Desafios regulatórios estão no foco de atenção de gestores de instituições financeiras
Por Marcello De Francesco*
No Brasil, as mudanças regulatórias – especialmente como a recente publicação da Resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) nº 4.557, norma que determina às organizações aspectos mínimos a serem considerados na montagem das estruturas de gerenciamento de riscos e de capital – impactam diretamente a realidade das instituições financeiras.
Em um momento em que muitas organizações seguem aperfeiçoando suas práticas de gerenciamento de riscos em todo o mundo, a 10ª edição da Pesquisa Global de Gestão de Riscos, elaborada este ano pela Deloitte, revelou que os líderes de instituições financeiras estão focados no impacto regulatório decorrente de recentes mudanças geopolíticas e questionando o que mais virá no futuro próximo que poderá afetar seus negócios.
O momento retratado pela pesquisa – feita com 77 organizações de todo o mundo, principalmente bancos e seguradoras – é particularmente interessante para as instituições financeiras atuantes no Brasil, especialmente aquelas autorizadas a funcionar pelo Banco Central, tendo em vista a resolução acima citada, conhecida no mercado como GIR (gestão integrada de riscos). Esta norma determina às organizações aspectos mínimos a serem considerados nas estruturas de gerenciamento de riscos e de capital.
Vários aspectos retratados pelos participantes da pesquisa merecem atenção e uma reflexão a respeito da maturidade das práticas adotadas no Brasil. Por exemplo, a posição de CRO (chief risk officer, líder da área de riscos nas instituições) tornou-se praticamente universal, e a tendência é de que esses executivos reportem cada vez mais direta e especificamente ao Conselho de Administração e ao CEO (Chief Executive Officer, ou presidente de uma organização).
No Brasil, podemos observar que as maiores instituições financeiras locais, assim como aquelas que possuem matrizes no exterior, estão aderentes a essa tendência. Já nas demais instituições, que possuem estruturas organizacionais mais enxutas, a responsabilidade pela gestão de riscos é compartilhada entre executivos que exercem outras atribuições, principalmente administrativas. Importante observar que a nova resolução nacional determina, de maneira expressa, a designação de um CRO. Dentre outros requisitos, é obrigatório que esse executivo atue de modo independente, inclusive reportando-se diretamente ao Comitê de Riscos (outro elemento de governança obrigatório) e ao Conselho de Administração.
Em relação à segurança digital (cyber security), menos da metade dos participantes da pesquisa (42%) considera sua instituição como de fato efetiva na gestão desse risco. Além disso, ameaças à segurança estão dentre as três principais preocupações dos executivos na gestão de riscos como um todo. Comparando-se com outros países, o Brasil ainda possui uma regulamentação tímida em relação aos requisitos a serem observados na gestão do risco digital (cyber risk). A nova resolução aborda também esse tema, mas ainda de maneira sucinta.
Outro destaque da pesquisa é o uso cada vez mais efetivo dos testes de estresse. Em muitos países, os órgãos reguladores vêm reforçando os requisitos regulatórios para seu uso na avaliação da adequação do capital regulatório e da liquidez. De fato, 83% dos participantes confirmam sua utilização. Por outro lado, somente agora, por meio da Resolução CMN 4.557, tal prática passa a ser exigida no Brasil com critérios específicos e rigorosos, mais alinhados às práticas internacionais.
Dentro do tema risco estratégico, um aspecto que vem sendo abordado pelas instituições está relacionado às empresas startups que fornecem soluções disruptivas em finanças, as chamadas fintechs. Com uso intensivo de tecnologia, além de muita agilidade, essas empresas já começaram a competir com bancos, gestoras de investimentos e seguradoras, dentre outras, ofertando novos produtos e soluções, sem as obrigações que a atual regulamentação determina.
Apesar da participação ainda muito tímida no mercado, as fintechs vêm crescendo rapidamente. Enquanto os reguladores ao redor do mundo têm estudado novas formas de disciplinar a atuação dessas empresas, as instituições tradicionais estão buscando parcerias com as fintechs que possuem maior potencial. Um dos desafios na gestão do risco estratégico é manter a rentabilidade atual, além de sobreviver a possíveis cenários de disrupção decorrentes dos novos competidores.
A pesquisa apresenta ainda diversas informações sobre outros tópicos relevantes nas práticas de gestão de riscos, incluindo: o custo de compliance (valores exigidos para a manutenção de estruturas de cumprimento de conformidade nas instituições, que são cada vez mais relevantes); a disputa no mercado por profissionais especializados; a adoção de programas de gestão integrada de riscos; e o envolvimento da alta administração (Conselho de Administração, diretoria executiva e comitês) na estratégia e na supervisão das linhas defesa.
Apesar de reconhecido como robusto e equilibrado, o sistema financeiro brasileiro precisa estar alinhado e se adequar prontamente aos desafios impostos tanto pelas mudanças regulatórias, quanto pelas velozes e radicais alterações no ambiente de negócios. O certo é que, para encarar com segurança esses novos desafios, as entidades brasileiras necessitam de investimentos significativos em processos, tecnologias e, sobretudo, na atualização, aculturamento e capacitação de seus profissionais.
Sobre a pesquisa: https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/risk/articles/pesquisa-global-de-gestao-de-riscos-2017.html .
* Marcello De Francesco é sócio da área de Risk Advisory da Deloitte Brasil.
No Brasil, as mudanças regulatórias – especialmente como a recente publicação da Resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) nº 4.557, norma que determina às organizações aspectos mínimos a serem considerados na montagem das estruturas de gerenciamento de riscos e de capital – impactam diretamente a realidade das instituições financeiras.
Em um momento em que muitas organizações seguem aperfeiçoando suas práticas de gerenciamento de riscos em todo o mundo, a 10ª edição da Pesquisa Global de Gestão de Riscos, elaborada este ano pela Deloitte, revelou que os líderes de instituições financeiras estão focados no impacto regulatório decorrente de recentes mudanças geopolíticas e questionando o que mais virá no futuro próximo que poderá afetar seus negócios.
O momento retratado pela pesquisa – feita com 77 organizações de todo o mundo, principalmente bancos e seguradoras – é particularmente interessante para as instituições financeiras atuantes no Brasil, especialmente aquelas autorizadas a funcionar pelo Banco Central, tendo em vista a resolução acima citada, conhecida no mercado como GIR (gestão integrada de riscos). Esta norma determina às organizações aspectos mínimos a serem considerados nas estruturas de gerenciamento de riscos e de capital.
Vários aspectos retratados pelos participantes da pesquisa merecem atenção e uma reflexão a respeito da maturidade das práticas adotadas no Brasil. Por exemplo, a posição de CRO (chief risk officer, líder da área de riscos nas instituições) tornou-se praticamente universal, e a tendência é de que esses executivos reportem cada vez mais direta e especificamente ao Conselho de Administração e ao CEO (Chief Executive Officer, ou presidente de uma organização).
No Brasil, podemos observar que as maiores instituições financeiras locais, assim como aquelas que possuem matrizes no exterior, estão aderentes a essa tendência. Já nas demais instituições, que possuem estruturas organizacionais mais enxutas, a responsabilidade pela gestão de riscos é compartilhada entre executivos que exercem outras atribuições, principalmente administrativas. Importante observar que a nova resolução nacional determina, de maneira expressa, a designação de um CRO. Dentre outros requisitos, é obrigatório que esse executivo atue de modo independente, inclusive reportando-se diretamente ao Comitê de Riscos (outro elemento de governança obrigatório) e ao Conselho de Administração.
Em relação à segurança digital (cyber security), menos da metade dos participantes da pesquisa (42%) considera sua instituição como de fato efetiva na gestão desse risco. Além disso, ameaças à segurança estão dentre as três principais preocupações dos executivos na gestão de riscos como um todo. Comparando-se com outros países, o Brasil ainda possui uma regulamentação tímida em relação aos requisitos a serem observados na gestão do risco digital (cyber risk). A nova resolução aborda também esse tema, mas ainda de maneira sucinta.
Outro destaque da pesquisa é o uso cada vez mais efetivo dos testes de estresse. Em muitos países, os órgãos reguladores vêm reforçando os requisitos regulatórios para seu uso na avaliação da adequação do capital regulatório e da liquidez. De fato, 83% dos participantes confirmam sua utilização. Por outro lado, somente agora, por meio da Resolução CMN 4.557, tal prática passa a ser exigida no Brasil com critérios específicos e rigorosos, mais alinhados às práticas internacionais.
Dentro do tema risco estratégico, um aspecto que vem sendo abordado pelas instituições está relacionado às empresas startups que fornecem soluções disruptivas em finanças, as chamadas fintechs. Com uso intensivo de tecnologia, além de muita agilidade, essas empresas já começaram a competir com bancos, gestoras de investimentos e seguradoras, dentre outras, ofertando novos produtos e soluções, sem as obrigações que a atual regulamentação determina.
Apesar da participação ainda muito tímida no mercado, as fintechs vêm crescendo rapidamente. Enquanto os reguladores ao redor do mundo têm estudado novas formas de disciplinar a atuação dessas empresas, as instituições tradicionais estão buscando parcerias com as fintechs que possuem maior potencial. Um dos desafios na gestão do risco estratégico é manter a rentabilidade atual, além de sobreviver a possíveis cenários de disrupção decorrentes dos novos competidores.
A pesquisa apresenta ainda diversas informações sobre outros tópicos relevantes nas práticas de gestão de riscos, incluindo: o custo de compliance (valores exigidos para a manutenção de estruturas de cumprimento de conformidade nas instituições, que são cada vez mais relevantes); a disputa no mercado por profissionais especializados; a adoção de programas de gestão integrada de riscos; e o envolvimento da alta administração (Conselho de Administração, diretoria executiva e comitês) na estratégia e na supervisão das linhas defesa.
Apesar de reconhecido como robusto e equilibrado, o sistema financeiro brasileiro precisa estar alinhado e se adequar prontamente aos desafios impostos tanto pelas mudanças regulatórias, quanto pelas velozes e radicais alterações no ambiente de negócios. O certo é que, para encarar com segurança esses novos desafios, as entidades brasileiras necessitam de investimentos significativos em processos, tecnologias e, sobretudo, na atualização, aculturamento e capacitação de seus profissionais.
Sobre a pesquisa: https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/risk/articles/pesquisa-global-de-gestao-de-riscos-2017.html .
* Marcello De Francesco é sócio da área de Risk Advisory da Deloitte Brasil.
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