Revolução tecnológica pode deixar a burocracia com os dias contados no Brasil
* Por Miklos Grof
Não é novidade para ninguém que a burocracia é um dos maiores empecilhos na vida do brasileiro. Tirar uma ideia empreendedora do papel e colocá-la em prática não é uma tarefa fácil por aqui. O país continua apostando em procedimentos burocráticos para as mais simples tarefas, seja ir até o banco ou abrir uma empresa. Além disso, muitos processos ainda são presenciais, demandam tempo e geram custos desnecessários.
De acordo com o Ibope, sete em cada dez pessoas acham que a burocracia faz o governo gastar mais que o necessário. Não bastasse essa percepção, o excesso da burocracia resulta em corrupção, desestimula os negócios, afeta o dia a dia dos brasileiros e é um dos principais entraves ao crescimento econômico do país.
Para se ter uma ideia, um brasileiro leva cerca de seis semanas para ter seu CNPJ formalizado, gastando em média R$ 5 mil em taxas para registro de uma empresa e de uma marca, além de aproximadamente R$ 40 mil por ano em aluguel e despesas de escritório. Em média, são 208 horas anuais gerenciando todos esses processos. Talvez, tantos entraves no meio do caminho sejam os motivos principais que explicam o fato de, no Brasil, a mortalidade das empresas ser de 66% em cinco anos, segundo o IBGE.
Atualmente, o Brasil ocupa a constrangedora 124ª posição no ranking Ease of Doing Business, do Banco Mundial, que avalia a facilidade de fazer negócios em 191 países. Este cenário desolador, entretanto, pode estar com os dias contados. Existe um grande esforço por parte do setor privado, e até mesmo de alguns segmentos do Estado, de reverter essa situação.
Recentemente, o Governo Federal assinou uma medida provisória que visa melhorar o ambiente de negócios no Brasil e subir em 20 posições a colocação do país no ranking. Editada no fim de março, a medida sugere mudanças legislativas para promover agilidade, segurança jurídica e estimular a competitividade no ambiente de negócios do Brasil, tornando o país mais atraente para investimentos internos e externos.
Do lado da iniciativa privada, a tecnologia guia as conversas. Entre as principais tendências globais, que têm impactado a forma de fazer negócios, estão:
Terceirização + gig economy: um em cada dez adultos trabalha de forma independente e sob demanda;
Desmobilização de empresas: manter um escritório envolve um alto custo fixo para uma empresa. A pandemia potencializou a desmobilização e demanda por serviços como o Escritório Virtual, solução de baixo custo, legal e que elimina a necessidade de alugar um conjunto comercial para formalizar a sede fiscal de uma empresa;
Transformação digital: a digitalização de empresas e de processos é uma tendência cada vez mais presente e necessária, principalmente para PMEs, tão sensíveis aos custos de manutenção da operação e oscilações no mercado.
A tecnologia, portanto, é uma grande aliada da desburocratização brasileira, desafogando prestadores de serviços e PMEs e causando impacto em uma cadeia muito maior, que gera empregos e movimenta o país, além de representar um ganho competitivo para as empresas. Hoje, as PMEs são um pilar extremamente importante para a economia brasileira: elas são responsáveis por mais de 55% dos empregos e 30% do PIB.
Por outro lado, essas pequenas e médias empresas são muito mal atendidas e ainda não acessaram completamente os benefícios da revolução digital, que transformou vários outros aspectos do nosso dia a dia. Já passamos por essa era em diversas áreas, principalmente no setor privado. Muitas juntas comerciais já estavam digitalizando seus processos, e isso acelerou ainda mais devido à pandemia. Além disso, o judiciário também avançou nesse ponto. E, agora, a burocracia passa por essa digitalização, automatizando etapas que antes eram físicas.
Com esse movimento, o processo de emissão de documentação foi acelerado, e todos os envolvidos no processo podem testemunhar a desburocratização. Nos próximos anos, as etapas deverão ser todas digitais, acelerando o ambiente dos negócios, sem o peso da burocracia, que toma tempo e tem muitos custos.
Com a burocracia reduzida e os processos centralizados, será possível resolver problemas e a formalização de um negócio de forma digital, simplificando a comunicação e oferecendo mais transparência aos brasileiros, além de sanar a dor de escritórios de advocacia e contabilidade, que fazem todo esse processo de legalização. A partir disso, o atendimento direto ganha escala e velocidade, pois auxilia milhares de pessoas.
Ao distribuir os processos de legalização de seus negócios com mais rapidez e usar a tecnologia por meio de uma interface digital, o prestador de serviços e as PMEs encontrarão menos burocracia - sem filas, sem papelada e protocolos físicos e sem ter de se deslocar para abrir um CNPJ, por exemplo -, adquirindo redução de custos, ganhando tempo e agilizando a operação e sucesso de sua empresa.
Nos próximos anos, vamos observar uma revolução na formalização de PMEs por meio de novas soluções, como serviços para digitalizar o processo de abrir um negócio, alterar um contrato social e registrar uma marca.
Esperamos que o contexto de fazer negócios no Brasil mude drasticamente, aplicando inovação para tornar simples diversos processos complexos na legalização de empresas, apoiando a retomada das PMEs e sua participação na economia. O pequeno e médio empresário precisa de soluções simplificadas, que resolvam suas dores e centralizem os processos, facilitando a abertura e o desenvolvimento de negócios no país.
* Miklos Grof é CEO da Company Hero, startup que soluciona dores e elimina barreiras na jornada de prestadores de serviços e PMEs, e que ajudou a simplificar a legalização de mais de 6 mil empresas no Brasil em três anos.
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