Últimas

Museu do Holocausto de Curitiba reabre para visitação em 1º de novembro

Desde o início da pandemia, em março de 2020, trabalhos vinham sendo realizados apenas na modalidade on-line. Extensa programação também marcará o 10º aniversário da instituição

Depois de quase 600 dias, o Museu do Holocausto de Curitiba, no Paraná, reabrirá suas portas para visitação na segunda-feira, 1º de novembro. Com base na melhoria dos indicadores da pandemia do novo coronavírus, a retomada será acompanhada de medidas sanitárias que garantam a segurança do público e dos colaboradores.

10º aniversário

De acordo com o coordenador-geral do Museu, Carlos Reiss, além do esperado retorno dos visitantes, o mês de novembro também marca os 10 anos da instituição, a primeira do País de seu gênero. Fundado em 2011, com vocação educativa e linha pedagógica definida, Carlos explica que a proposta do espaço é construir a memória diariamente, mostrando os acontecimentos da Guerra, com ênfase na Shoá, humanizando a história das vítimas e ressaltando a vida.

Exposição de Marina Amaral

Para cumprir sua missão, o Museu promove abrangente discussão sobre o preconceito e a violência ao longo dos séculos XX e XXI. Justamente por isso, a programação de aniversário trará pela primeira vez ao Brasil a exposição da artista mineira Marina Amaral, com o tema ‘Faces of Auschwitz e Escravidão no Brasil’. Destaque da categoria Artes Plásticas e Literatura da Forbes Under 30, que reconhece os mais brilhantes empreendedores, criadores e game-changers brasileiros abaixo dos 30 anos, Marina utiliza cores para dar vida a fotografias em preto e branco. Seu trabalho permanecerá no local de 04 de novembro de 2021 a 30 de janeiro de 2022.

A mostra terá entrada gratuita (sem necessidade de agendamento prévio), junto ao Paço da Liberdade SESC Paraná, entidade parceira do Museu na ação. De acordo com a técnica de Artes Visuais do Paço, Luana Hauptman Cardoso de Oliveira, responsável pelas exposições, a unidade está animada com o desenvolvimento do projeto. “Discutir esses eventos requer cuidado e sensibilidade, mas o debate é essencial. Às vezes, por questões culturais e, porque não, racistas, o debate sobre o Holocausto acaba se sobressaindo e chocando mais do que as questões sobre a escravidão. No entanto, os dois eventos foram traumáticos, desumanos e ainda têm questões não resolvidas. Colocar o Holocausto e a Escravidão no Brasil lado a lado, visualmente, pode facilitar o olhar e a reflexão. Ao colorir as fotografias do período, Marina consegue deixar aquelas pessoas mais próximas de nós. Talvez aí esteja o verdadeiro significado da exposição. Quando seremos, realmente, todos iguais?”, pontua Luana.

Troca de acervo na exposição permanente

Outra novidade que marca os 10 anos do Museu é a troca de acervo na exposição permanente, a primeira desde 2011. O objetivo é dar um caráter mais pessoal aos documentos e objetos, buscando criar empatia e desenvolver a alteridade, explica o coordenador-geral e curador dos novos objetos, Carlos Reiss. “Quando o Museu do Holocausto foi inaugurado, as peças exibidas foram cedidas por instituições e museus internacionais, além de colecionadores. Desta vez, utilizaremos o imenso acervo construído para exibir objetos e documentos cedidos pelas famílias ou pelos próprios sobreviventes da Shoá”, destaca Carlos. O trabalho teve coordenação da museóloga Fernanda Nunes de Souza.

O lenço de Bunia

Um dos itens que passam a fazer parte da exposição é o lenço utilizado por Bunia Finkiel, que, em junho de 1942, aos 19 anos, escondeu-se ao lado de outras 11 pessoas dentro de um buraco num depósito de cereais. Era o auge de uma perseguição que já durava um ano, desde a invasão nazista à cidade polonesa de Warkowicze, atualmente na Ucrânia, onde dezenas de judeus foram fuzilados. Com medo, a família de Bunia fugiu. Quando entrou no esconderijo, na propriedade de uma família tcheca, a jovem não percebeu que levava em seu bolso um pequeno lenço de tecido. Durante meses, ela só tinha o lenço para enxugar seu suor e as lágrimas. Foram 495 dias escondida no buraco onde mal se podia respirar. Sujo e manchado, o lenço também sobreviveu. Anos depois, a própria Bunia bordou o entorno do lenço, que foi doado pela família ao Museu do Holocausto. Conforme o neto de Bunia, Cássio Chamecki, pequenas lembranças físicas, como o lenço de sua avó, ajudam a lembrar que não somos efêmeros. “Esses pequenos objetos carregam a história na alma”, observa Cássio.

Ao fim Guerra, Bunia casou-se e foi para a Itália reencontrar seus pais, chegando primeiro ao Rio de Janeiro, em 1947, e, na sequência, a Curitiba, com o marido Michael, onde reconstruiu a vida e teve três filhos, quatro netos e seis bisnetos. Ela faleceu em 2018.

Inclusão

Equipamentos audiovisuais, ao lado de cada vitrina, também estarão à disposição dos visitantes -e contarão a história de Bunia e outras tantas em português, inglês, espanhol, hebraico e Libras (ainda em processo de finalização), incentivando a inclusão. A equipe do engenheiro Thiago Couto, que realiza amplo projeto de automação no Museu, é a responsável pela execução e implantação desses equipamentos. As locuções ficaram sob a responsabilidade de: André Rassi (português); Corrine Greenblatt (inglês); Joyce Szlak (hebraico); Alejandro Saikevich (espanhol); e Wagner Silva Machado (Libras).

Dias e horários de funcionamento do Museu

Dias e horários de funcionamento (há necessidade de agendamento de horário pré-determinado no site do Museu: https://www.museudoholocausto.org.br/). A visitação é gratuita:

  • Segunda, terça e quarta: 8h30 às 11h30 e 14h30 às 17h30
  • Sexta: 8h30 às 11h30
  • Domingo: 09h às 12h
  • Quintas e sábados: fechado

Importante: Visitas guiadas, inclusive escolares, seguem suspensas em 2021 – medida que será reavaliada para o ano letivo de 2022. A entrada de grupos maiores de 15 pessoas permanece temporariamente proibida.

Saiba mais

O Paço da Liberdade SESC Paraná visa oferecer experiências significativas aos seus visitantes. Neste sentido, as exposições de arte são pensadas como um lugar de exercício crítico, que busca trazer questões importantes e atuais, tanto para as artes visuais quanto à sociedade como um todo. 

Nenhum comentário