A ascensão das healthtechs no Brasil está transformando a atenção à saúde, como revela evento do Brazil-Florida Council
Neste ano foram firmadas 80 transações no setor
de saúde, correspondendo a um expressivo recorde no mercado de capitais
Nos últimos cinco anos,
o número de empresas de tecnologia em saúde no Brasil explodiu com um aumento
de mais de 140%. Para tratar dessa transformação, o Brazil-Florida Business Council – BFBC-
promoveu ontem (23/11) um painel online com participantes-chave na indústria
digital de saúde no Brasil, que discutiram as tendências de mercado,
oportunidades de investimento e histórias de sucesso. O evento foi organizado
pelo Comitê de Inovação e Tecnologia da BFBC, com o apoio da Duff e Phelps, uma
empresa do grupo Kroll Business.
A presidente do
Conselho Empresarial Brasil-Florida (BFBC), Sueli Bonaparte, destacou que
a iniciativa “Brazil-Florida Innovation Forum”, conceitualizada pela comissão
de inovação e tecnologia da BFBC, vai focar em segmentos mais promissores do
ecossistema de inovação que estão transformando a maneira como vivemos,
divertimos e trabalhamos. Durante a pandemia, o mercado de healthtechs
disparou e elas se tornaram protagonistas na luta contra a COVID-19, por meio
de soluções inovadoras da assistência aos pacientes e especialistas de
algumas delas estão no debate de hoje.”.
Este setor não poderia ser mais relevante por causa da pandemia e do
crescimento das startups”,
analisou.
Lembrando que houve uma
grande restruturação do setor de saúde e no mundo nos últimos três anos, o
moderador Alexandre Pierantoni, diretor-executivo e head de Finanças Corporativas da Duff e Phelps,
do Grupo Kroll Business, destacou que a pandemia antecipou de forma brusca uma
demanda do setor que além de alavancar e acelera muito as transformações
tecnológicas.
Segundo ele no Brasil
houve mais de 80 transações no setor de saúde nos últimos oito meses. “Foi
quebrado um recorde no setor de mercado de capitais e aconteceu até
naturalmente pela liquidez na economia. O governo realocou recursos para
investimentos neste setor econômico real pela atratividade do segmento de
saúde. As healthtechs representam
um risco menor que outros setores pela própria demanda e oportunidades de
crescimento”, justificou ele.
Riscos menores
Pierantoni alegou que
essas novas empresas de tecnologia em saúde representam um risco menor que
outros setores pela própria demanda e oportunidades de crescimento. Por conta
desta nova tendência de expansão surgiram investidores de private equity e venture capital. “Nos
últimos meses deste ano houve mais de R$ 33 bilhões investidos em venture capital, sendo a
maior parte deles paga pelo setor de saúde. As empresas de tecnologia em saúde
arrecadaram muitos investimentos aproveitando o momento”, observou.
De acordo com o
executivo tem sido um momento de muita verticalização das empresas com
discussões em inteligência artificial e big
data no âmbito de hospitais, laboratórios, clínicas de saúde e de
serviços de diagnósticos. “Nos últimos 20 meses ocorreu uma explosão no
crescimento de healthtechs mostrando
novas tecnologias, especialmente em telemedicina, o que permitiu a expansão
geográfica de empresas, com maior verticalização na busca de redução de
custos”, afirmou.
Para o moderador do
painel a complementariedade dos serviços ficou cada vez mais importante por
isso essa segurança em investimentos deve continuar nos próximos anos para a
iniciativa privada.
Próxima onda
Projetando uma forte
mudança no mercado, o empresário Gustavo Araújo, cofundador e CEO da Distrito,
disse que o cenário que está sendo visto hoje no mercado de healthtech talvez já seja a
próxima onda, tal qual aconteceu com as fintechs.
“Atualmente os investimentos em saúde born stage depois das fintechs são até maiores que
os do setor de educação e até mesmo os do varejo”, comparou. “Isso é um
comportamento típico de que o negócio vai ‘explodir’ e se aquece ainda mais
porque há um grande aumento nas transações de investimentos anjo e CID, além de outros
indicativos”.
Por isso o mercado deve
sofrer grandes transformações, inclusive com surgimento de empresas
‘unicórnios’. Araújo constatou que nos últimos nove anos houve movimentos muito
parecidos com os da fintechs.
“O momento de se posicionar é agora, porque se fizer isso daqui a três anos vai
ficar caro, como hoje é no segmento das fintechs”, avaliou.
No momento, sua empresa
já monitora 981 healthtechs no
Brasil e nesse formato na América Latina chegam a 4 mil empresas. O setor é
dominado por três grandes categorias: startups de gestão como prontuário
eletrônico, prescrição eletrônica de medicamentos e exames; a outra fração é
constituída por plataforma de acesso à saúde e por fim estão as empresas de
telemedicina.
Há três anos esse
mercado praticamente não existia. Atualmente, muitos recordes estão sendo
quebrados no setor como a criação de mais de 34 mil startups. Há crescimento na América Latina de
inúmeras startups
para venture capital
e já foram investidos R$ 7 bilhões, ou seja, 10 vezes mais que aquilo que foi
investido cinco anos atrás. O setor visualiza para os próximos quatro anos
aportes no Brasil de mais de R$ 10 bilhões.
Regulamentação
Sobre a regulação do
setor Guilherme Weigert, CEO e cofundador da Conexa Saúde, frisou que os players sempre consideram
primeiro questões como junção e inovação, e focam muito mais na experiência do
usuário e na atração da melhoria do serviço para a sociedade. A regulamentação
vem depois como obrigação. “Ela fica melhor desenhada porque há experiências e
práticas, além de diversidade de dados e pesquisas. Assim se consegue
cruzar muitas informações”, expõe.
O sócio e head da Memed Inteligência
Clínica, Fabio Tabalipa, contou que vivenciou bastante o desenvolvimento deste
mercado e sua explosão, mas salientou a barreira da regulação e objeções de
médicos e usuários, setor que passou quase duas décadas sem regulação em
telemedicina. No entanto, com o surgimento da pandemia houve um avanço. “Com o lockdown surgiram vários
movimentos favoráveis pela necessidade do atendimento à distância, da
telemedicina e da digitalização. Com a covid se avançou décadas em semanas. No
tocante às objeções dos médicos, o que mais se encontrou foi a falta de
entendimentos das tecnologias, porque os profissionais de saúde achavam que
eram muito complexas. Mas no tocante aos usuários elas estão caindo”, analisou.
Já Flávio Takaoka
fundador e presidente do conselho da Takaoka Anesthesia Medical Group e membro
do conselho médico da Alice e Fin-X, fez um relato mencionando aspectos de
marketing, além de sua experiência com treinamento, educação e preparação
médica. Ele mencionou a combinação da tecnologia com a inteligência artificial
para melhor experiência do resultado final.
Assimetrias
Em seu painel, Martin
Nelzow, fundador e CEO da RX PRO, da healthtech
Afya Digital, ressaltou que o mercado de saúde é de US$ 1 trilhão.
“O sistema traz profundas assimetrias, apesar de ter recebido fortes inovações
nesse contexto da pandemia. Em menos de um ano, não havia vacinas, mas quando
desafiado o setor conseguiu trazer soluções. Esse ‘ecossistema’ de inovação tem
muitas possibilidades a partir da missão que vem por trás. Nele as soluções
virão conectadas entre si”, argumentou.
“O Brasil tem cerca de
500 mil médicos, mas efetivamente atualizados com o que existe de novo na
indústria farmacêutica devem existir entre 150 mil e 200 mil profissionais.
Isso tem a ver com o regionalismo brasileiro e com as cidades onde trabalham.
Há, portanto, um grupo que não tem acesso à atualização em soluções de saúde”,
interpretou.
Finalizando, o moderador Alexandre Pierantoni defendeu a necessidade no desenvolvimento e de recursos para esse tipo de treinamento. “Há diferentes perfis de investidores e intenção de participar nesse novo negócio das healthtechs”, concluiu.
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