Planejamento: Saiba como otimizar a logística para datas comemorativas
Rafael Dantas (*)
Apesar da inflação, atualmente em mais de 10% em 12 meses, da falta de espaço no modal marítimo e aumento dos fretes, a expectativa é que a Black Friday traga bons resultados para as companhias que atuam no setor logístico. Durante a crise sanitária, que completa quase dois anos, as pessoas se viram diante da necessidade de realizar compras online. Mesmo quem nunca havia utilizado o e-commerce acabou recorrendo a este mercado – em ampla expansão – para adquirir itens diversos, de alimentação, máscaras e medicamentos a produtos eletroeletrônicos, vestuário, calçados e material de construção.
Segundo dados da Ebit Nielsen, as vendas do e-commerce brasileiro alcançaram R$
87,4 bilhões no ano passado, um crescimento de mais de 40% em relação a 2019.
Em 2021, o e-commerce brasileiro continua batendo recordes. No primeiro
semestre do ano, as vendas no segmento alcançaram R$ 53,4 bilhões, uma
aceleração de 31% em relação ao mesmo período de 2020. Com a ampliação da
vacinação, redução dos casos de mortes decorrentes da Covid-19, fim das
restrições de horário para funcionamento das lojas e retomada gradual do
trabalho presencial, o e-commerce passa por um processo de maturação e deve
continuar crescendo nos próximos anos, mesmo que haja uma desacelerada em
relação aos números de 2020 e 2021.
Com o mercado bem aquecido e a proximidade da Black Friday aguçaram-se alguns
desafios logísticos iniciados em 2020: falta de insumos e de contêineres para
atender a demanda reprimida, o que levou a uma disputa acirrada por espaço nos
navios e consequente aumento dos fretes. Só este ano, fretes da China para o
Brasil, que no ano passado estavam em torno de US$ 2.500, subiram para US$ 12
mil, sendo que em Manaus (AM), por exemplo, que envolve uma rota diferente, o
valor chegou a US$ 20 mil. Além do incremento de vendas, os valores elevados
também foram estimulados por outros episódios como a paralisação no Canal de
Suez, em março, devido ao encalhamento de um porta-contêineres – e ao
fechamento dos três maiores portos da China, em agosto, quando houve um novo
surto de Covid-19.
Todas essas variáveis impactaram no abastecimento e no aumento do transit time que, em
alguns casos, pulou de 30 para 50 dias. Neste cenário, algumas empresas
migraram do modal marítimo para o aéreo, na tentativa de cumprir os
compromissos assumidos com seus clientes, inclusive na Black Friday. Alguns
agentes de cargas tiveram um crescimento, ao longo do ano, de 30% nas operações
aéreas, na tentativa de desafogar o marítimo.
Diante de tantos episódios que marcaram a cadeia logística mundial, o comércio
precisa planejar cada vez mais as compras para as datas-chave e com previsão de
vendas mais intensas, buscar negociar o que for possível e entender as mudanças
que estão em curso. Por outro lado, as empresas do setor tentam se adequar para
manter o fluxo de entregas, mesmo em situações adversas, que exigem dinâmicas
diferenciadas para driblar os gargalos logísticos, especialmente no Brasil.
Além da Black Friday e do Natal, as duas datas comerciais mais importantes do
País, os armadores e agentes de cargas que atuam na Ásia têm pela frente o Ano
Novo Chinês, comemorado em fevereiro. Todas as demandas que envolvam a produção
na China devem ser programadas com certa antecedência, pois a partir de 31 de
janeiro o país asiático celebra o Ano Novo Lunar, que vai até 6 de fevereiro de
2022. Assim como a comemoração natalina, o festival também é um evento que
reúne a família. Durante o feriado prolongado, aeroportos, estações de trem e
rodoviárias da China recebem uma grande quantidade de passageiros, que recebe o
nome de Transporte da Primavera.
Portanto, fazer o planejamento do embarque de mercadorias com origem na China é
a melhor estratégia para as empresas, embora alguns exportadores ainda
enfrentem um delay
e uma complexidade maior na organização da cadeia logística em função do caos
imposto pela pandemia e pelos demais episódios que impactaram o setor no último
ano e meio. Com a antecipação, tantos os armadores, que de forma geral surfaram
na onda do aumento de fretes, quanto os agentes de carga conseguem estudar o
melhor cenário para atender os clientes da forma como esperam: com eficiência e
agilidade para que os clientes deles tenham a melhor experiência.
(*) Rafael Dantas é diretor comercial da Asia Shipping, maior integradora logística da América Latina e a única da região presente no Ranking dos 50 maiores agentes de carga do mundo.
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