Aumentam no Brasil os casos de afastamento do trabalho por transtornos mentais e comportamentais
Ansiedade, depressão, burnout, entre outros
problemas, têm levado profissionais a requererem benefício por incapacidade temporária,
o antigo auxílio-doença
O Ministério do Trabalho e Previdência
revela dados preocupantes sobre a saúde mental do trabalhador brasileiro. De
acordo com levantamento realizado pela pasta, nos primeiros sete meses de 2021
foram concedidos 108.263 benefícios por incapacidade temporária (antigo
auxílio-doença) para trabalhadores com transtornos mentais e comportamentais.
“Casos de ansiedade e depressão, especialmente, vêm sendo relatados com muita
frequência nos ambientes corporativos”, diz a executiva Ligia Costa. A
afirmação se ampara em números divulgados na pesquisa ministerial: em um grupo
de 468 doenças, estas duas situações aparecem como as principais causas de
afastamento no trabalho.
Embora o Ministério não divulgue dados
comparativos com o mesmo período, de 2019 para 2020, a concessão de
auxílio-doença para doenças relacionadas a transtornos mentais e
comportamentais aumentou 29%, passando de 224.527 para 289.677 liberações.
Autora de Líder Humano Gera Resultados, livro
recém-lançado pela Editora Gente, a executiva Ligia Costa observa que a
pandemia tem uma contribuição significativa para este aumento de doenças
psicológicas relacionadas ao trabalho. “Especialmente neste período, muitos
profissionais vivenciaram medos, angústias e sentimentos de desconforto”, diz.
Dentro desta realidade, a executiva
destaca a falta de regramento para as tarefas realizadas em home office, o
aumento da demanda de trabalho, a quantidade excessiva de reuniões virtuais, a
adaptação a novos modelos de liderança, as dificuldades para conciliar
atividades laborais e domésticas, o receio do desemprego, as incertezas com o
futuro “e, principalmente, a falta de autocuidado e autorrespeito”.
Conhecido como síndrome do esgotamento
profissional, o burnout também figurou na lista dos transtornos levantados pelo
Ministério do Trabalho e Previdência. Até julho deste ano, foram concedidos 270
benefícios de auxílio-doença. Em 2020 foram 610 casos contra 422 em 2019, um
crescimento de 45%. Mas, de acordo com uma pesquisa consolidada pela Stress
Management Association, 32% dos trabalhadores brasileiros são afetados por
burnout. “O mundo corporativo sabe que burnout é um problema sério de saúde. Um
trabalhador exausto direciona a energia e o foco mental na sobrevivência diária
do presente, e não no desenvolvimento para o futuro”, avalia Ligia.
Diante dos problemas de saúde mental, a
executiva afirma que muitas empresas vêm criando programas de suporte ao
cuidado integral e implantando uma cultura em que os funcionários possam
realizar o seu melhor com menos risco de esgotamento. “Oferecer acolhimento e
ferramentas para o bem-estar e a saúde integral certamente manterá o
engajamento dos profissionais em altos níveis com menos afastamentos e
doenças”, diz.
As lideranças, segundo Ligia, têm papel
determinante no bem-estar dos trabalhadores. “Mais que nunca, é preciso
promover ações para a saúde mental das equipes, criando ambientes seguros
dentro das empresas”, afirma.
Como um compromisso de bem-estar
corporativo, a executiva lista sete pontos importantes a serem exercidos pelos
gestores. “Primeiramente, é preciso criar um espaço de dedicar tempo a ouvir
problemas relacionados ao trabalho e ao desempenho da equipe. Comunicar-se
claramente com os times é um segundo ponto”, diz. Como terceira dica, Ligia
afirma que é necessário criar limites e evitar cargas de trabalho
ingerenciáveis. “Colaboradores que têm muito o que fazer são 2,2 vezes mais
propensos a experimentar burnout sempre ou com muita frequência”, destaca.
A quarta recomendação da executiva é
voltada às lideranças. “O gestor precisa ser um exemplo de equilíbrio pessoal e
profissional e, sempre que possível, promover palestras e conversas com
especialistas sobre saúde mental”, diz. O incentivo ao autodesenvolvimento da
equipe é a quinta dica e também se direciona ao gestor. “Treinamentos de
Inteligência Emocional e meditação Mindfulness contribuem para a redução do
estresse, a ampliação do foco e geração de produtividade sustentável”, observa.
O sexto conselho diz respeito ao trabalho em equipe. “Segundo uma pesquisa
realizada pela Gallup, profissionais que se sentem apoiados pela liderança têm
70% menor probabilidade de sofrer esgotamento”, destaca. Como sétimo ponto,
Ligia recomenda às lideranças trabalhar o presente. “É muito importante que o
profissional seja reconhecido pelo que desenvolve hoje, sem ruminar o passado e
projetar um futuro inexistente.”
Para Ligia Costa, ter saúde mental é
estar bem consigo mesmo. “Em um estado de bem-estar o trabalhador responde aos
desafios e adversidades, atravessa os altos e baixos que o momento impõe e,
sobretudo, aprende e constrói a resiliência”, finaliza.
Mais sobre Ligia Costa
Ligia Costa é formada em Marketing, com pós-graduação em Gestão Organizacional e Relações Públicas pela Universidade de São Paulo (USP). A experiência adquirida em atuações destacadas na LucasArts, de George Lucas, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e cargos executivos em empresas brasileiras e multinacionais, entre elas Brasil Telecom e Yahoo, onde liderou equipes em oito países da América Latina como executiva regional, coloca a profissional à frente da Thank God it’s Today, agência que prepara líderes por meio do desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Também é professora na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ESSP).
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