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Pesquisadores da UFABC apresentam novas interpretações sobre infecção por Zika vírus no sistema nervoso

O Laboratório de Neurogenética da UFABC, um dos centros de pesquisa voltados ao estudo do desenvolvimento e patologias do sistema nervoso no País, acaba de publicar estudo sobre a relação entre o Zika vírus (ZIKV) e a microcefalia, em que avalia e propõe consequências da infecção pelo vírus no sistema nervoso. O artigo intitulado Evaluation of possible consequences of Zika virus infection in the developing nervous system, publicado no conceituado periódico Molecular Neurobiology, da Springer Nature, é um dos desdobramentos de colaborações do Laboratório com grupos de pesquisa no Brasil e no exterior.

O trabalho, liderado pelo professor Alexandre Kihara, coordenador do Laboratório de Neurogenética da UFABC, foi realizado por um grupo de pesquisadores de distintas e renomadas instituições, como Universidade de São Paulo (Instituto de Ciências Biomédicas e Instituto de Medicina Tropical) e University of Reading (Reino Unido), além da própria UFABC (Núcleo de Cognição e Sistemas Complexos, CMCC e CCNH).

O grupo compilou, criticamente, as principais e mais relevantes descobertas registradas na literatura, que correlacionam e explicam a infecção por ZIKV e a microcefalia. Além disso, o estudo apresenta novas interpretações sobre os possíveis mecanismos pelos quais esse vírus pode causar as alterações neuropatológicas encontradas em recém-nascidos infectados. O ZIKV, patógeno transmitido por mosquitos do gênero Aedes aegypti – mesmo transmissor da Dengue e da Febre Chikungunya –, foi recentemente associado ao surto epidêmico de casos de microcefalia no Brasil, principalmente na região nordeste, mas que também alcançou outros países da América Latina e Central, Estados Unidos e Europa.

De acordo com a professora Márcia Sperança (UFABC), uma das autoras do artigo, “desde a ocorrência de alterações neurológicas associadas ao ZIKV na região nordeste do país, com um grande número de casos de microcefalia em crianças nascidas de mães que supostamente teriam sido infectadas pelo vírus, a busca por evidências que comprovem ou não essa associação tem sido objeto de vários estudos científicos em diferentes áreas do conhecimento, incluindo a neurobiologia, epidemiologia, virologia etc. Esse artigo, em particular, contém uma análise crítica de trabalhos científicos sobre as bases moleculares envolvidas nas alterações neuronais relacionadas à infecção pelo ZIKV. A partir dessa revisão, é possível reconhecer várias lacunas, permitindo um melhor direcionamento de pesquisas a serem realizadas. Cabe ressaltar que essa importante publicação é fruto do projeto pedagógico da UFABC, com a promoção de interações multi e interdisciplinares, permitindo a colaboração entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento”.

“Inicialmente, o envolvimento com o tema partiu da curiosidade natural sobre um tópico que estava sendo amplamente discutido na mídia e que era uma questão de saúde pública nacional e internacional”, conta Lais Walter, também autora do trabalho. A relevância e a familiaridade com o assunto motivaram a publicação do artigo. “Quando nos demos conta, estávamos pesquisando e colaborando com diversos grupos, avaliando dados já publicados e propondo novas abordagens”, complementa.

Segundo o Dr. Alexander Henning Ulrich, Professor Titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, o manuscrito “apresenta uma contribuição muito importante para o entendimento da epidemia do ZIKV nas Américas e as consequências da sua infecção no cérebro em desenvolvimento”. Considera, ainda, que além de ser “uma excelente revisão sobre a infeção por ZIKV, serve como referência para o estado-de-arte do conhecimento e como base para pesquisadores que gostariam de desenvolver projetos de pesquisa neste assunto”.

Já para o Dr. Marcelo Marcos Morales, Diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do CNPq, “o excelente trabalho traz luz para entendimento dos mecanismos envolvidos no estabelecimento dessa terrível doença. O MCTIC e o CNPq orgulham-se de poder contribuir, através do fomento à produção de conhecimento, para com o ‘Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à Microcefalia’. Essa mobilização nacional envolve diferentes ministérios e órgãos do governo federal, em parceria com estados e municípios, para conter novos casos de microcefalia relacionados ao ZIKV. A publicação em voga mostra de forma clara que os pesquisadores brasileiros estão prontos para contribuir para a solução de problemas nacionais e que somente com educação, ciência e tecnologia conseguiremos ser um país forte, saudável e seguro.”

O artigo pode ser acessado neste link.

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