedores de internet e pode, mesmo que indiretamente, estimular práticas irregulares, com ISP preferindo lançar cabo sem pagar aluguel, assumindo o risco de corte, porque o custo fixo é alto e, com isso, aumentando a quantidade de cabeamento irregular e, consequentemente, a poluição visual”, conclui Sebastião Rezende.
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