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Pai de Santos Dumont teve fazenda de café com mais 100 KM de ferrovias e sete locomotivas

Muito se fala do "Pai da Aviação", Alberto Santos Dumont, mas pouco de seu pai, Henrique Dumont, uma das figuras mais ricas do Brasil na segunda metade do século XIX e tido como o primeiro Rei do Café do país.
 
No interior de São Paulo, onde é hoje o município de Dumont, ficava a fazenda de propriedade de Henrique Santos Dumont. Entre 1870 e 1890, era uma das maiores fazendas de café do mundo.
 
Sua fazenda, com 5.500 funcionários, a maioria imigrantes italianos, produziu, no seu auge, 5,7 milhões de pés de café. E para isto foi necessário antes modernizar os sistemas de plantio, de colheita e facilitar o escoamento da produção.
Henrique aproveitou os trilhos da Mogiana, que chegavam até Ribeirão Preto, para construir quatro ramais de ferrovia dentro da própria fazenda. Eram 23 quilômetros de trilhos da fazenda à estação, e outros 96 quilômetros apenas na área interna. Chegou a importar locomotivas da Inglaterra para fazer o serviço. Foram sete no total, que puxavam quarenta vagões no transporte do café.
 
Consta que o jovem Alberto Santos Dumont, com apenas 12 anos de idade, tinha o hábito de pilotar a locomotiva dentro da fazenda e a ter as primeiras noções de mecânica nas oficinas da ferrovia.

No entanto, Henrique sofreu um acidente (queda de cavalo), ficou paralisado parcialmente e resolveu vender a fazenda aos ingleses, que fundaram a Dumont Coffee Company, em 1896. Estes passaram a operar também a ferrovia.
 
Foi desse dinheiro que saiu o sustento dos estudos de Santos Dumont, posteriormente na Europa.

Com as sucessivas crises do café, a maior delas em 1929, os ingleses venderam e lotearam toda a fazenda, inclusive os trilhos da ferrovia. Segundo se conta, a operação foi intermediada pelo Governo do Estado e não teria sido muito lícita.
 
Além disso, segundo alguns, o acordo de venda previa que a linha principal da ferrovia deveria continuar operando para o transporte de passageiros desde Ribeirão, fato que não aconteceu, tendo sido os trilhos retirados logo em seguida.
 
Em poucos anos a fazenda loteada se transformou numa pequena cidade, que se emancipou como município em 1953.

Em 2001 restavam a casa da fazenda e mais algumas casas, espalhadas pela cidade, principalmente em sua parte baixa. A estação de Dumont ficava junto com as casas dos funcionários e do telégrafo, na fazenda Dumont.
 
Este conjunto ficava a cerca de um quarteirão da praça central da cidade, e numa das casas funciona o cartório. A plataforma de embarque e sua cobertura, que ficavam ao longo das casas, já não mais existiam.
 
Sobravam também as memórias de Ângelo Lorenzato, italiano de 93 anos (em 2001), morador da cidade que era aparentemente o último funcionário vivo da ferrovia, tendo sido um de seus maquinistas. Graças a ele, grande parte da história da ferrovia Dumont pôde ser levantada.
 
Histórico
Henrique nasceu no dia 20 de julho de 1832, em Diamantina, Minas Gerais. Perdeu o pai logo cedo e quem cuidou da educação dele foi seu padrinho que, inclusive, o levou de volta à França, país de origem dos seus pais.
Viveu por muito tempo no subúrbio de Paris, na comunidade francesa de Sèvres. Morava na companhia de uma tia, Madame Coeurè. Foi na França que se formou em engenharia na "École Centrale des Arts et Métiers".
Com o título de doutor, voltou ao Brasil. O seu primeiro destino foi o retorno a Minas Gerais, à cidade de Ouro Preto, que na época era a capital da província. Foi lá que conheceu Francisca dos Santos, filha do comendador Paula Santos, um nome forte na região. O comendador era filho do médico e cirurgião Joaquim José dos Santos, que veio para o Brasil com a corte portuguesa em 1808. Os dois se casaram em 1856.

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