Manejo adequado reduz impactos do frio na piscicultura
Foto: Jefferson Christofoletti |
Os cuidados para minimizar as perdas com temperaturas baixas e grandes variações de temperatura devem ser iniciados ainda no verão. O alerta é feito pela pesquisadora da Embrapa Agropecuária Oeste (MS) Tarcila Souza de Castro Silva. Ela explica que a temperatura do corpo dos peixes varia de acordo com a temperatura do ambiente, neste caso, da água. “Assim, fisiologicamente, o crescimento dos peixes está diretamente relacionado à temperatura do ambiente,” esclarece.
As recomendações aos produtores e técnicos estão disponíveis na publicação “Influência do Clima, Fenômenos e Mudanças Climáticas no Manejo da Piscicultura”, elaborada por Tarcila com os colegas Luís Antônio Kioshi Aoki Inoue e Carlos Ricardo Fietz, pesquisadores da mesma Unidade da Embrapa. Nesse trabalho, os especialistas explicam a influência do clima no desempenho e na sanidade dos peixes e apresentam ações para diminuir perdas na piscicultura.
O aumento das doenças na piscicultura, com a chegada do inverno, ocorre com maior intensidade em viveiros nos quais os peixes recebem mais alimentos do que o necessário durante o verão, prejudicando a qualidade ambiental. “Os peixes sofrem pela progressiva queda de qualidade de água no verão. Com a chegada do frio e as amplas variações de temperatura, começam os surtos de doenças e mortes”, explica o pesquisador Luís Antônio Inoue. Assim, manter a densidade de peixes adequada é uma das estratégias de manejo que podem contribuir com a redução dos prejuízos. “Essa densidade deve levar em consideração o tamanho do tanque e o suprimento de água e oxigênio”, destaca.
Capacitar mão de obra
O manejo alimentar deve receber atenção para que se possa evitar as perdas. “As taxas de alimentação devem estar de acordo com as recomendações para a espécie criada e a temperatura da água. É fundamental que o tratador esteja capacitado para observar se os peixes estão consumindo o alimento fornecido, para evitar perdas e deterioração da qualidade da água por excesso de ração”, acrescenta o pesquisador.
Outra estratégia importante de manejo destacada por Tarcila se refere ao monitoramento da qualidade da água e a utilização das boas práticas de manejo, com respeito contínuo aos limites recomendados de transparência, oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade, dureza, amônia e nitrito. “Esses dados ajudam a garantir a qualidade do ambiente de criação”, afirma.
Despesca antes do inverno
Além disso, as práticas de manejo devem ser planejadas com antecedência e a previsão do tempo é uma ferramenta importante de consulta. “Sugerimos que o arrasto de rede e o transporte, por exemplo, sejam realizados antes da chegada do frio; assim, os peixes não serão submetidos a mais fatores estressantes, além dos naturais resultantes do clima frio”, salienta a pesquisadora.
“A adição de suplementos, como vitaminas (C e E), aminoácidos, pró-bióticos e pré-bióticos, antes de os animais passarem por condições estressantes, ajuda a aumentar a imunidade dos peixes”, informa Tarsila, ressaltando que a prática tem sido testada com êxito em muitos países. Esses suplementos devem ser misturados à ração comercial e fornecidos alguns dias antes de eventos críticos, como a chegada de uma frente fria. Ela acrescenta que a indicação de cada produto e seu modo de usar deve ser criteriosa e avaliada por um técnico.
O piscicultor de Laguna Carapã (MS) Edemar de Souza, que trabalha há quatro anos com criação de peixes, conta que a mudança da temperatura da água influencia diretamente o comportamento dos peixes, especialmente em relação aos hábitos de alimentação. “Quando a temperatura fica abaixo de 20ºC, os peixes comem menos, por isso reduzo a quantidade de ração para evitar problemas futuros”, revela.
Edemar acrescenta que antes de o inverno chegar, sempre que possível, ele envia alguns lotes para o frigorífico. Outra prática adotada por ele é reunir no mesmo tanque os peixes com mais de 200 gramas. “Depois do inverno, quando começa a esquentar novamente, os peixes demoram um pouco mais para crescer, e o desenvolvimento deles é mais lento”, conta Edemar. Outro cuidado adotado pelo piscicultor é evitar manejar os peixes durante o inverno. “Nessa época, a água está muito gelada e os peixes ficam mais sensíveis ao manejo. Além disso, a água fria também dificulta o meu trabalho. Evito ao máximo mudar os peixes de tanque durante o inverno”, conta.
Sul do Mato Grosso do Sul
Na região da Grande Dourados, no sul do Mato Grosso do Sul, é possível observar grandes amplitudes térmicas médias, ou seja, existe uma grande variação entre as temperaturas médias mínimas e máximas. “Um exemplo comum é registrar uma amplitude térmica diária de 20 °C, com a temperatura do ar ao amanhecer em 12 °C e no meio da tarde ensolarada chegando a atingir 32 °C. Além da variação pela amplitude térmica, existe ainda, na região, uma variação acentuada entre as estações do ano”, exemplifica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Carlos Ricardo Fietz.
Assim como as demais atividades agropecuárias, que têm sua produtividade diretamente ligada às condições climáticas, a piscicultura não é exceção. Um ponto fundamental é a escolha da espécie de peixe que será criada comercialmente em condições naturais. As principais espécies criadas em Mato Grosso do Sul são a tilápia (22,37%), o pintado ou surubim (21,04%), os redondos pacu e patinga (14,45%) e, ainda os híbridos tambacu e tambatinga (7,23%); além da produção de alevinos (peixes juvenis) contabilizada em 26,84%, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Grande parte dos peixes criados no estado são híbridos, principalmente, o pintado amazônico, a patinga e o tambacu. A hibridização é uma prática adotada por vários produtores da região. Porém, existem relatos de produtores na região da Grande Dourados sobre mortandade de híbridos como o pintado-amazônico e, principalmente, a patinga sob frio intenso, quando a temperatura da água atinge 12 °C ou menos”, esclarece o pesquisador Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue. Segundo ele, mesmo a tilápia, considerada uma espécie resistente e rústica, também é susceptível às doenças, especialmente perto de extremos de oscilação de temperatura.
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