A educação privada e sua importância para o mercado de trabalho
Por Ivan Seidel, especialista em robótica,
edtechs e tecnologia para a educação cofundador e CPO (Chief Product Officer)
da Layers Education
O Brasil é o país do
desemprego. E também é o país das vagas em aberto e da falta de mão de obra.
Enquanto 12,9 milhões de pessoas estão hoje, infelizmente, sem trabalho (o
equivalente a 12,1% da população economicamente ativa, segundo o IBGE) existem
quase 300 mil vagas sem dono somente em TI, segundo a associação que representa
as empresas de Tecnologia da Informação, a Brasscom. O próprio Ministério do
Trabalho estima que cerca de 3 milhões de oportunidades estão vazias por falta
de qualificação. Não são apenas programadores. São técnicos em metalmecânica,
soldadores, engenheiros, pedreiros, práticos (pilotos de barcos rebocadores) ou
mesmo manicures. Falta formação para quase tudo no Brasil.
A dicotomia entre
desemprego nas alturas e vagas de sobra revela um desafio estrutural na
educação brasileira e expõe uma cruel realidade: a de que o ensino público, por
mais que se esforce, não dá conta de suprir a demanda do mercado de trabalho.
Não há dúvidas de que temos universidades públicas de excelência no Brasil. Não
porque formam talentos, mas porque atraem pessoas com ótima formação.
Instituições como UFABC, USP, Unicamp, UFSCar, UFRJ e tantas outras federais
têm sido catalisadoras de algumas das mentes mais brilhantes do país.
O problema está no
ensino básico. Com raras exceções, as crianças saem da escola sem saber a boa e
velha regra de três, confundem o verbo to
be com alguma série do Netflix, não sabem a capital de Minas
Gerais. A culpa não é dos professores, que bravamente transformam um limão em
Sprite gelada. O problema está na ausência de valorização do ensino público.
Educação não pode ser uma política de governo. Precisa ser uma política de
estado. Se cada governo, a cada quatro ou oito anos, mudar toda a estratégia de
ensino da população, o Brasil nunca deixará de ser uma república das bananas.
Um país de 213 milhões
de pessoas que exporta aviões (Embraer), que tem uma das maiores companhias
globais de minério de ferro (Vale), que forma os melhores e mais criativos
profissionais de tecnologia do mundo, que tem um dos agronegócios mais
produtivos e tecnológicos do planeta, não pode achar normal estar na posição 54
do Pisa (índice internacional que mede o nível de educação nos países). No que
se refere à leitura, entre todos os 79 países avaliados, apenas 9% dos jovens
se mostraram capazes de diferenciar fatos de opiniões. Já no Brasil, esse
número é de 2%. Ou seja, além do grande número de analfabetos, a grande maioria
que sabe ler não entende o que lê.
Olhando para o futuro, o Brasil precisa investir na criatividade. Um sistema de ensino falho faz com que as pessoas sejam cada vez menos criativas. Elas acabam sendo treinadas para ser mais operacionais, menos inventivas. Com um modelo de educação que não permite o erro e inibe a autonomia de criação de cada um, isso torna mais complexo a formação de profissionais criativos e dispostos a desenvolver soluções - com erros e acertos - para qualquer tipo de demanda ou problema no futuro.
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