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O Pessoal do Fundão: Educação e Política no Brasil

(*) Luís Fernando Lopes

Divulgação
É muito comum – embora nem sempre condizente com a realidade – considerar alguns estudantes que sentam no fundo da sala de aula como aqueles que conversam, fazem barulho, dormem, ficam no celular o tempo todo, entre outras atitudes que demonstram desinteresse. Porém, de qualquer maneira, eles devem ter algum motivo para estar em sala de aula, ainda que não seja diretamente o aprendizado daquilo que é proposto. Esse é apenas um fato comum na realidade de muitas escolas, mas nem por isso é possível generalizar a ponto de considerar que seja uma característica de todas as escolas brasileiras.  

Observa-se que questões educacionais estão diretamente relacionadas a questões políticas, e vice-versa, e não é só sobre um eventual desinteresse do pessoal do fundão da sala de aula. Tem o pessoal do “fundão de Brasília”. A maioria dos deputados no Congresso Nacional parece não se importar com a situação do país e continua fazendo a política de sempre, procurando elaborar e aprovar projetos em benefício próprio e dos grupos que os financiam e apoiam. 

Recentemente foi aprovado no Congresso Nacional um aumento no fundo eleitoral de 2 para 5,7 bilhões de reais, embora o contexto atual seja de crise profunda, atraso na vacinação da população, cortes de verbas na saúde, educação e cultura, auxílio emergencial insuficiente e uma CPI apontando fortes indícios de corrupção na gestão da pandemia em nosso país.  

As mortes provocadas pela Covid-19, o sofrimento das famílias, a fome designada pelo eufemismo de insegurança alimentar, a precariedade de boa parte das escolas públicas e dos hospitais parece sequer incomodar a maioria de nossos deputados. Afinal, o que parece realmente importar para eles é garantir meios de manter-se no poder. E essa vontade política eles realizam.  

Acrescentam-se a isso outros absurdos como parlamentares criticarem o “fundão” nas redes sociais, mas votarem a favor do aumento, ou ainda a possibilidade de reduzi-lo para 4 bilhões, como se isso fosse uma grande mudança que ameniza a situação.  

Embora a possibilidade de veto seja praticamente certa, o fato de a maioria dos congressistas serem favoráveis ao governo – e terem aprovado um projeto dessa natureza – demostra o desprezo desse grupo majoritário de parlamentares pelo povo brasileiro. Sobretudo, pela parcela menos abastada que depende mais dos serviços públicos para garantir a própria sobrevivência. Até quando a maioria da população vai aceitar calada tamanhos absurdos? Parece que não é só o povo do fundão da sala de aula que precisa fazer barulho. 
 
(*) Luís Fernando Lopes é doutor em Educação e professor da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER 

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