6ª edição do Fórum Mulheres em Destaque é marcada por conteúdo aprofundado e prático sobre equidade de gênero
Com quatro vezes mais homens do que na edição passada, o evento foi marcado por abordagens aprofundadas sobre a questão da liderança, a presença de CEOs engajados com a causa e cases de sucesso inspiradores de grandes empresas que já implementaram programas de equidade de gênero
Cristina Kerr - Idealizadora do FMD 2016 |
Um dos grandes desafios do evento é trazer mais homens para a discussão da equidade de gênero. Para a edição de 2016, o slogan do Fórum foi alterado de ‘liderança feminina’ para ‘diversidade na liderança’, e foi estruturada uma estratégia de convidar dois executivos homens das empresas parceiras. O resultado foi que o número de homens quadriplicou da 5ª para a 6ª edição.
“A 6ª edição do Fórum Mulheres em Destaque superou completamente as expectativas. Temos um conteúdo aprofundado, técnico e prático com cases e informações para que as empresas consigam caminhar rumo à equidade de gênero. Também desenvolvemos uma estratégia para trazer mais homens porque acreditamos que eles são agentes de transformação nesse processo”, declarou Cris Kerr, idealizadora do Fórum.
O evento impactou até homens que já têm uma liderança totalmente humanizada, como o presidente do conselho da Porto Seguro, Jayme Garfinkel. “Não temos programa de equidade de gênero na Porto, mas estou aprendendo muito com esses casos inspiradores a ponto de pensar na implementação de ações nesse sentido”, declarou.
Marcia Locachevic, gerente de comunicação da Fundação CESP, participou pela primeira vez do evento e ficou surpresa com a qualidade dos palestrantes. “Fiquei bastante inspirada com o nível altíssimo dos palestrantes do evento e, sem dúvida nenhuma, farei um trabalho de equidade de gênero na FUNCESP. A organização esteve impecável e o ambiente informal e leve das palestras favorece o networking e a troca de experiências”, comentou.
Primeiro dia
O primeiro dia de evento começou com a presidente do CEV e professora da UNIFESP e do Insper, Mara Behlau, falando sobre o poder da comunicação verbal e não verbal, já que problemas de comunicação aparecem em 78% dos feedbacks 360 graus. “Um bom líder é aquele que consegue chegar e calibrar o tom emocional de uma reunião e de uma apresentação através de sua comunicação. Toda interação se dá de forma simétrica ou complementar. Quando é complementar, alguém tem mais poder, mas quando é simétrica é baseada na igualdade – e esse é o objetivo da equidade de gênero nas empresas, partir do pressuposto de que somos todos iguais, mesmo em nossas diferenças. Essa é a única forma de movimentar o mundo”, explicou.
As sócias da consultoria McKinsey, Tracy Francis e Mariana Donatelli, apresentaram um estudo da combinação de três grandes pesquisas sobre o impacto da diversidade de gênero na rentabilidade das empresas e na sociedade. De acordo com a pesquisa, se o mundo tivesse a mesma proporção de mulheres no mercado de trabalho com salários equiparados, somente o Brasil teria 850 bilhões de dólares a mais girando na economia e empresas com mais diversidade em conselho e cargos executivos, têm resultados aproximadamente 50% mais satisfatórios. “Ter mulheres na liderança permite refletir o perfil da sociedade dentro da empresa, já que as mulheres controlam 70% do total de bens de consumo e possuirão 60% de toda a riqueza pessoal no mundo até 2025. Equipes diversas tomam decisões melhores e são mais produtivas e inovadoras”, comentou Tracy Francis.
Mariana Donatelli apresentou o roadmap para a igualdade de gênero dentro das empresas, que inclui monitorar métricas principais para entender os problemas, demonstrar que igualdade de gênero é uma prioridade, identificar e combater o viés inconsciente, criar condições iguais para homens e mulheres e um ciclo virtuoso de mulheres líderes. “No Brasil, entre 2011 e 2015 aumentamos de 5% para 7% a participação das mulheres em cargos de alta liderança no Brasil, o que ainda é um avanço tímido. É importante fomentar redes de networking e sponsorship. Mentoring e sponsorship são vitais para o sucesso e avanço na carreira e o networking é extremamente importante para o desenvolvimento das relações e para o avanço dessa questão”, apontou.
Um dos principais destaques do dia foi o Painel CEOs – He for She, com mediação da idealizadora do evento, Cris Kerr. Guilherme Ribemboin, vice-presidente do Twitter para América Latina, falou sobre a licença paternal estendida de 20 semanas para os homens, iniciativa mundial da empresa. “A licença paternidade estendida vale também para casais do mesmo sexo e para adoção. Não tenho dúvida que, a longo prazo, uma política como essa vai ajudar muito os homens a entenderem melhor o que passam as mulheres. A consequência é que colocamos todo mundo na mesma página do ponto de vista de contratação”, contou Rimbemboin, que acredita que a maneira de trazer os homens líderes para o debate é mostrar como isso vai favorecer o negócio como um todo, inclusive em relação a resultados, abrindo a cabeça das pessoas sobre a importância de ter ambientes diversos dentro das empresas.
Rodrigo Santos, presidente da Monsanto, explicou que a empresa está em uma jornada para que isso não seja uma iniciativa de uma área apenas, e sim uma transformação na cultura da organização. “Instituímos equipes, business networks, para falar sobre a questão de gênero, a questão racional e também a questão LGBT, que trabalham para desenvolver e executar ações que transformem a Monsanto em uma empresa mais inclusiva. Acredito que as organizações privadas têm um grande papel em influenciar a sociedade. É necessário colocar isso no ecossistema da organização, queremos como empresa ter a melhor performance de cada um”.
Segundo Marcos Panassol, líder de RH e sócio da PwC Brasil, se a liderança não der o exemplo, é difícil caminhar para frente nessa questão e o caminho é longo, mas possível. “O benefício imediato dos programas de diversidade é o engajamento. Engajamento traz qualidade na prestação de serviço para nossos clientes, traz retenção de talentos, traz diminuição de custos e traz o bem-estar de trabalhar para uma organização que respeita a diferença”, explicou.
Movimento Mulher 360º
O Painel Movimento Mulher 360º, moderado por Tatiana Trevisan, diretora do MM360 e gerente de sustentabilidade do Walmart, apresentou um caminho com práticas que contribuem para o empoderamento econômico da mulher brasileira numa visão 360º alinhados com os princípios de empoderamento da ONU Mulheres. Andrea Alvares, vice-presidente de marketingcomentou que na Natura, 30% de mulheres possuem cargos de liderança e que, mesmo na empresa que é de cosméticos e voltada para o público feminino, é um desafio atingir a igualdade. “Quanto maior a diversidade das partes, maior a riqueza e a vitalidade do todo. É fácil falar isso, mas é muito difícil viver a diversidade plena. Precisamos nos dar conta e sermos generosos com nossas próprias limitações de que temos dificuldade de lidar com o diferente. Se não formos capazes de reconhecer que isso traz incomodo e que estamos dispostos a abraçar o diverso, vai ser difícil colocar em prática”.
O painel também contou com a presença de Natalia Freire, market development manager da Coca-Cola, que falou sobre as estratégias de comunicação interna e externa para gerar engajamento dos colaboradores e lideranças para a causa da equidade, com Carolina Mazziero, diretora de desenvolvimento organizacional da UNILEVER, que dividiu com os participantes a estratégia da empresa sobre gerar crescimento para o negócio enquanto reduzimos o impacto ambiental e aumentamos o impacto social positivos. “Conseguir fazer o monitoramento dos números é muito importante. Com dados concretos, a conversa com a liderança fica mais fácil. Conseguimos ter insights e conversas mais robustas para alavancar a questão da equidade de gênero”, explicou. Gilberto Rigolon, head of talento, training & development da Nestlé, contou que hoje 33% dos gestores da Nestlé são mulheres e o trabalho mais forte é feito com o RH, para a definição de uma lista de mulheres em quem a empresa deseja investir e que vão receber acompanhamento para assumirem cargos de liderança sênior, com plano de ação de desenvolvimento e follow up individual.
A ex-consulesa da França, Alexandra Loras, foi a responsável pela palestra motivacional “Porque todos juntos valem mais”, falando sobre a riqueza da diversidade para transformar o mundo de forma mais igualitária. “Um homem com 30% dos pré-requisitos e habilidades para um cargo dentro da empresa, vai aplicar para a posição porque foi criado por uma sociedade que o apoia, enquanto para a mulher não é assim, porque sempre fomos inferiorizadas e levadas a pensar que não temos capacidade. É necessário enxergar que podemos sair de nossa zona de conforto e não apenas concorrer, mas conquistar essas vagas de liderança”. Alexandra também tocou em um ponto importante ao falar da inferiorização do negro dentro da sociedade e de como não sabemos lidar com a diversidade. “Fiquei calada por 38 anos por achar que não tinha voz e não tinha eco, até enxergar o quanto era importante falar sobre a sociedade que vemos e a sociedade que queremos ter”, comentou.
Prêmio Fórum Mulheres em Destaque
O Prêmio Equidade de Gênero na Liderança contou com a participação especial de Luiza Helena Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza e uma das líderes mais engajadas com a causa da equidade de gêneros. Foram premiadas as empresas Tozzini Freire Advogados, com 38% de mulheres em cargos de alta liderança; Unilever, com 51,1% de mulheres em cargos de alta liderança; Bristol-Myers Squibb, com 61% de mulheres em cargos de alta liderança; e Sabin Laboratório Clínico, que chegou a um impressionante número de 71% de mulheres em cargos de alta liderança.
Segundo dia
O segundo dia começou com Renata Thereza Fagundes Cunha, consultora de gerência de projetor de articulação estratégia do SESI Paraná apresentando a plataforma “Empoderamento das Mulheres – Trabalho e Inovação”, uma iniciativa inovadora desenvolvida em parceria com a ONU Mulheres. A palestra “Empoderamento & Marca Pessoal” começou com Tatiana Schibuola, diretora de redação da Revista Claudia, fazendo um panorama sobre a contextualização do movimento feminino, que começou em 1879, quando as mulheres tiveram autorização para entrar na universidade, e teve marcos como o direito de votar, em 1933; o direito de trabalhar fora de casa para as mulheres casadas, em 1962; e a Lei Maria da Penha, de 2006. Atualmente as mulheres já são 40% das chefes de família no Brasil, mas mesmo nesse contexto, mulheres com grau superior completo tem 38,13% de diferença na remuneração em relação aos homens.
Marienne Coutinho, sócia da KPMG e presidente da WomenCorporate Directors, trouxe a questão da importância de fazer networking para as mulheres, já que o mundo dos negócios funciona através de relacionamentos e, quanto mais sólidos forem, melhores os frutos que serão colhidos. “Na hora de fazer networking, é importante focar em cinco princípios: raridade, reciprocidade, empatia, confiança e consistência. Para que as pessoas gostem de você, você deve gostar de pessoas, ouvi-las e estar atento para a necessidade de ajuda de cada uma delas”.
Um dos highlights do segundo dia de Fórum Mulheres em Destaque foi o Painel do Conceito à Prática de Viés Inconsciente, que teve moderação de Adriana Carvalho, assessora para empoderamento de mulheres da ONU. A especialista e professor do Insper, Regina Madalasso, apresentou o conceito de viés inconsciente e alguns dos principais vieses que vemos no dia a dia das empresas, como de afinidade, uma tendência a avaliar melhor as pessoas que se parecem conosco; o de percepção, uma tendência a reforçar estereótipos em dados; o viés confirmatório, que é a busca de informações que confirmem nossas hipóteses iniciais e ignorar informações que coloquem em cheque isso; o efeito halo, que é encontrar uma informação em comum com alguém e, a partir daí, estar propenso a avaliar positivamente tudo o que vem dela; e o efeito de grupo, uma tendência a seguir o comportamento do grupo para não desviar o padrão vigente.
De acordo com a especialista, para diminuir esse efeito dentro das empresas, é necessária a realização de treinamentos específicos, de pontuar comportamentos inadequados e também de vigilância e estrutura de apoio. “É inevitável a existência dos vieses e, enquanto eles foram inconscientes, vão causar problemas extremamente sérios. Eles distorcem a forma como fazemos escolhas, nos fazendo acreditar queestamos escolhendo o melhor. Esse é o problema de se falar de meritocracia em uma empresa, por exemplo, porque não é meritocracia se os vieses não estão limpos, senão é o seu viés atuando”, pontuou.
Participaram também do painel Daniela Sicoli, gerente de RH da Microsoft, que falou sobre o processo de mudança pelo qual passa a companhia, que encara a diversidade como ferramenta estratégica de inovação para os negócios e oferece um treinamento de viés inconsciente para todos os funcionários e estagiários; e também Ana Malvestio, sócia e líder de diversidade e inclusão na PwC Brasil. “Quanto mais politizada e educada é uma pessoa, mais difícil é ela se mover para entender e combater os vieses inconscientes”, comentou Ana.
Liderança feminina e sustentável
A sócia-diretora da Inove Soluções em Liderança, Ramy Arany, ministrou a palestra “Os 4 talentos femininos da liderança sustentável”, baseada em um profundo trabalho de pesquisa do universo feminino. Segundo Ramy, os quatro principais talentos são ser visionária, porque a mulher enxerga o todo e tem a capacidade de ver mais longe com ideias novas; transformadora, porque tem a capacidade de gerar mudanças com sua visão focada a fim de que o resultado seja atingido; condutora, já que a mulher é empática e acolhedores e como líder sabe conduzir e é flexível em suas ações; e ancoradora, porque tem a capacidade de enraízas, entrecruzar pessoas e alavancar recursos. “A presença feminina faz a diferença na liderança quando a mulher lidera como mulher”, frisou.
O Painel “A Liderança Sustentável e as Empresas Humanizadas” contou com a moderação de Graziela Merlina, conselheira do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, que apontou que o capitalismo consciente e a diversidade na liderança estão intimamente relacionados, já que ampliam a visão sobre um novo pensar em negócios e geram um impacto positivo para as organizações.
A coordenadora do grupo de pesquisas em direito e gênero da FGV, Lígia Sica, explicou que falar sobre diversidade não tem a ver com o que nos torna iguais ou diferentes, mas sim com existir igualdade de oportunidades no ambiente da empresa e que isso não é o marketing do politicamente correto e nem de ganho reputacional. A professora apontou que os prós para a diversidade de gênero nas empresas são enormes e incluem decisões mais inovadoras, perspectivas mais amplas, melhor monitoramento, qualidade da decisão, observação do mercado, representatividade e conexão com o mercado, lealdade, retenção e atração de talentos, incrementos na motivação e até mesmo aumento da produtividade.
“Grande parte das empresas começa programas de diversidade apenas em termos de prevenção e combate ao preconceito. A abordagem punitiva se mostra falha, não gera resultados positivos. Não adianta implementar programas de diversidade sem mexer nos valores das companhias”, comentou. Participaram do painel também Eliana Tameirão, presidente da Genzyme; Priscila Vansetti, presidente da Dupont; e Jayme Garfinkel, presidente do Conselho Porto Seguro.
O Fórum contou com a cooperação da ONU Mulheres e do HeForShe e apoio institucional da Fundação Getúlio Vargas, Grupo Mulheres do Brasil, Insper, Catho, Facilities Services, IAB Brasil, Folha Blu, Ibevar, OBME, Mex Brasil, Rede Mulher Empreendedora, Amigas do Vinho, Tres por 3 Corações. Patrocínio da Dudalina e as Empresas Parceiras: Alpargatas, Bemis, Bunge, Cargill, Furnas, Grupo BB Mapfre, Ingersoll Rand, Telefonica, Monsanto, Oracle, Sanofi, SESI, Tozzini Freire Advogados e White Martins.
Sobre a CKZ Eventos –A CKZ, comandada por sua fundadora, Cris Kerr, possui três áreas de negócios: CKZ Diversidade que promove eventos próprios: 6ª Edição do Fórum Mulheres em Destaque e a 3ª Edição do Fórum Gestão da Diversidade e Inclusão, a CKZ Consultoria em Diversidade que tem como propósito apoiar as corporações a construírem programas de diversidade para torná-las mais sustentáveis e responsáveis e a CKZ Agência, que realiza e organiza eventos para clientes com o compromisso de entregar aos clientes serviços inovadores, diferenciados e de alta qualidade.
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