Conheça a história de 14 mulheres que tiveram suas carreiras transformadas ao escolherem atuar em uma startup
Apesar da pouca participação feminina, diversas executivas tem revolucionado o mercado com histórias que vão de empreendedorismo antes do 30 a lideranças após os 40
O Brasil é a bola da vez quando o
assunto é inovação, tecnologia e investimentos em startups, no entanto, sob o
prisma da diversidade e inclusão, há uma grande disparidade entre homens e
mulheres. Segundo o estudo Female Founders Report, conduzido pelo Distrito
Dataminer em parceria com a Endeavor e a B2Mamy, menos de 5% das startups são
fundadas apenas por mulheres, enquanto outros 5% têm um time híbrido de
fundadores. Ou seja, 90% das startups brasileiras são fundadas por homens, o
irônico: startups com mulheres em seu quadro societário tendem a ter resultados
25% melhores.
Uma mulher posicionada em cargos de
liderança ou correlacionados movem toda uma cadeia de valor ao seu redor.
Segundo um estudo da Kauffman Fellows, realizado em 2019, empresas com ao menos
uma fundadora mulher e uma c-level empregam seis vezes mais mulheres que times
compostos por apenas homens fundadores. Além disso, empresas lideradas por
mulheres empregam 2,5 vezes mais mulheres do que empresas lideradas por
homens.
Para Mariana
Bonora, diretora executiva da Associação
Brasileira de Fintechs (ABFintechs), trabalhar para garantir a diversidade
em qualquer ambiente profissional é pragmaticamente uma forma de melhorar
resultados das empresas. Apesar da crescente participação feminina em posições
de liderança em startups e fintechs, ainda há trabalho a ser feito para que a
representatividade nos níveis de liderança seja equivalente à participação das
mulheres na força de trabalho dentro do setor.
“Na Bart Digital, empresa que fundei e
sou CEO, 60% do time é composto por mulheres, mesmo percentual nas posições de
liderança. Percebemos que uma liderança diversa e com mulheres em destaque
naturalmente atrai candidatas para as vagas que divulgamos. Garantir que todos
os colaboradores tenham segurança para expor suas percepções e propor melhorias
aumenta as chances de uma empresa ser eficiente. Essa segurança, por sua vez, é
muito influenciada pela percepção de pertencimento e representatividade que
cada colaborador tem sobre o seu ambiente de trabalho”, avalia Bonora.
Conheça abaixo 14 histórias de mulheres
que tiveram suas carreiras transformadas ao escolherem a inovação como caminho
profissional:
Migrando de uma grande empresa para uma
fintech de investimento
O mercado financeiro é conhecido por ser
majoritariamente masculino, ainda assim, já é possível notar uma movimentação
maior de mulheres no setor, principalmente em cargos de liderança, é o caso de
Denise Abramovici, Head de Marketing na Stake,
plataforma de investimentos no exterior. Sua trajetória envolve desde uma
carreira como atendimento em agências de publicidade, passa por anos
construindo estratégias de comunicação em consultorias de branding e para a
Rede Globo e chega até a um importante cargo dentro de uma fintech.
“São mundos, dinâmicas, processos e
metodologias totalmente diferentes. O que me levou a sair de uma empresa grande
para trabalhar em uma startup foi a vontade de construir coisas novas e ver o
cenário mudando quase que em tempo real. Gosto de comparar uma empresa grande
como um transatlântico, no qual a mudança de rota demora pra ser percebida.
Quando você está numa lancha, virar um pouco o volante já dá pra sentir a
diferença na hora. O meu momento profissional pedia mudanças rápidas”, avalia
Abramovici.
Na Stake, Denise foi a segunda mulher a
ser contratada, em sua chegada recebeu acolhimento da até então, única mulher
da empresa. “Quando mulheres enxergam mulheres dentro das empresas, fica mais
fácil de se projetarem na mesma. Desta forma, precisamos de representatividade,
com mais mulheres ocupando cargos de liderança, mais mulheres serão atraídas.
Atualmente, a grande maioria dos currículos que recebemos são de homens, então
o caminho para contratação de mulheres acaba sendo mais longo, por isso é
necessário se engajar no objetivo não só de atrair mulheres, mas reter e
promover”, pontua.
Assumindo
os riscos em liderar antes dos 30
A Tembici
abriga uma história interessante sobre se arriscar, acreditar e crescer na
carreira. Gabriela Gomes iniciou sua jornada no Itaú Unibanco, por lá dividiu
sete anos entre as áreas de Recursos Humanos e Relações Institucionais. “Foi
uma escola de formação profissional. Ainda que eu me sentisse reconhecida
profissionalmente, tinha o desejo de conhecer um outro tipo de ambiente.
Enxerguei essa oportunidade na Tembici, além do fato de me familiarizar com o
tema micromobilidade”, conta Gabriela.
A gerente de novos negócios ainda
explica que seus riscos eram bastante grandes, mas estava apta. “Se a startup
não crescesse, eu também não cresceria. Foi difícil convencer minha mãe, que
deixar a estabilidade de um dos maiores empregadores do país, era a decisão
certa a se tomar. A Tembici cresceu e eu cresci junto. Entrei aos 28 anos como
coordenadora da área e logo no primeiro ano, a empresa dobrou o salário
inicial. Encarei os desafios que me fizeram amadurecer profissionalmente de uma
maneira muito rápida e alinhada ao que desejei para minha carreira quando fiz a
mudança”, finaliza.
Iniciando uma jornada empreendedora
antes dos 30
Mesmo estabilizadas na profissão, a
engenheira de software Isabela Lauletta, de 35 anos, ex-executiva na Diebold, e
a médica que atuou no SUS e no setor privado, Scarlett D’Ávila, de 30 anos,
sempre tiveram o desejo de empreender. A parceria das duas se deu há dois anos,
ambas com 33 e 28 anos, respectivamente, após voltarem do exterior, onde Isabella
estudou desenvolvimento de software, em Lyon, na França, e Scarlett, saúde
pública, em Londres. A dupla se uniu, porque mesmo com carreiras em ascensão,
estavam inquietas.
Após uma análise de mercado desenvolvida
junto à Venture Builder e, em meio à pandemia e todos os seus desafios, elas
criaram a Onyma, startup de gestão de
saúde ocupacional digital para empresas, cuja aquisição foi anunciada
recentemente pela BenCorp.
“A vontade de digitalizar um setor ainda
muito analógico além de oferecer um atendimento de qualidade aos colaboradores
das empresas nos motivou a criar a startup. Além de investir todo o nosso
tempo, começamos trabalhando gratuitamente; eu atendendo pacientes e a Isabela
com toda a parte de programação e tecnologia. Desde então, conseguimos
alavancar os negócios e hoje atendemos muitas empresas de cultura tech como Madeira Madeira,
Meliuz, Pipefy, Zenvia, Blu, Tiba”, conta a empreendedora.
Pelo desejo de fazer parte de um mercado
cheio de oportunidades de disrupção
Maria Fernanda Napole tem 41 anos e
atualmente exerce a função de Head de Gestão de Produtos na Provu, fintech especializada em meios de
pagamento e crédito pessoal. A profissional sempre atuou em empresas digitais
de grande porte, especialmente do setor de moda e varejo, como Dafiti Group e
Farfetch. Decidiu migrar para o universo de fintechs pela vontade de atuar em
um mercado cheio de oportunidade de disrupção, pela agilidade nos processos do
dia a dia e pelo desejo de fazer parte de um time mais enxuto, com maior
colaboração e proximidade entre os colaboradores dos times.
"A movimentações do Banco Central
para uma maior competitividade do mercado e substituição de modelos arcaicos,
como maior espaço para fintechs, cadastro positivo e open banking, me
influenciou bastante nessa tomada de decisão. E hoje, estar na Provu, em um
ambiente que fomenta a cultura de produtos, a autonomia do time e o respeito
entre todas as áreas me entusiasma muito", comenta Maria Fernanda.
A profissional começou sua carreira no
mercado digital aos 18 anos e, em 2001, fundou o primeiro e-commerce de moda
feminina do Brasil. Depois de quase 10 anos de empreendedorismo, Maria Fernanda
teve a oportunidade de atuar no Vale do Silício e se aprofundar ainda mais no
setor de desenvolvimento de produtos. Toda essa experiência a levou à China,
onde teve a oportunidade de acompanhar a disrupção digital deles por dois anos.
A visão de quem começou cedo na
tecnologia antes dos 18
A história da tecnologia é marcada por
grandes mulheres que servem de inspiração para outras milhares. É o caso da
Adriana Orlandin, 38 anos,
head de produto da Vixtra, que
foi na contramão das estatísticas e começou a sua carreira na área quando ainda
estava no ensino médio. Com passagens pelo Banco Rendimento, Sertrading, entre
outras empresas mais tradicionais, ela conta que a sua formação técnica em
informática ajudou a conquistar o seu primeiro emprego como analista de banco
de dados em uma startup.
Depois de trabalhar como líder de
projetos e scrum master
por mais de dez anos no mesmo lugar, Adriana decidiu sair da empresa à procura
de um trabalho que proporcionasse mais autonomia e resgatasse uma rotina mais
dinâmica no seu dia a dia. Disposta a esse novo desafio, ela entrou na fintech
de comércio exterior há oito meses, sendo a responsável por colocar o protótipo
da empresa no ar e liderar uma equipe em que a maioria são mulheres.
“O olhar feminino faz diferença em
atividades onde a lógica predomina, mas a atenção aos detalhes e a empatia
ganham destaque. A digitalização mais intensa dos últimos anos promoveu a
desmistificação do setor da mesma forma que surgiram profissões mais atraentes
ao público feminino, o que caminha para um futuro mais democrático do segmento.
Entendo que a presença de mulheres em posições estratégicas é um movimento
fundamental no equilíbrio do mercado, seja contribuindo em igualdade,
promovendo o debate por pontos de vista mais diversos ou mesmo fortalecendo a
inclusão em setores ou áreas tipicamente masculinos.”
Empreender por um desejo de impactar
positivamente o mundo
Amanda Pinto atuava como head de
marketing e inovação no Grupo Mantiqueira quando decidiu fundar uma startup
focada no mercado Plant Based. Durante sua carreira dentro do setor, sempre se
questionava sobre as melhores formas de se produzir comida. E em 2017, fez sua
primeira viagem exploratória para o Vale do Silício, onde visitou diversas
startups voltadas ao mercado Plant Based.
A N.OVO foi lançada
em 2019, ainda como um produto dentro da Mantiqueira, sendo pioneira no mercado
brasileiro a ofertar um produto plant based. E em torno de seis meses, Amanda
tomou a decisão de dar início ao processo de Spin Off da marca. “Percebi que
precisava de um olhar totalmente focado para esse mercado de inovação e
tecnologia se eu quisesse que esse projeto seguisse adiante. Apartando as
empresas, ganhamos agilidade para tomada de decisões e foco em inovação e
tecnologia. E isso foi fundamental para nosso crescimento desde então”, explica
Amanda. “Sempre busquei pensar fora da caixa, fazer diferente, trazer
oportunidades para outras pessoas. Acredito que essa visão inovadora e criativa
que sempre tive tem feito toda a diferença neste momento”, continua.
A empresa nasceu com a missão de
impactar positivamente o planeta e a vida das pessoas, oferecendo alimentos
saudáveis e sustentáveis. Além disso, trazer impacto na carreira profissional
das mulheres também está no DNA da N.OVO. Hoje, em um cargo de liderança,
Amanda busca empoderar outras mulheres e dar oportunidades a elas, com o
propósito de liderança feminina na startup, que possui na maior parte do seu
time colaboradoras mulheres.
Assumindo a posição de líder e mãe ao
mesmo tempo
Head de
Marketing na Sinqia, líder em
softwares e inovação para o setor financeiro no Brasil, Renata Marini tem
histórico extenso em empresas de tecnologia e entende bem como é atuar em um
setor majoritariamente masculino. Formada em Administração de Empresas,
ingressou como estagiária na IBM e por lá permaneceu por 14 anos. Renata alçou
grandes voos dentro da empresa, chegando à posição de Gerente de Marketing
LATAM. Após sua longa passagem por uma empresa de TI, a Head de Marketing
decidiu vivenciar outros desafios. Ainda dentro do Marketing, migrou para o
segmento de Turismo, mas a pandemia fez com que Renata mudasse seus planos “O
setor sofreu muito por conta da Covid-19, e optei por retornar para o TI,
segmento no qual tenho expertise e uma grande paixão”, comenta.
Na Sinqia desde 2020, Renata celebra por
fazer parte de uma grande empresa nacional e com estratégia acelerada de
crescimento. “É fascinante fazer parte de uma companhia que está na contramão
do mercado - contratando, crescendo e se consolidando como líder.” A Head ainda
reforça que trabalhar em regime home office fez toda a diferença, pois
engravidou logo após sua contratação. Hoje, é mãe do Fernando, também conhecido
como Fefo, de 9 meses.
Poder conciliar a maternidade com a
função de liderança em uma empresa de Tecnologia traz desafios diários na vida
de Renata. Segundo ela, as mulheres sempre carregam grandes adversidades ao
longo da vida profissional, pois precisam mostrar o tempo todo o quanto são
capazes. “As barreiras, quando impostas dentro da naturalização do machismo,
contribuem para inibir o lugar de protagonista que a mulher deve ocupar em suas
áreas de atuação, com as competências cabíveis. As mulheres ainda carregam a
responsabilidade da dupla jornada, ou seja, são profissionais e cuidam da casa
e dos filhos. Buscando também equilibrar sua vida pessoal e profissional desde
cedo, as líderes compreendem a necessidade de flexibilização para resolver as
questões do dia a dia, o que dá a elas vantagem na hora de enxergar respostas
alternativas, modificar, contornar ou romper padrões e processos rígidos”,
analisa.
Propósito de impactar vidas motivou
migração de ONG para uma plataforma de cuidados financeiros
Publicitária de formação e passando por
agências e grandes empresas ao longo de sua carreira, Christianne Poppi, Head
de Organização Financeira e Gerente de Produtos da N26 Brasil, sempre sentiu falta de um
propósito maior. Não à toa migrou para ONGs como o Instituto Ayrton Senna, onde
atuou por mais de sete anos. A partir disso, viu uma nova oportunidade de
crescer e se desenvolver na área de inovação e tecnologia: mudou-se para São
Francisco, Califórnia. Foi lá que Poppi se aproximou do ecossistema de startups
e voltou para o Brasil, anos depois, para liderar o que é hoje o maior programa
de empoderamento feminino em tecnologia do país (Technovation).
“A partir dessa experiência passei a
entender a urgência de falarmos sobre protagonismo feminino e o incentivo à
mulheres em tecnologia. Foi um grande momento na minha carreira porque, além de
passar por grandes experiências como ministrar workshops para professores em
Stanford, pude ver na prática o impacto de desenvolver habilidades além das
técnicas em meninas desde cedo, como liderança e autoconfiança. Demos novas
perspectivas de carreira e de vida para milhares de jovens porque fortalecer e
inspirar mulheres antes de iniciarem no mercado de trabalho é fundamental para
lutarmos contra a falta de diversidade no setor", avalia Poppi.
Seu atual desafio foi sair de uma grande
multinacional e migrar para uma startup com um objetivo: construir um produto
do zero, que marca a chegada da N26 no Brasil com um app personalizado para a
necessidade dos brasileiros. “Sentia falta de agilidade, de construir, testar
rápido, errar e iterar. Vi na N26 um alinhamento muito grande com o meu
propósito, de resolver dores reais e de mudar a vida das pessoas. Foi um
movimento muito grande de carreira e ter uma rede de apoio feminina foi o
diferencial em todo esse processo. Afinal, é comum que mulheres em cargos de
liderança e estratégicos precisem se provar a todo momento”, pontua.
Presença feminina em meio aos números e
tabelas
Sócia e diretora comercial da fintech CashU, Natalia Alexandria começou a trabalhar
desde os 14 anos. Em 2003, a executiva ingressou no mercado financeiro, onde
trabalhou por 10 anos, com passagens em renomados bancos, atuando até em um
grupo financeiro de Toronto e algumas fintechs, e desde então a sua jornada
segue neste segmento, conhecido pela forte presença masculina.
“Fiz duas migrações na minha vida. A
primeira quando o mercado financeiro tradicional estava passando por uma crise,
e o ecossistema de inovação no Brasil estava em crescimento. Aproveitei esse
momento para me recolocar profissionalmente e agregar meus conhecimentos ao
mercado financeiro e o que adquiri na área comercial em Fintech. A segunda
migração aconteceu mais recentemente, quando fiz a escolha de voltar para o
mercado tradicional, porém após 10 meses a falta de dinamismo, de
representatividade, de agilidade, e de inovação me fizeram retornar para o
ecossistema de inovação integrando ao time da CashU. Toda a minha trajetória
foi inspirada na minha mãe que sempre foi uma sinônimo de empoderamento
feminino para mim e fui atrás em tudo aquilo que converse com a minha
história, com valores que acredito. Hoje eu posso dizer que estou onde eu
sempre quis pelos meus méritos e não pelo meu gênero”, pontua Natalia.
Ocupando espaços na tecnologia
A área de tecnologia é uma das áreas
onde mulheres têm conquistado posições antes dominadas por homens. Apesar dos
avanços, qualquer ambiente em que uma mulher se veja como minoria exige um
esforço maior para entender seu lugar e ocupar um espaço. Thais Fischberg,
Vice-Presidente de Produto da empresa de tecnologia de pagamentos, Adyen, trilhou um caminho desafiador
até chegar à posição de alta liderança em uma fintech. "Ao longo dos
meus anos nessa indústria eu passei por momentos de extrema insegurança e
precisei entender qual seria a melhor forma de atuação, que me garantiria a
segurança para dar o meu melhor como profissional", disse. A executiva faz
parte do quadro de 50% da alta liderança da companhia no Brasil composta por
mulheres. Para Thais, já não existe dúvida: empresas com times diversos não são
apenas um ato social, mas têm melhores resultados. "É impossível falar de
inovação com times que pensam da mesma forma."
Segundo Thais, ainda existem imagens
pré-concebidas de que mulheres performam melhor em funções de Marketing ou, no
caso de Produtos, sempre próximas ao Design, e mais distante de funções ligadas
a finanças e economia. Em sua trajetória profissional, Thais escolheu posições
que acreditava que trariam o maior impacto e aprendizado possível.
"Tecnologia sempre foi um hobbie, e unir a paixão por tech com a vontade
de transformar me levou ao que me define hoje, uma profissional de
transformação digital, que atua no mercado de pagamentos", disse a
executiva. Ela passou por pequenas agências de design com foco digital,
consultorias de médio porte, gigantes como Movile, Mastercard, Santander e
provedores de pagamento que ainda estavam construindo sua presença no Brasil e
América Latina.
A
idade define uma mulher?
“Quando iniciei a carreira na Microsoft, eu não falava a
minha idade, por ser muito jovem e assumir cargos de liderança muito nova.
Quando saí, após quase 20 anos, eu também não podia falar, pois já era muito
velha para o mercado, então decidi que a idade não me define”, afirma Cassia
Messias, que tem 52 anos e hoje é Chief
Operating Officer da startup de Saúde Mental Zenklub, além de ser conselheira,
investidora e mentora. Segundo ela, quando se fala em liderança feminina, é
preciso considerar a linha do tempo e as diferenças. “Aos 30 anos, enquanto o
homem começa a voar na carreira, a mulher tem filhos. Aos 40, ele segue
crescendo e a mulher criando os filhos. Para mim foi sacrificante viver com
tudo, tenho muitas cicatrizes. Hoje, com meus dois filhos criados, tenho muito
mais disponibilidade para trabalhar como líder, autoconhecimento, resistência
ao estresse, mas agora o mercado acha que eu sou velha”.
Com mais de 20 anos de mercado, começou
na área de tecnologia muito jovem e aos 16 anos entrou na PUC-SP para estudar
ciência da computação - um ambiente majoritariamente masculino. Conseguiu seu
primeiro estágio na HP e passou pela área técnica, mas se encontrou no contato
com o cliente. A partir de uma mentoria, atuou na parte de vendas, análise de
suporte, marketing e iniciou seu MBA em marketing pela ESPM. “Percebi que a
minha veia era tecnologia e transformação, só que aplicada ao negócio. Eu
queria ser uma executiva de contas e fazer a diferença”.
Em busca disso, a C-level ingressou na Microsoft, onde ficou
durante 18 anos passando por seis cargos diferentes. “Era a grande inovadora do
mercado, tinha menos de 50 colaboradores e era uma startup no Brasil, só que
não se usava esse termo ainda. Eu já entendia que era um trabalho de propósito,
mas não falavámos dessa forma também”. Se mudou para o E.U.A por conta do
trabalho, levou filhos, marido e ficou no país por três anos. De volta ao
Brasil, estava em busca de trabalhar com inovação e ainda mais propósito.
Passou por empresas como Catho, Socialbakers,
empreendeu com consultoria, com a Stilingue, entrou como Conselheira no
Capitalismo Consciente, ingressou em fundos de investimentos e chegou no
Zenklub, onde lidera Business e
People para unir
propósito com negócio. “Ir para uma startup é sobre fazer a diferença. Quem
gosta da adrenalina de ver o business
crescer, assim como eu, não gosta de ficar em ambientes muito
grandes, pois são tantos níveis que você perde o protagonismo. Eu não estou
preocupada com o número que eu tenho na startup, pois eu sei que eu tenho
protagonismo no negócio”, finaliza.
Liderando um unicórnio
Marcela Rezende tem mais de 17 anos de
experiência no mercado de Marketing e Branding com marcas como L'Oréal, Maybelline,
Lancôme, MAC Cosmetics, Bacardi, Grey Goose, Osklen e Havaianas. Formada em
Marketing pela ESPM e pós-graduada em Harvard sobre Liderança, Administração e
Gestão Empresarial, hoje é VP de Marketing do unicórnio MadeiraMadeira.
A executiva
passou 10 anos trabalhando fora do Brasil, passando por Paris, Cidade do México
e Nova York,
enquanto equilibrava a vida profissional e a pessoal com o marido que
permaneceu no Brasil. Quando Marcela voltou para o país em 2019, estava grávida
de três meses e, fora da curva do mercado, que costuma fechar portas para
grávidas e mães, recebeu uma proposta da Alpargatas e foi repatriada somente
para exercer o cargo. “A primeira coisa que eu falei foi: ‘eu estou
grávida’, eles alegaram que conheciam minha trajetória e não era um problema.
Pra mim foi marcante”.
De volta ao país, Marcela também recebeu um convite para fazer parte da startup de mentoria MeetHub e também passou a investir e sentar em boards. “Durante a minha licença maternidade comecei a estudar sobre o ecossistema de inovação no Brasil, a fazer conexões e entender os movimentos que ocorreram no país enquanto estava fora”. Foi então que um headhunter a buscou para uma posição na MadeiraMadeira e após conhecer os fundadores e o propósito da empresa, ela decidiu fazer a migração de 17 anos atuando em multinacionais para um unicórnio. “Pra mim, foi uma oportunidade de trabalhar em uma empresa que nasceu no digital, algo totalmente diferente do que eu tinha feito até agora. Depois que virei mãe, comecei a priorizar ainda mais o meu tempo e direcioná-lo para projetos com propósitos diferentes, que foi o que eu encontrei na MadeiraMadeira”, finaliza.
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