Bem-vindo à época do Supply Pain
*Por Marcos Andrade
Se você é daqueles que
acompanha as notícias, mesmo que por cima, deve ter ouvido falar da crise da
cadeia de suprimentos que assola o mundo desde o evento da pandemia. Começou
com a falta de contêineres, os fretes dispararam e insumos, tais como os
famosos chips, minguaram, prejudicando a produção de vários produtos, como
carros por exemplo.
Os problemas, mais que
afetarem um setor, afetam todos os negócios e mesmo os consumidores. Além da
escassez, o cenário deflagrou uma inflação de alcance mundial mesmo em países
com histórico de estabilidade e moedas fortes. De fato, quando o custo de
transporte sobe até 20 vezes, não há como não impactar nos preços de venda,
além disso você escolhe o que vai transportar de forma a rentabilizar a
oportunidade e muitos produtos ficam de fora desta escolha em detrimento aos
que fornecem melhor margem ou tem mais demanda.
Tampouco importa o seu
porte, de grandes a pequenos, todos sofreram o impacto. Grandes fabricas
fecharam as portas por falta de insumos, as lojas viram suas prateleiras vazias
e o consumidor não acha mais o produto que deseja, ou se encontra, os preços
estão muito diferentes! Mesmo os próprios países repensam sua dependência de
fornecedores estrangeiros e existe uma tendência para contrair a globalização e
produzir dentro ou próximo, o Reshoring. Estados Unidos e Europa
lançaram pacotes Bilionários de reforço à sua infraestrutura e até uma fábrica
de chips estimada em Cinquenta Bilhões de dólares. Passamos do Just in Time
ao Just in Case.
O varejo não ia ficar
imune. Nos Estados Unidos, por exemplo, depois de anos do Efeito Walmart, em
que a inflação do país foi afetada para baixo em função dos produtos baratos
importados pela Walmart de seus fornecedores na China (e que mataram milhares
de indústrias americanas), agora sofrem os efeitos ao contrário, um disparo
inflacionário, além da falta de produtos.
Na última NRF – National
Retail Federation, em janeiro, havia uma sala dedicada aos assuntos de
logística pelo impacto sofrido pelos varejistas americanos. Pude participar de algumas
das mais importantes discussões e infelizmente o prognostico não era bom, e
ficou pior depois da guerra da Ucrânia. Já em janeiro, os EUA sofriam os
reflexos dos fretes e infraestrutura deficiente, se lá estava assim, imagina
aqui... Navios a espera de vagas, falta de transporte, quando os contêineres
eram desembarcados e para o consumidor, preços bem mais altos e falta de
produtos se tornaram realidade habitual. A logística entrou em parafuso. A
complexidade aumentou tanto que já se criou a figura do Chief Supply Officer,
um executivo C-level para garantir o suprimento das empresas, sejam indústrias
ou varejistas.
E na prática, o que
pode ser feito para minimizar os danos em sua empresa?
Segundo os
especialistas na NRF, em primeiro lugar uma mudança de mindset, adotando
gerenciamento de riscos. Como assim? Em forma simples, entenda que os prazos se
alongaram, assim um pedido que você, ou seu fornecedor, faz hoje, está levando
6 meses para chegar no seu CD. Isso implica que você está projetando o cenário
futuro, adivinhando (ou usando ferramentas) a demanda de cada produto para
daqui 6 meses ou mais.
Dificilmente você
acertará, então, deve escolher em que produtos vai apostar, e se vai preferir
que falte ou correr o risco de que sobre, e suas consequências sobre seu fluxo
de caixa. Isso implica também adotar o viés financeiro da operação que muitos
operadores ainda não têm, e conhecimento de seu público.
Uma alternativa
proposta também, é, caso você seja um importador regular, de estender prazos
com seu armador e assim negociar valores menores agora, garantindo um
relacionamento mais longo com ele (já que em algum momento o mercado vira a
favor do embarcador...)
A busca por
fornecedores mais próximos, redesenhando as cadeias de fornecimento do mundo
todo e criando menor dependência de fornecedores da Asia é também uma medida
que já está sendo adotada rapidamente. Lembrando que a oferta será menor que a
procura, de maneira que os primeiros “beberão água limpa..”
A grande lição é que
algo que parecia normal e garantido, agora requer reflexão e estratégia, pois
pode impactar significativamente os resultados de sua empresa, com paralisação
de produção ou quebra nas vendas, e exige executivos de primeiro escalão e
visão estratégica para definir os caminhos da organização, o que parece caro
pode ser barato no fim das contas. Bem-vindo a nova era do Supply Pain,
mais que passageira, uma nova forma de encarar os negócios.
Marcos Andrade – é presidente da ABIESV (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo), Diretor Titular Adjunto – DEREX Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP, 1º diretor secretario da CIESP e Diretor da Expor Manequins.
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