Instituto Biológico desenvolverá projeto inédito para estudar zika vírus em animais
Pesquisa busca estudar o vírus em animais e sua interface com humanos
O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, teve projeto de pesquisa inédito aprovado para estudar o vírus da zika. O projeto busca estudar o vírus em animais e sua interface com os humanos. O montante destinado à pesquisa será de R$ 956.500,00, oriundo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O projeto foi aprovado na chamada MCTIC-CNPq/ MEC-CAPES/ MS-DECIT / FNDCT Nº 14/2016 – Prevenção e combate ao vírus zika. Em 7 de novembro de 2016, às 15h, será realizada a cerimônia de 89º aniversário do Instituto Biológico, em São Paulo, Capital.
A pesquisa foi considerada de relevância social, principalmente, por possibilitar mais conhecimento sobre potenciais reservatórios animais do vírus, fundamental para a saúde pública. Por enquanto, o projeto será desenvolvido em parceria com o Instituto Evandro Chagas, Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Zooprofilattico Sperimentale dell’ Abruzzo e del Molise “G.Caporale”.
De acordo com a pesquisadora do IB Liria Hiromi Okuda, há grande esforço para desvendar a atuação do vírus da zika em humanos, mas ainda não há pesquisas e informações se no Brasil o vírus também afeta animais e se há alguma relação entre a saúde humana e animal, neste caso. O foco do projeto é estudar se o zika vírus também acomete bovinos, ovinos, macacos, bubalinos, cães e gatos, e se os animais atuam como reservatório da doença.
“Sabemos que o Aedes aegypti é o transmissor do zika e que ele também pica animais, contudo, outros insetos estão envolvidos na transmissão desses agentes, dentre eles os mosquitos dos gêneros Culex e Culicoides. Será que eles transmitem as mesmas doenças para os animais e humanos? Esta é uma informação que ainda não temos”, explica Liria. Os pesquisadores pretendem relacionar os resultados em humanos para avaliar se há reação cruzada com os arbovírus (zika, chikungunya, dengue) detectados em humanos.
“Como o projeto prevê a captura de insetos, vamos estudar uma gama maior de vírus. A ideia é avaliar as populações de insetos em vários locais para ver que tipo de vírus eles podem transmitir e detectá-los nesses insetos”, explica a pesquisadora. Serão pesquisados ainda o vírus da diarreia viral bovina e língua azul, comuns em animais, sendo este último transmitido por Culicoides.
O projeto, com duração de quatro anos, terá aporte financeiro do CNPq, no valor de R$ 630.168,00, e da Capes, de R$ 196.800,00, com uma bolsa de pós-doutorado, e R$ 129.532,00 de custeio. O financiamento compõe uma linha aberta pelo CNPq especifica para trabalhos com o vírus da zika. Em novembro, será realizada uma reunião em Brasília com todas as instituições envolvidas no projeto, em que serão abordadas as ações conjuntas para obter efetivo resultado no controle dessas doenças.
Com a verba, está prevista a aquisição de um Sequenciador de Nova Geração (NGS), que contribuirá nos estudos de metagenômica e filogenia molecular. “Com esse equipamento, poderemos sequenciar o genoma completo dos vírus estudados. Com o sequenciador que temos hoje, é possível sequenciar apenas partes dos genomas”, explica Edvirges Maristela Pituco, pesquisadora do IB.
Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, o projeto mostra a importância da pesquisa agropecuária e da parceria entre as instituições. “Muitas vezes achamos que saúde humana é totalmente diferente da saúde animal, mas as duas são interligadas, principalmente por conta das zoonoses. O Instituto Biológico tem muito a contribuir com os estudos relacionados ao zika vírus no Brasil”, afirma. Segundo ele, o governador Geraldo Alckmin tem incentivado a parceria entre os institutos e outras instituições de ciência e tecnologia, além da iniciativa privada.
Antecipar demandas
A expectativa é também desenvolver kits de diagnósticos que possam detectar diversos vírus e até mesmo antecipar problemas, para que os pesquisadores busquem soluções. Este é o caso da infecção pelo vírus da língua azul, transmitida por Culicoides, cujo reservatório são os bovinos. A infecção acomete cervídeos geralmente de forma fatal. Edvirges explica que existem na literatura mundial 29 sorotipos da língua azul, sendo que no Brasil estima-se a ocorrência de 15 deles, aproximadamente. “Quase não há estudos nesta área. Precisamos avaliar a distribuição dos vírus, quais são os sorotipos encontrados no Brasil para podermos fazer um banco viral e desenvolver vacinas, juntamente com empresas privadas”, diz.
A pesquisadora do Instituto Biológico explica ainda que a língua azul ainda não causa prejuízos econômicos para o rebanho bovino brasileiro, porém, a doença passou a ser considerada problema quando foi identificada como causadora de mortes de bovinos e ovinos na Europa. A partir daí, a língua azul passou a ser considerada uma barreira sanitária. Antes, os vírus transmissores da língua azul eram identificados apenas em países tropicais, sem causar manifestações clínicas nos animais de produção.
“Em 2006, foram identificados os primeiros casos na Europa, com problemas clínicos sérios. No Brasil, até o momento, não foram identificados sorotipos que prejudiquem o rebanho, mas os vírus são mutantes e a qualquer momento podem produzir manifestação clínica e causar prejuízo a pecuária. Estamos nos antecipando”, afirma a pesquisadora.
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