Metade dos brasileiros não fazem controle do orçamento pessoal, mostra pesquisa do SPC Brasil e CNDL
Seis em cada dez consumidores têm dificuldades para fazer o controle de ganhos e gastos mensais. 49% pagam todas as contas com sobra de dinheiro mês, mas 33% usam empréstimos, cheque especial e cartão para pagar contas
A forma mais usual entre os entrevistados de controlar suas finanças é fazer anotações em caderno ou agenda (32%, aumentando para 41% entre as mulheres); uma planilha no computador (15%) e aplicativo no celular (4%). Praticamente seis em cada dez entrevistados têm alguma dificuldade para fazer o controle dos ganhos e gastos mensais (58%), sendo que a maior delas é reunir todas as informações e recordar de todos os pagamentos (20%).
A pesquisa mostra que os gastos fundamentais com mantimentos, higiene, água e luz são aqueles mais registrados dentre os entrevistados que disseram fazer algum controle financeiro (95%), seguidos pelos gastos extras necessários (77%), rendimentos (76%), gastos supérfluos (69%) e reserva financeira (59%).
Em contrapartida, 48% não faz um controle efetivo de seus ganhos e gastos, já que 27% afirmam fazer de cabeça, 19% não têm nenhum registro ou controle e 2% dizem que outra pessoa faz por eles. A maior barreira enfrentada para não fazer o controle é a falta de hábito (45%), seguida pelo fato de não terem uma renda mensal fixa (19%).
De acordo com o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, a realidade é que muitas pessoas não enxergam o controle como algo prioritário. “É necessária uma mudança na maneira como as pessoas encaram sua vida financeira, entendendo que o controle adequado é fundamental para alcançar o equilíbrio”, afirma. “Assim, os consumidores irão entender que honrar os compromissos, constituir reserva, concretizar planos e sonhos de consumo e se preparar para a aposentadoria desde cedo são atitudes muito importantes.”
Ao refletirem sobre como se sentem a respeito dos conhecimentos para gerenciar e organizar o próprio dinheiro, 42% admitem insegurança, sendo que gostariam de ter mais informações.
49% pagam todas as contas e ainda têm sobra de dinheiro
O estudo mostra também que, considerando os compromissos financeiros, 49% dos entrevistados na maioria das vezes conseguem pagar todas as contas no final do mês e ainda têm alguma sobra financeira, independente se é para algum gasto pessoal (28%) ou investimento (21%). Outros 35% conseguem honrar todos os compromissos, mas sem sobra financeira e 11% admitem que nem sempre conseguem pagar as contas e algumas vezes precisam fazer muito esforço para administrar o dinheiro.
O conhecimento da própria situação financeira apresentou melhora em 2016 quando comparado à 2015, seja pelo conhecimento do valor das contas básicas (89% - aumento de 7 pontos percentuais: 81% em 2015); das parcelas de compras que ainda têm para pagar (78%; 70% em 2015), do quanto está usando da renda quando faz compras parceladas (75%; 59% em 2015) e o total da renda mensal no próximo mês (71%; 68% em 2015).
Além disso, 59% garantem calcular quanto estão pagando de juros quando fazem uma compra a prazo (aumento de 14 p.p. em relação a 2015: 45%), chegando a 67% entre os pertencentes às classes A e B.
A pesquisa mostra ainda que 73% dos consumidores estabelecem metas e as seguem para conquistar algum sonho, mas, por outro lado, 27% não conseguem fazer isso.
35% usam empréstimos, cheque especial e cartão para pagar contas
Quando o orçamento não é suficiente para honrar os compromissos no mês, a principal atitude dos entrevistados é mudar alguns hábitos de consumo, comprar coisas mais baratas e fazer pesquisas de preço para economizar (47%), enquanto 30% fazem cortes no orçamento, como em gastos no supermercado e TV por assinatura e 24% fazem uso da reserva financeira.
A prática de tomar empréstimos, usar o limite do cartão de crédito ou cheque especial para honrar compromissos é feita por 33% dos entrevistados, em média três vezes ao ano. Já aqueles que costumam usar as reservas financeiras com o mesmo objetivo o fazem, em média, 2,6 vezes por ano.
“Essa é a situação vivida por muitos brasileiros ao tentarem lidar com as despesas do orçamento. Na tentativa de honrar os compromissos, os consumidores adquirirem novas dívidas ou atrasam o pagamento de algumas delas, o que os insere em um círculo vicioso difícil de interromper”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “E mesmo quando não recorrem a novas dívidas, sacrificam a reserva financeira que deveria servir para alcançar metas ou ser utilizada em situação de extrema emergência ao invés de cobrir rombos corriqueiros no orçamento”, analisa.
Teoria X Prática: o quê os brasileiros acreditam ser importante para a vida financeira, mas não fazem sempre
O levantamento do SPC Brasil e da CNDL também investigou a importância que os entrevistados dão a algumas práticas relacionadas a uma vida financeira saudável. Solicitados a atribuírem uma nota de 1 a 10 para o nível de importância de cada uma delas, percebe-se que o brasileiro se encontra num patamar mediano quanto ao conhecimento das atitudes consideradas adequadas para ter as finanças equilibradas, com uma nota média 7.
Porém, avaliar uma prática como importante, ou seja, atribuir notas entre 7 e 10 para a importância de determinada ação, não significa que os entrevistados adotam em sua rotina diária com a regularidade que deveriam para se alcançar o equilíbrio das finanças pessoais:
- 81% consideram importante fazer pesquisa de preço antes de realizar compras, mas somente 48% fazem isto sempre;
- 73% consideram importante juntar dinheiro para fazer compras à vista, mas apenas 26% têm sempre esta atitude;
- 67% consideram importante pechinchar, mas apenas 38% dos entrevistados sempre pechincham;
- 67% consideram importante reduzir as despesas da casa, mas apenas 26% fazem sempre isto;
- 62% consideram importante mudar o local de compras por um mais barato, ainda que mais distante, mas apenas 19% fazem sempre isto;
- 59% consideram importante economizar para investir, mas apenas 17% fazem sempre isto;
- 58% consideram importante trocar marca de produto por mais baratas, mas apenas 22% fazem sempre isto.
“Colocar em prática, rotineiramente, as atitudes mais assertivas em relação ao uso do dinheiro para a condução de uma vida financeira equilibrada é um hábito que deve ser construído aos poucos, com disciplina e perseverança”, explica o educador financeiro. “É necessário adquirir conhecimento e informação sobre juros, inflação, preços e parcelamento, dentre outros, além da disposição para economizar tanto nas compras mais significativas quanto nas despesas básicas do dia a dia”, conclui.
Metodologia
A pesquisa procurou avaliar o grau de educação financeira dos brasileiros e entender como o consumidor se relaciona com o dinheiro. Foram entrevistados 606 consumidores com idade entre 18 e 30 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras. A margem de erro no geral é de 4,0 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
Baixe a íntegra da pesquisa em https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas
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