Convidada internacional responsabiliza Estado e o Cidadão pelo sucesso da vacinação, durante webinar
Enfatizando tratar da experiência europeia e global, Maria do Céu destacou que valores éticos foram colocados na gaveta na primeira fase da pandemia. “Alocação não é um procedimento puramente técnico, tem também uma dimensão ética intrínseca. A escassez de recursos de saúde, há um ano e meio, desencadeou processos agressivos de angariação dos bens escassos que infringiram a cooperação internacional e a solidariedade social, na obrigatoriedade de partilha de bens vitais, bens públicos. E, com relação a priorização, chamo a atenção para a escolha de critérios tácitos de seleção de pessoas, que violaram a dignidade e a justiça social, no reconhecimento do valor absoluto e incondicional de todas”.
Para a professora, quanto maior o nível de poder, maior é de dever. O que se exige do Estado é a obtenção da quantidade de vacinas necessárias, na máxima qualidade, com mínimo preço e maior celeridade, dentro dos princípios de responsabilidade moral, política e jurídica. Assim, também deve assegurar a organização de um programa e logística de vacinação universal, gratuita e acessível, com prioridades cientificamente fundamentadas. E destacou a implementação de campanhas massivas de informação objetiva, direta e interativa. “Na ausência de uma política célere, surgem oportunidades para contratos duvidosos, corrupção ou planos de vacinação negligentes ou ineptos. É preciso iniciativas dos legisladores para prevenir as fraudes, as penalizem e protejam os mais vulneráveis. É necessária a denúncia por parte de associações profissionais e cívicas e ampla divulgação nos meios de comunicação”, complementou.
A população também tem suas responsabilidades. “O cidadão precisa procurar informação científica e objetiva, este é um princípio de cidadania ativa indispensável; proteger a sua saúde, obedecendo as regras sanitárias em vigor; e contribuir para a proteção da saúde pública. Temos que ter esses dois níveis: a ação do estado e do cidadão. Qualquer um deles que falhar, é a saúde pública que fracassa. Precisamos fazer o que está ao nosso alcance e denunciar aquilo que não está. É assim que eu vejo o quadro ético da alocação e priorização da vacinação”, concluiu.
Mário Aquino Alves lembrou que o Brasil ultrapassou as 526 mil mortes no Brasil, por Covid-19, e destacou o papel crucial da Federação, num contexto de pandemia. “Nossa política é desenhada por União, Estados e Municípios e a esses três níveis são atribuídos funções e deveres. O desarranjo da política vai ter consequências nos processos de vacinação e como os outros cuidados com relação a Covid-19 são implementados. O mínimo de coordenação salva vidas, mas hoje o Estado não exerce as funções primordiais. É importante termos informações mais fidedignas. E, fundamental que as pessoas também entendam o seu papel dentro do programa de imunização e, sobretudo, para que funcionem como grandes controladores sociais desse processo”.
A vice-presidente de Alianças do OSB ressaltou que acredita, de fato, que a participação ativa da população faz a diferença e é fundamental. “Como disse a professora Maria do Céu, ‘cada cidadão é um agente de saúde pública’ e cabe ao Estado estabelecer regras claras e transparentes para que o servidor que está no momento da vacinação possa negar o imunizante, caso seja identificada alguma irregularidade por parte de quem está ali para tomar a dose”, disse Tatiana Bastos.
No encerramento, o diretor técnico do IES lembrou a importância da comunicação maciça em relação a pandemia e a vacinação. “Isso não está sendo feito e gera um mosaico negativo de decisões individuais que atrapalham o processo de imunização como um todo”. Terminou dizendo que, apesar de tudo, o Brasil está perto de atingir a imunidade de rebanho. “100 milhões de pessoas tomaram pelo menos uma dose da vacina e mais de 18 milhões se infectaram. Nos próximos 30 ou 40 dias, devemos atingir entre 70% a 75% de pessoas imunizadas”.
O webinar teve o apoio institucional da FGVethics e Observatório Social do Brasil. Assista no Youtube do Instituto Ética Saúde: http://www.youtube.com/watch?v=Kopy6LpSEH0
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