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Por que incluir mulheres trans e travesti é importante para o mercado tech?

Estigma, falta de estrutura e medo são as três maiores dificuldades que elas enfrentam ao procurar "cadeiras" no setor de tecnologia

Liana Alice, professora com a sua turma antes da pandemia da Covid-19
Divulgação
 

Investir na diversidade, quando falamos no cenário corporativo, se tornou mais do que essencial. Além de ser uma demanda social, promover a diversidade e a inclusão no mesmo ambiente pode enriquecer a cultura organizacional da empresa. Afinal, uma equipe diversificada consegue ter vários pontos de vista sobre determinado assunto e criar soluções para públicos distintos. 

“Muitas empresas já perceberam que a diversidade traz riquezas. Pessoas diversas, com histórias e CEP’s diversos acrescentam em aspectos, como: criatividade, cultura, desenvolvimento e aprendizagem, do que pessoas de origens e status semelhantes quando se pensa na criação de um produto ou serviço”, comenta Liana Alice, mulher trans, especialista em programação e professora da {reprograma}. 

 

Barreiras enfrentadas no mercado de trabalho

Embora o cenário esteja mudando, a dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal ainda é uma realidade para muitas mulheres, principalmente trans e travestis no Brasil. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), por exemplo, revelou que 90% das mulherres trans e travestis recorrem à prostituição, pelo menos em algum momento da vida. Isso ocorre, principalmente, pela falta de oportunidades e o forte preconceito na sociedade.

Abaixo, Liana destaca as três maiores dificuldades que mulheres trans e travestis enfrentam ao buscar oportunidades na área tech

  • Estigma: é o retrato do preconceito, a forma banalizada como as mulheres trans e travestis são vistas por boa parte da sociedade, com uma visão estereotipada e caricata; 
  • A falta de estruturas: as estruturas são sobre os espaços que são negados para a maioria das travestis e trans, como a escola e universidade; 
  • Medo:  esse sentimento de “medo” vai e vem de ambos os lados, como  a ideia de que as trans vão corromper a família tradicional, ou um ‘ideal de família’ que, honestamente, só existem nos comerciais de margarina. 

“Mulheres trans podem ter receio de estar em um espaço não habitual, sendo hostil de várias formas, com medo de não dar conta dos estudos ou do trabalho, além da própria sobrevivência em muitos momentos. No mercado de trabalho há boas oportunidades, pois no fim das contas as empresas acabam buscando por resultados e com a devida capacitação, isso é possível, não importando mais a cor da pele, gênero ou orientação sexual”, comenta Liana. 

 

Homens se sentem “intimidados” com a presença feminina no setor tech?  

O crescimento das mulheres na área tech é encarado de maneira diversa pelo público masculino, o total de trabalhadoras no setor, pode ultrapassar o de homens nos próximos 10 anos, de acordo com o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). 

Nos últimos anos, iniciativas vêm sendo criadas para garantir o apoio à inclusão e, consequentemente, à diversidade, como a {reprograma}, com o projeto “Todas em Tech”, que tem como objetivo impactar mais de 2 mil mulheres, preferencialmente negras, trans e travestis,  na área de programação front-end e back-end. 

“Na área de TI ainda existe o sentimento de que a mulher é uma invasora desse espaço, majoritariamente, masculino, e é muito importante quando, dentro do grupo, as colegas e os colegas conseguem diminuir esses sentimentos de intimidação e criar conexões boas de parcerias e trabalho”, comenta Liana. 

Muitas vezes, o ‘mundo nerd’ é tido como algo masculino e isso é reforçado desde a infância. É como se houvesse uma barreira invisível que afasta as mulheres desse espaço, além da barreira visível do tanto de misoginia que vemos nos espaços de jogos, séries e filmes “geeks”. 

 

Educação leva alunas trans e travesti para o mercado de trabalho

Parte importante da cultura organizacional é abrir canais para que as pessoas possam ser ouvidas e respeitadas, ter espaços em que sintam-se à vontade para se expressar. A síndrome da "impostora'' é uma realidade, principalmente na área de tecnologia para iniciantes e , sobretudo, as mulheres.

A busca pela diversidade nas empresas precisa dar suporte para que, pessoas excluídas dos espaços sociais possam se desenvolver, e além disso, acreditar nos processos, visto que as coisas podem levar algum tempo. A {reprograma} compreende que esse cenário é possível no futuro, tendo a educação como fator decisivo na vida das pessoas.

“Neste ano, eu tive a felicidade de dar aulas para alunas trans e travestis nas turmas de backend e frontend pela {reprograma}. Uma média de 5 alunas por turma, um grande número e que superou todos anos anteriores da {reprograma} de alunas trans/travestis. 

Algumas das alunas já são professoras, outras conseguiram seus primeiros trabalhos em empresas de TI. Houveram também desistências, muito também pelo tanto de dedicação e disponibilidade que são necessários num bootcamp, porém, o resultado final é a prova de que é possível formar alunas trans e travestis e capacitá-las para o mercado de trabalho. 

 

Sobre a {reprograma}

Fundada em 2016, pela peruana Mariel Reyes Milk e suas sócias Carla de Bona e Fernanda Faria, a startup social paulistana que ensina programação para mulheres, priorizando as negras e/ou trans e travestis, por meio da educação, tem o objetivo diminuir a lacuna de gêneros na área de T.I. A {reprograma} possui parceria com grandes empresas como Accenture, Creditas, Facebook, iFood, entre outras. Mais informações no www.reprograma.com.br

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