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Longe dos escritórios, casos de assédio moral crescem 10% em 2021

 Especialista afirma que longe dos assediadores as vítimas se sentem mais seguras para denunciar

O número de processos de assédio moral no ambiente de trabalho cresceu mais de 10% nos primeiros seis meses de 2021. Entre janeiro e junho, segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), foram registradas 27.117 novas ações, enquanto no mesmo período do ano passado foram 24.489.

O setor do comércio lidera a lista de novas ações nas Varas de Trabalho de todo Brasil, com 5.746 denúncias. Serviços gerais, com 3.466 casos; indústria, com 3.221; e comunicações, com 2.047, completam o ranking dos setores que mais registram esse tipo de crime.

Na avaliação do advogado especialista em compliance, André Costa, o trabalho remoto motivou as denúncias. “Longe do agressor e em um ambiente mais saudável, o funcionário tem uma percepção melhor do quão prejudicial é aquela relação e se sente mais seguro em relatar o que está acontecendo nos canais de denúncia”, afirma.

Costa, que é autor do livro Entrevista Forense Corporativa e especialista em detectar assédio moral nas corporações, aponta que a divulgação de inúmeros casos na mídia tem sido um importante instrumento de conscientização. “A pessoa que está sofrendo assédio, ao ver nas redes sociais ou na imprensa os casos divulgados, acaba se identificando com a situação e ganha força para denunciar”, diz.

Se, de um lado, a pandemia encorajou as vítimas a denunciarem, por outro, mudou a forma como a agressão acontece. “O assédio no teletrabalho se manifesta de forma passiva e, muitas vezes, silenciosa. Ao deixar de convocar um colega de trabalho para as reuniões, não responder e-mails, não atender ligações e o excluir de outras atividades a pessoa está cometendo assédio”, explica o advogado.

Home office mudou a dinâmica do assédio
(Foto: Freepik)

O especialista, que atua há mais de 10 anos investigando e tratando casos de assédio moral no ambiente corporativo, diz que esse tipo de conduta se tornou muito comum no último ano. “Desde o início da pandemia, tenho gerenciado muitas crises relacionadas a esse comportamento que gera um enorme desgaste e leva, na maioria dos casos, a vítima a pedir demissão”, pontua.

Os efeitos do assédio moral vão além dos problemas no ambiente de trabalho. “É uma agressão muito cruel e gera sofrimento ao trabalhador. Já atendi casos em que o funcionário tomava remédios para controlar ansiedade e tinha problemas pessoais provocados pelo assédio”, conta.

Denúncia
Para denunciar os agressores, o advogado orienta reunir o maior número possível de provas e procurar os canais oficiais de denúncia da empresa. “A vítima deve documentar, coletar provas, como prints e gravações, reunir testemunhas e reportar nos canais de denúncia da empresa”, aconselha.

Prevenção e combate
Para quebrar o ciclo de abusos as empresas precisam aplicar treinamentos e orientar os funcionários com frequência. “É preciso ter uma consultoria especializada para orientar, treinar, cientificar que certas brincadeiras, o desprezo e a desconsideração dentro de uma estrutura são considerados assédio moral e podem gerar penalizações”, orienta. “Quando houver uma denúncia, a companhia deve tratar de forma imparcial”, completa.

André Costa é entrevistador forense e advogado
especializado em assédio moral

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