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Planos e sonhos para o Centro convivem com a realidade tenebrosa da má conservação

Nunca se planejou tanta coisa boa para o Centro. Nunca se aprovou tanta legislação urbana boa. Nunca tivemos uma conservação urbana tão ruim, com um planejamento urbano tão bom. Que adianta pensar bem a cidade, e não cuidar dela? A omissão da Secretaria de Conservação pode acabar destruindo a reputação do Centro.

Rua da Candelária, em frente à Associação Comercial e a FGV, com seus postes históricos totalmente destruídos. - É desalentador ver até as ruas do Rio que eram bem cuidadas no tempo do pior prefeito da história estarem pior agora do que no tempo dele. / Foto: DIÁRIO DO RIO

As promessas para o Centro têm sido muito boas e promissoras desde o início da gestão Paes. Incríveis até, e é louvável o esforço do supersecretário Washington Fajardo pra que o negócio ande pra frente. A região já deve ganhar mais de 1000 unidades em novos empreendimentos nos próximos anos. Mas parece que a equipe de conservação e zeladoria está tendo dificuldades pra tornar o sonho realidade, e chega mesmo a deixar as coisas piorarem em alguns trechos.

Até mesmo áreas que eram um brinco até mesmo durante a pior prefeitura da história – a do bispo-prefeito – sofrem agora com o abandono e a destruição. Eternamente um oásis de beleza e organização – talvez até pelo prestígio das instituições ali localizadas, Fundação Getúlio Vargas e Associação Comercial do Rio – o trechinho da rua da Candelária entre a rua da Alfândega e a Praça Pio X está um lixo.

Não se sabe o que andam fazendo a Secretária de Conservação Anna Laura Secco ou a equipe da subprefeitura local, mas o que se observa é que simplesmente todos os postes históricos do trecho foram destruídos em pouco mais de um ano, sem contar a falta de manutenção de ruas, lixeiras, calcadas, jardins e monumentos no entorno. Reposição, cuidado, reparo, restauro? Não há.

Nas proximidades, no histórico e quase tricentenário Beco das Cancelas, o descuido, o abandono e a falta de ação das autoridades conseguiu destruir até mesmo um piso de granito bruto que pesa toneladas. O piso está afundando, colocando em risco inclusive a vida das pessoas, com diversos idosos que circulam por ali correndo graves riscos. Os bueiros estão totalmente para fora da calçada, há pelo menos 10 meses. Quererá a secretaria de Conservação soprar velinhas e bater um parabéns?

Iniciativas como a Aliança Centro Rio têm realizado vistorias, constatado problemas, e feito chamados junto aos serviços 1746. O Gabinete de Crise do Centro tem operado – dizem até que há um grupo de whatsapp com todos os seus membros – mas parece que tem faltado serviço de rua, vistorias diárias, ordem para consertar. Mais do que simplesmente falta de orçamento, parece mesmo haver falta de interesse ou de atenção com a zeladoria do Centro da Cidade.

Há quem diga que a subprefeitura do Centro estaria atendendo com grande freqüência as demandas de São Cristóvão, mas nem tanto as do Centro, Santa Teresa e Bairro de Fátima. Não há como ter certeza efetivamente da veracidade desta informação – pois as eleições do ano que vem se aproximam e muita gente às vezes critica ou defende – pensando mais em voto do que na cidade. Mas o burburinho corre por aí.

A verdade é que regiões como o Arco do Teles, o Beco da Cancela e o dos Barbeiros – históricos, culturais, bonitos, simpáticos, a cara do Rio, enfim – não recebem um minuto de atenção de quem devia zelar por eles. Pisos afundados, paralelepípedos soltos, bueiros roubados, imundície generalizada, postes depredados. Visual de terra arrasada, desleixo e descuido que não casa nem um pouco com os discursos incríveis do #revivercentro, da operação interligada, da cidade compacta, e do quadrante de ouro. Há mais de 5 anos foram roubadas as lixeiras que ficavam na entrada do Arco do Teles. O pedido por novas já foi feito, milhares de vezes. Cadê as lixeiras? Não tem problema, a própria rua está servindo de lata de lixo.

O monumento ao General Osório na Praça XV está literalmente diminuindo de tamanho a cada dia. Acho que se depender da Secretária de Conservação em poucos meses só teremos a base dele. E olha que ele foi todo restaurado ao custo de 350 mil reais em 2011. Já se foi a espada; já roubaram as balas de canhão; já arrancaram pedaços dos painéis laterais de bronze; sumiram as grades. E não venham falar que não há policiamento, pois o dia inteiro ficam viaturas da guarda municipal lá. O que há é muito claro: está na cara que a Secretaria de Conservação não está nem aí para nada no Centro. E quanto mais uma coisa é quebrada e negligenciada…..mais ela é destruída. O que não tem manutenção nenhuma, terá um só destino: a destruição.

Revitalização depende de percepção. Um bairro não melhora se não tiver boa reputação. Graças ao desserviço permanente da administração pública, que parece assistir, impassiva, à aniquilação dos monumentos, ao furto de pedras portuguesas jamais repostas, ao esburacamento de calçadas, ao sumiço de paralelepípedos e lixeiras, pode ser que quando os apartamentos de quem acreditar no #revivercentro estiverem prontos, as ruas do Centro vão ser de terra e as calçadas de brita. É preciso que se tenha a percepção de que alguém na prefeitura Centro conserta o que é quebrado e destruído. De que alguém se importa.

Temos o mais difícil: Fajardos, Pedros Duartes, Rogérios Amorins e – mesmo – Eduardos Paes(es)… Muita gente que está pensando muito bem a cidade, cada um do seu jeito, mas sentimos que os planos são incríveis. Mas e gente fazendo o que eles planejam tão bem? Será que temos? O tempo nos dirá se adianta planejar, calcular e ordenar, sem que os outros obedeçam e façam a sua parte pela manutenção da cidade e a defesa de sua reputação.

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