ABDI analisa dados da produção industrial
Os principais países desenvolvidos estão se movendo no sentido de revigorar e aumentar competitividade das suas indústrias via a adoção de novas tecnologias e também na maior agregação de valor.
Tabela 1 – Crescimento da produção física por categorias de uso
Categorias de uso | Dezembro 2016 / Novembro 2016 | Dezembro 2016 / Novembro 2016 | Acumulado no ano |
Bens de Capital | -3,2 | 17,3 | -11,1 |
Bens Intermediários | 1,4 | -0,5 | -6,3 |
Bens de Consumo | 1,8 | -2,2 | -5,9 |
Duráveis | 6,5 | 4,8 | -14,7 |
Semiduráveis e não Duráveis | 4,1 | -3,6 | -3,7 |
Indústria Geral | 2,3 | -0,1 | -6,6 |
O momento da indústria soma-se ao bom resultado da balança comercial em 2016, que acumulou um superávit superior a US$ 47 bilhões. Os desempenhos da indústria e da balança comercial permitem retirar pressão das expectativas para o ano de 2017, marcadamente porque dão ao Governo Federal maior liberdade para fomentar nova trajetória de recuperação da economia brasileira.
O caminho, contudo, não será nem simples e fácil. Internamente, a superação dos problemas macroeconômicos exigirá ainda alguns meses. Por exemplo, a indústria de bens de capital, setor fundamental para o desenvolvimento do país, foi o único, entre as grandes categorias de uso, a mostrar queda na produção no comparativo mensal (dezembro/novembro). Por isso mesmo que a difícil conjuntura para a geração de empregos e a necessidade de recuperação dos investimentos constituem, hoje, os grandes problemas a serem enfrentados em meio a lenta recuperação da demanda interna.
A própria necessidade de elevar a competitividade da produção nacional, após muitos anos de baixo crescimento da produtividade na indústria e nos serviços, coloca no horizonte desafios que ultrapassam a conjuntura e remetem à decisões importantes para o futuro do setor produtivo brasileiro.
Por outro lado, no campo internacional, o Brasil enfrenta, hoje, desenvolvimentos tecnológicos gestados nas nações mais ricas e que implicarão em mudanças importantes na produção, nos produtos e nas trocas internacionais nos próximos anos. Aqui, os desafios são: 1. a Indústria 4.0, uma forma de produzir bens com elevadíssima eficiência, utilizando máquinas integradas que trocam informações entre si através do avanço proporcionado pela “Internet das coisas”; 2. Aprimoramento da economia, a integração de serviços de alto valor agregado aos produtos fabricados; e 3. a Incerteza dos parceiros comerciais, marcadamente a China, frente aos primeiros sinais protecionistas dados pelos Estados Unidos no novo ciclo de poder.
Cabe destacar que os principais países desenvolvidos estão se movendo no sentido de revigorar e aumentar competitividade das suas indústrias, via a adoção de novas tecnologias e também na maior agregação de valor.
Com a posse do republicano Donald Trump no Governo dos Estados Unidos, nota-se a adoção de discurso de certa forma protecionista, mas também apresenta a preocupação em revigorar a indústria estadunidense. A sociedade americana tem instituições mais sólidas e metas de longo prazo que sobrepõe muitas vezes incertezas conjunturais sejam políticas ou econômicas e, por isso mesmo, é necessário mencionar que o “revigoramento” da indústria já estava presente no Governo Obama, com a preocupação em potencializar a estratégia ‘advanced manufacturing”, com a integração de áreas da indústria, agricultura (bioeconomia) e serviços de maior valor agregado.
Não são apenas os Estados Unidos que passaram por um processo de retomada e reestruturação das suas políticas voltadas para o desenvolvimento produtivo, mas também países da Europa, como a Inglaterra, que também lançou uma estratégica recente com foco no aumento da competitividade da sua indústria nos próximos anos e também Portugal com o lançamento da estratégia "Indústria 4.0”, com foco na dita quarta revolução industrial.
Esse conjunto formidável de desafios está longe, porém, de significar prorrogação das dificuldades vividas nos anos 2015 e 2016. Na verdade, cada um dos desafios apontados implica em um conjunto amplíssimo de negócios que podem ser conduzidos, estimulados e mesmo criados nos próximos anos. As apreensões que nublam o otimismo das atividades econômicas já dominadas pelo país, marcadamente na indústria de transformação e nos serviços tradicionais, precisam e serão superadas tão logo os frutos dos primeiros esforços de ação integrada entre setor privado e Governo comecem a clarear o horizonte das oportunidades. Um exemplo disso, são os acordos comerciais que o Brasil negocia com parceiros cada vez mais desejosos de estabelecer trocas com o país e que devem ter uma crescente nas exportações.
De outro modo, a estrutura produtiva brasileira - a mais complexa do hemisfério sul - o tamanho do mercado interno e a qualidade das universidades tornam a economia brasileira, além de resiliente, capaz de gerar respostas criativas e empreendedoras aos desafios apresentados. Além disso, o sistema financeiro saudável, muito longe de crises ou fragilidades, a estrutura estatal em pleno funcionamento e a ausência de conflitos internos, somada a amplitude geográfica com suas implicações, permite afirmar que as condições potenciais para superação dos gargalos estão disponíveis e, ao fim e ao cabo, darão ao país oportunidades incontáveis de negócios e oportunidades ainda não imaginadas.
O que não é viável ao país é deixar o momento favorável esvair-se sem aproveitar as boas expectativas e o bom ânimo que gera no empresariado, trabalhadores, consumidores e setor financeiro. É muito importante que as escolhas sejam feitas e o setor produtivo como um todo, possuindo um Norte, seja estimulado à criação de riqueza e renda para toda a população. O caminho é único: aumentar a produtividade brasileira com a agregação de valor aos bens e serviços produzidos a partir da ação conjunta entre Governo e setor privado.
O trabalho, todavia, exigirá esforço de ambas as partes, investimentos direcionados para setores portadores de futuro e, principalmente, o uso da potente criatividade da população brasileira aplicada à produção e a geração de tecnologias inovadoras.
Sobre a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI surgiu no momento de retomada das políticas públicas de incentivo à indústria, em 2004, e se legitimou com órgão articulador dos diversos atores envolvidos na execução da política industrial brasileira.
Em mais de uma década de atuação, sob a supervisão do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a ABDI oferece à indústria um centro de inteligência para a construção de agendas de ações setoriais e para os avanços no ambiente institucional, regulatório e de inovação no Brasil, por meio da produção de estudos conjunturais, estratégicos e tecnológicos.
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